São Paulo, quarta, 20 de agosto de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mal conservado, até B pode conter bactéria

SEBASTIÃO NASCIMENTO
da Reportagem Local

"Até o leite B pode conter bactérias, depende da conservação do produto. Não é comum, mas já encontramos coliformes fecais em leite do tipo B."
A explicação é de Vera Regina Monteiro de Barros, chefe do Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura em São Paulo.
Segundo ela, qualquer alimento conservado fora da temperatura ideal pode ser contaminado por bactérias.
Para Jacques Gontijo, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais e produtor de leite C em Bom Despacho (MG), "não é a letrinha que assegura a qualidade do produto."
"Tem muito leite C de boa qualidade e leite B de qualidade ruim", afirma.
Ele diz que a classificação do leite foi um expediente ("muito inteligente") para o produtor fugir ao tabelamento de preço do produto, imposto pelo governo durante quase meio século.
"Os produtores que optaram pelo tipo B tiveram melhor remuneração e investiram mais em qualidade e sanidade do rebanho".
Gontijo acrescenta que, com a liberação dos preços do leite, essa classificação perdeu o sentido.
"O leite deveria ter um padrão mínimo e cada empresa deveria zelar pela sua marca", diz.
Produtor de leite B em Descalvado (270 km a noroeste de São Paulo), Roberto Jank Júnior acha "quase impossível" o leite B ser vendido no mercado com coliformes fecais.
Normas de produção
"O leite B segue normas de produção estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e ainda é analisado nas plataformas das indústrias", afirma.
Segundo ele, se for constatada a presença de bactérias, o leite B é imediatamente desclassificado para leite C.
Já para o leite C não existem normas de produção, segundo Jank.
Para Regina, existe um "alarme descabido" no fato de o Instituto Adolfo Lutz ter revelado a presença de 9,3 coliformes fecais por mililitro de leite tipo C distribuído pelo governo do Estado para mais de 700 mil crianças.
"Em breve teremos de nos sujeitar à legislação do Mercosul, que admite a presença entre 3 e 10 coliformes fecais por mililitro", diz.
A chefe do SIF em São Paulo criticou o Instituto Adolfo Lutz por não ter divulgado o nome da empresa que forneceu o leite contaminado por coliformes fecais ao governo do Estado.
"A marca do produto não foi divulgada no laudo, o que torna difícil saber se e leite passou pela inspeção do SIF." Segundo ela, o órgão monitora todo o leite que chega às plataformas das indústrias.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.