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MARIA INÊS DOLCI
Vôo cego
A Varig, portanto, é muito mais para o Brasil do que uma companhia aérea. Foi um orgulho para os brasileiros
A
CRISE da Varig, certamente, já
recebeu todo o tipo de análise, crítica, manifesto de apoio
etc. Não é para menos. Trata-se de
uma companhia aérea que, em maio
último, completou 79 anos. Que
criou um padrão internacional de
qualidade em termos de segurança,
serviços e respeitabilidade para passageiros brasileiros, em rotas domésticas e internacionais. E para turistas e executivos estrangeiros, em
direção ao Brasil.
A Varig, portanto, é muito mais
para o Brasil do que uma companhia
aérea. Foi, durante muito tempo, até
recentemente, digamos, um orgulho
para os brasileiros, como outros que
reduzem os efeitos de nossa baixa
auto-estima como nação -Embraer
e Petrobras, principalmente.
Os maiores e mais ricos países do
mundo não costumam ter diversas
companhias aéreas fortes, com linhas internacionais. O motivo é
simples: é muito caro decolar um
avião, pelo que representa em tecnologia, aeronaves caríssimas, combustível, equipe de bordo, técnicos
da retaguarda, lojas, hangares etc.
Após o 11 de setembro de 2001,
quando as duas torres gêmeas do
World Trade Center foram destruídas por ataques terroristas que utilizaram aviões, fazer decolar uma aeronave se tornou mais complexo,
mais caro, mais difícil.
Empresas de aviação comercial de
países importantes não costumam
sofrer com súbitas e abruptas oscilações cambiais, como ocorreu no
Brasil tantas vezes -uma das mais
nocivas ocorreu em janeiro de 1999,
no governo de Fernando Henrique
Cardoso. Nem com congelamentos
parciais ou totais de preços, como já
sofremos tantas vezes por aqui.
Quem lê a cronologia dessa crise
percebe que, em 1986, o Plano Cruzado congelou as tarifas aéreas, embora com custos crescentes. Tanto
que, em maio último, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão da 1ª Turma do STJ, que condenou o governo a indenizar a Varig
em R$ 3 bilhões. Essa indenização
foi pedida em função dos efeitos de
controle tarifário entre 1985 e 2002.
Ora, se a Varig deve quase R$ 8 bilhões (valor estimado), parte disso
ao governo, o mínimo que se poderia
esperar, caso houvesse algum interesse em preservar a Varig, seria um
encontro de contas. Fica claro, portanto, que, apesar das afirmações
oficiais do governo federal de que
tentaria ajudar a Varig, isso não é
verdade.
Seja qual for a saída para essa situação, o Brasil já perdeu. Os danos à
reputação da Varig são imensos,
mundialmente, com a divulgação da
triste novela sobre a agonia da companhia aérea. Perdemos nós, passageiros brasileiros, pois a Varig sempre foi um padrão de segurança que,
sem dúvida, balizava o mercado aéreo nacional. Além dos que tiveram
vôos cancelados e os que acumulam
milhagem com destino incerto.
Perderam os empregados da Varig, tanto os já desempregados,
quanto aqueles que sofrem, dia e
noite, com o peso desse drama, e
ameaça do desemprego. E perde o
país, pois há um cheiro de pouco caso, de tanto faz, de parte de quem comanda os destinos do Brasil.
Uma sucessão de erros inflou essa
crise mais rapidamente do que as
próprias dificuldades financeiras.
Erros de todos os envolvidos, não há
dúvida. É triste ver como isso acontece no Brasil, com uma empresa
desse porte, dessa tradição, dessa
importância.
NA INTERNET
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
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