São Paulo, sexta, 20 de junho de 1997.



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'Ah! Eu tô maluco!', comemora advogado

da Sucursal do Rio

O advogado Maurício Neville comemorou a absolvição do cliente Nélson Oliveira dos Santos Cunha com uma exclamação típica de torcedores de futebol, platéias de shows populares e frequentadores de bailes de música funk.
"Ah! Eu tô maluco!", gritou Neville na saída do plenário, ao ser questionado como estava se sentindo com o sucesso da defesa.
Neville, 41, não atuou no primeiro julgamento de Cunha. Ele foi contratado após conseguir diminuir 220 anos a pena de outro acusado pela chacina, Marcos Vinícius Borges Emmanuel.
O advogado manteve a tese defendida pela defesa no primeiro júri, mas proibiu o cliente de responder ao interrogatório do juiz José Geraldo Antônio. "Ele podia falar alguma besteira", afirmou.
Neville usou as duas horas da defesa para convencer os jurados da inocência de Cunha. Teve ainda mais 30 minutos de tréplica, em resposta à réplica da promotoria.
Espalhafatoso, o advogado deu pulos no plenário e gritou para os jurados que não havia "santinhos" entre os chacinados.
"Quem nunca foi assaltado por meninos de rua? Eles usam cacos de vidro para assaltar. Não eram santinhos", afirmou Neville.
Formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Neville, em oito anos de exercício profissional, se especializou em júris populares.
"Costumo dizer que o direito pertence ao cliente. A diferença é a garra com que ele é defendido", disse Neville à Folha.
Segundo o advogado, Cunha já faz planos para quando deixar a prisão. Se o Tribunal de Justiça mantiver a pena de 18 anos, ele terá direito a regime semi-aberto (dorme na cadeia) dentro de dois anos.
"Ele percorrerá presídios pregando a palavra de Deus", afirmou Neville, carioca criado em Ipanema (zona sul), onde mora com a mulher e três filhos.
A fim de se preparar para o julgamento, Neville fechou seu escritório no centro do Rio, abandonou o futevôlei e foi para Aracaju, onde tem "umas terrinhas".
"Fiquei 20 dias trancado, estudando", disse. "Não mudei a história. Cunha assumiu que estava lá, que atirou no Wagner, mas não saiu de casa para matar. Ele foi enganado pelo Sexta-Feira 13." (ST)


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