São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Oficiais reagem ao crime dos 11 militares com raiva e desolação

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Oficiais do Exército de diferentes patentes reagiram com duas sensações à notícia de que 11 militares entregaram três rapazes a traficantes no Rio e que os três foram mortos: ficaram desolados pelo estrago à imagem da instituição e com raiva dos responsáveis pelo caso.
Segundo o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, em conversa com a Folha, "a reação foi a pior possível". Outros oficiais ouvidos pela Folha se diziam "arrasados".
Alguns foram pródigos em adjetivos, outros até em palavrões, para se referir ao tenente Vinícius Ghidetti, 25, que, segundo afirmou em depoimento, descumpriu a ordem para soltar os três rapazes.
O que os oficiais mais lamentam é que, depois de 20 anos de regime militar, o Exército passou outros 20 para profissionalizar seus quadros e sofisticar a relação com a opinião pública.
Todo esse esforço foi justamente para tentar isolar no tempo e numa geração específica as denúncias de que as Forças Armadas foram responsáveis por tortura, mortes e desaparecimentos de militantes esquerdistas nos anos 1960 e 1970, na maioria jovens.
Para um general de quatro estrelas (maior patente da Força), o "estrago" que "esse menino" fez à instituição foi o mais grave em 20 anos.
Hoje, a discussão é: até onde os militares envolvidos têm ligações com o tráfico. A inteligência do Exército trabalha intensamente para buscar essa resposta. Tudo o que a instituição não quer é embaralhar seu nome com o crime organizado. Especialmente quando o governo tende a ser favorável à ampliação dos limites constitucionais da ação militar na garantia da lei e da ordem.


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