|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Exército alertou sobre militar ligado a tráfico
Segundo relatório feito há 4 meses, escutas mostram traficantes dizendo que militares queriam propina para não atrapalhá-los
Texto considerou "importante que comandantes (...) atentem para possíveis desvios cometidos pelos militares durante a ocupação"
DA SUCURSAL DO RIO
Relatório do serviço reservado do Exército, elaborado há
quatro meses, informou que
traficantes do morro da Providência foram flagrados em escutas telefônicas dizendo que
militares estavam pedindo "arrego" (propina) para não atrapalhar o tráfico no local.
Na conversa, os criminosos
falavam com o chefe do morro,
identificado como Fábio Passos de Oliveira, o "Bafinha",
que estaria se escondendo em
favelas do Comando Vermelho,
facção que chefia a venda de
drogas no local. Naquele momento, segundo o Exército, ele
estava na Mangueira.
"Traficantes do morro da
Providência que ainda se encontram na referida favela informaram a (...) "Bafinha", chefe
do tráfico local (...), que militares do Exército que participam
da ocupação da comunidade estariam pedindo dinheiro "arrego" (sic) para que a venda de
drogas pudesse continuar na
comunidade", diz o relatório,
relativo ao período de outubro
de 2007 a janeiro deste ano. O
jornal "Extra" publicou parte
do documento em abril.
O documento relativiza a veracidade do fato. "Essa informação, mesmo tendo sido captada através [sic] de escutas,
pode demonstrar apenas uma
"valorização" dos traficantes
que permaneceram na comunidade para com seu "chefe" que
se encontra fora."
O responsável pela avaliação,
porém, considera "importante
que os comandantes em todos
os níveis atentem para possíveis desvios cometidos pelos
militares durante a ocupação".
Para atuar no morro, o Exército considerou necessário fazer uma avaliação do local e tomar determinados "pontos fortes" na comunidade, locais com
localização estratégica.
Revistas
Depois de duas semanas de
ocupação pelo Exército e da suposta inoperância da Polícia
Militar, segundo relatório,
diante da continuidade evidente do tráfico, o Exército considerou necessário ocupar sete
bocas-de-fumo e realizar "revistas inopinadas em pessoas e
carros com o objetivo de manter sob pressão o tráfico de drogas local, evitando assim o crescimento ou o retorno dele para
a comunidade".
Esses procedimentos são atividades de GLO (Garantia da
Lei e da Ordem) e não faziam
parte das atividades previstas
pelo Exército na operação Cimento Social. Esse tipo de ação,
não previsto -senão em operações de GLO-, embasou a Justiça Federal para ordenar a retirada das tropas do morro.
Outro episódio poderia reforçar o argumento da juíza Regina Coeli Medeiros de Carvalho para retirar o Exército do
morro -o suposto "despreparo" e "inabilidade" para a tarefa
de policiamento.
Conforme o relatório, nos
três primeiros dias de ocupação
da Providência, militares deram dois disparos acidentais no
interior do alojamento, em 14 e
15 de dezembro, na Companhia
de Comando do Comando Militar do Leste, no Santo Cristo.
Não houve vítimas.
Ainda de acordo com o documento, um ex-militar, desertor
do Exército, identificado como
cabo Bruno Silva de Jesus, virou armeiro do tráfico. Ele
atuava no museu Histórico do
Exército, no Forte de Copacabana, antes de se tornar o responsável pelo conserto de armas dos traficantes.
Texto Anterior: Mulher diz ter gasto R$ 8.500 para consertar "estrago" que Cimento Social fez em casa Próximo Texto: Oficiais reagem ao crime dos 11 militares com raiva e desolação Índice
|