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Maquinista já presenciou 3 suicídios
DA REPORTAGEM LOCAL
Além do acidente do mês passado em Perus, que deixou nove
mortes, o maquinista Osvaldo
Pierucci passou por outros traumas. Desde 1996, quando entrou
na CPTM, ele esteve envolvido em
três atropelamentos fatais.
"O primeiro foi assustador.
Uma pessoa estava deitada nos
trilhos, logo depois uma curva",
conta. "Sobrou um pedaço para
cada lado." Em estado de choque,
Pierucci teve que ir para casa.
As outras duas ocorrências também foram suicídio. "As pessoas
se jogaram na frente do trem."
Acostumado, ele voltou ao trabalho no mesmo dia.
Pierucci encarou como "consequência da profissão" o choque
entre dois trens no dia 28. "A diferença, desta vez, é que minha vida
virou de pernas para o ar."
Após ser informado do acidente, o maquinista foi até a estação
Perus, mas não conseguiu se
aproximar das vítimas. "Vi a destruição de longe. Estava desesperado. No dia seguinte, pensei: a
minha parte foi feita."
Aos 34 anos, Pierucci já trabalhou como agente de estação na
antiga CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) e como
professor de uma escola pública.
Chegou a fazer dois anos de matemática em uma faculdade particular. Trancou a matrícula para se
casar e cuidar do casal de filhos:
Tauane, 6, e Kevin, 4.
Ele também já tentou seguir a
carreira política: foi candidato a
vereador em Francisco Morato
(Grande São Paulo) nas últimas
eleições. Teve 150 votos. Não conseguiu se eleger. "Decidi me candidatar por sugestão de uma amiga. Nem me lembro do partido.
Acho que era PRN."
O gasto dele com a escola dos filhos é de R$ 230 mensais. O salário de maquinista não passa de R$
1.000. As crianças não param de
perguntar sobre o acidente. "Elas
ficam brincando de repórter. "Pai,
como é que foi?'"
O trabalho ferroviário já virou
tradição na família de Pierucci. O
pai, Manir, 63, trabalhou a vida
toda em estação de trem. Seu irmão Evandro, 27, está fazendo
curso para ser maquinista da
CPTM. "Ele começou o treinamento dias antes do acidente. Até
pensou em desistir. Mas expliquei
que ele tinha que se acostumar",
afirma Pierucci.
Cléber, 20, irmão mais novo,
também quer ser ferroviário: "Só
estou esperando abrir concurso
para tentar", afirma.
Durante toda a vida, Pierucci
morou na casa dos pais, em Francisco Morato. Mesmo casado, vive "grudado" na família. Mora
com a mulher e os filhos em uma
casa que fica no mesmo terreno
da dos pais.
Pierucci afirma que, mais difícil
do que o dia do acidente, foi
quando o secretário dos Transportes Metropolitanos, Cláudio
de Senna Frederico, sugeriu que
ele era o culpado.
"Estava fora de casa. Meu irmão
mais novo me ligou: "O secretário
disse que a culpa foi sua". Fiquei
abalado e indignado. Ele estava
me acusando pela morte de nove
pessoas, jogando toda a população contra mim. E as investigações nem estavam prontas."
Desde a última quarta, Pierucci
está fazendo trabalhos burocráticos dentro da CPTM. "É um pouco monótono", afirma. Ainda não
definiram direito o que ele deve
fazer. Por enquanto, confere o
ponto dos funcionários.
Apontado como culpado no relatório da empresa, ele não sabe se
vai ser demitido.
"O trabalho de maquinista é
cansativo. Não há margem para
descuido. Já tive que descer do
trem para tirar carcaça de geladeira do meio da via", afirma. "Mas
esse é um serviço que eu gosto.
Meu desejo é continuar."
(AI)
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