UOL


São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

URBANISMO

Comerciantes se mobilizam para reurbanizar corredores de lojas

Ruas comerciais mudam para enfrentar shoppings

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

No lugar de calçadas estreitas e esburacadas, pisos amplos, lisos e confeccionados em material de qualidade, com guias rebaixadas nas esquinas, espaço para mesinhas e conforto para os passantes. Em vez de árvores mirradas e sufocadas pela poluição e pelo emaranhado de fios, variedades de vegetação apropriada para sobreviver no espaço urbano. Para completar o cenário, fachadas revitalizadas, iluminação atraente e novos equipamentos urbanos.
Em linhas gerais, essas são as "armas" que os comerciantes da cidade de São Paulo querem empregar para tentar reverter o processo de deterioração de tradicionais corredores comerciais, que têm perdido a disputa por clientes para os shoppings centers.
As intervenções urbanísticas propostas devem ser viabilizadas por uma parceria com a Prefeitura de São Paulo. Já estão em andamento as negociações sobre pelo menos 11 pontos da capital, sendo que, em três casos, as conversas já estão bem adiantadas: são as ruas João Cachoeira (Itaim Bibi, zona oeste), Oscar Freire (Jardins, oeste) e 25 de Março (centro).
Basicamente, o processo é este: comerciantes de determinada região se organizam, desenvolvem projetos de revitalização em conjunto com escritórios de arquitetura e/ou urbanismo, fazem o levantamento dos custos, buscam financiadores e apresentam o "pacote" à prefeitura.
A administração municipal, por sua vez, submete o projeto a avaliações técnicas dos setores envolvidos (sistema viário, iluminação pública, ambiente, por exemplo) e apresenta eventuais restrições. Selado o acordo, o gerenciamento das obras fica por conta do setor público e os custos são rateados conforme o que for acordado.

Primeiro da lista
O primeiro projeto a ser executado é o da João Cachoeira: a rua deverá ostentar seu novo visual já no final do ano. De acordo com Felippe Naufel, presidente da associação dos lojistas da rua, a necessidade de modificações foi apontada por uma pesquisa com frequentadores das lojas e de shoppings da região. "Alguma coisa estava errada, porque estávamos perdendo clientes. A pesquisa indicou que o consumidor quer um lugar agradável e ele é mal assistido em nossa rua. Queremos mudar isso."
Para tanto, o trecho entre a rua Jesuíno Arruda e a Leopoldo Couto de Magalhães -140 lojas e público de mais de 10 mil pessoas por dia- vai levar um "banho" que inclui mudança da pista de rolamento, do piso e do desenho da calçada (ganhará as cores vermelha, amarela e cinza e ficará mais larga nas esquinas), troca da iluminação e instalação de luzes voltadas para o pedestre, plantio de pés de pitanga e araçá e instalação de bancos. O custo da obra deverá ficar entre R$ 1 milhão (estimativa da prefeitura) e R$ 2 milhões (previsão dos lojistas).
Apesar de estar com os projetos bem evoluídos, a reurbanização das ruas Oscar Freire e 25 de Março ainda vai demandar muito trabalho. O primeiro (voltado para o público sofisticado), pelo custo da intervenção e seu financiamento; o segundo, que envolve comércio popular, pelo porte -não apenas das reformas físicas, mas da intervenção em questões problemáticas como grande trânsito, grande volume de transeuntes e camelôs.
Em comum, e apesar das diferenças, Oscar Freire e 25 de Março têm os mais altos preços de locação comercial da cidade, excetuando-se os shoppings: o aluguel do imóvel pode atingir R$ 150 por metro quadrado, contra R$ 60 da João Cachoeira ou R$ 70 da avenida Cidade Jardim, por exemplo.

Entraves
Na Oscar Freire, a idéia dos lojistas é inaugurar a obra em 25 de janeiro, dia em que São Paulo faz 450 anos. Mas há muito o que fazer. Primeiro, obter financiamento para os R$ 7 milhões que devem ser gastos - além do trecho mais badalado da Oscar Freire, estão previstas intervenções em ruas adjacentes, como Bela Cintra, Lorena e Haddock Lobo, mas a prefeitura diz que apenas as da Oscar Freire estão aprovadas.
Depois, conseguir que a Eletropaulo aceite a proposta de remover os postes das calçadas, como previsto no projeto -a empresa informa que tem uma reunião marcada com os lojistas, mas que nada está decidido. E finalmente fazer com que a reformulação das calçadas, a colocação de lixeiras e bancos, a instalação de câmeras de segurança, a troca da iluminação e o plantio de árvores ocorram dentro do prazo previsto.
"Nós queremos que as pessoas tenham na rua o mesmo conforto e sofisticação que encontram dentro das lojas", afirma Fábio Saboya, que atua na organização dos lojistas criada para tocar o projeto. "O cliente não pode ser recebido com cafezinho e champanhe na loja e andar numa calçada esburacada e mal iluminada."
Segundo Saboya, a região que tem a Oscar Freire como epicentro mantém 600 pontos comerciais (100 deles de grifes internacionais), por onde circulam quase 20 mil pessoas por dia.
Na 25 de Março e adjacências, tradicional zona de comércio popular e atacadista, que surgiu na região por intermédio dos negociantes de origem árabe, a situação é muito mais complicada, conforme demonstram os números: são 300 lojas de ruas, sete edifícios abrigando mais de 2.000 estabelecimentos, 3.000 camelôs, tráfego intenso de veículos e um público flutuante que varia de 400 mil a um milhão de pessoas no pico do final do ano.
Segundo o arquiteto Hector Vigliecca, cujo escritório elaborou os projetos da Oscar Freire e da 25 de Março, neste último caso "há um número muito grande de atores que devem ser incluídos, estabelecendo-se espaços adequados para o vendedor formal, o informal e o comprador".

Texto Anterior: Moto-táxi se destaca no país
Próximo Texto: Grande SP já tem 37 centros de compras
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.