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PATRIMÔNIO
Abandonada pelo poder público, região que foi frequentada por família imperial é devastada por ocupação desordenada
Sítio histórico do Rio é invadido por favelas
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A PETRÓPOLIS
Abandonado pelo poder público, o sítio histórico formado pela
estrada do Imperador, pelo caminho do Ouro e pela secular ferrovia Raiz da Serra-Petrópolis, no
Rio de Janeiro, foi invadido por
favelas.
A ocupação desordenada do lugar, frequentado no século passado pela família imperial brasileira,
provoca, além dos prejuízos à história do país, a devastação da floresta de mata atlântica característica da região, uma das mais belas
da serra fluminense.
A estrada, o caminho e a ferrovia, já desativada, cortam a serra
da Estrela, barreira natural entre
os municípios de Magé (Baixada
Fluminense, na periferia do Rio) e
Petrópolis (a 65 km da capital, na
região serrana).
Relíquias
A serra da Estrela guarda em
suas matas relíquias históricas,
como o caminho do Ouro (ou caminho dos Mineiros, como é chamado no lugar), rota de passagem
dos escravos levados do Rio para
Minas Gerais, e os pontilhões de
pedra da via férrea, inaugurada
em 1883.
A região era o trajeto obrigatório da família imperial no rumo
de Petrópolis, onde costumava
passar as férias de verão.
De carruagem ou trem, o imperador d. Pedro 2º subia a serra da
Estrela, acompanhado dos parentes, para descansar no palácio petropolitano.
Hoje, o panorama visto pelo imperador está desfigurado. Nos últimos dois anos, o traçado de 17
km da estrada do Imperador (o
nome oficial, estrada Velha da Estrela, é pouco usado) passou a se
caracterizar pelas favelas que
crescem nas duas margens.
História do país
Um crescimento desorganizado
que enche encostas e vales de barracos e casebres, muitos deles
construídos junto a marcos que
contam um pouco da história imperial do país.
Um trecho do caminho do Ouro, por exemplo, está cercado pela
favela recém-surgida na localidade de Lopes Trovão. Poucos ali sabem que aquele caminho de pedras tem quase 300 anos (foi aberto em 1723).
Da mesma forma, a favela batizada no mês passado de Vila
União ocupa trechos da extinta linha férrea que ligava Raiz da Serra a Petrópolis.
A favela se alastra em torno da
ferrovia, que já não tem mais os
trilhos. Os novos moradores da
área só sabem que antigamente
trens passavam ali por causa das
pontes de pedra, cujas estruturas
em arco ainda se destacam sobre
os abismos da serra.
15 favelas
Visita à região feita pela Folha
na terça-feira mostra que há, pelo
menos, 15 novas favelas crescendo nas margens da estradinha de
paralelepípedos (quase uma favela por cada quilômetro entre Raiz
da Serra e Petrópolis).
Para dentro da mata, contam os
moradores, há mais barracos em
construção, que ainda não são visíveis da estrada.
O secretário de Obras da Prefeitura de Petrópolis, José Roberto
Machado da Costa, reconhece
que, nos últimos anos, "houve um
aumento muito grande" das invasões, mas que o processo de ocupação irregular teria começado há
cerca de 40 anos.
À ocupação desordenada que
degrada a natureza e destrói resquícios históricos se soma o trânsito de carros, ônibus e caminhões. Para fugir do pedágio (custa R$ 3,60) da rodovia Rio-Petrópolis, motoristas estão usando a
estrada do Imperador como rota
alternativa.
Atraídas pelos novos passageiros que habitam a serra da Estrela,
empresas de ônibus aumentaram
o número de linhas intermunicipais que passam pela estrada.
O resultado é visível: a pista está
cheia de buracos, desnivelada e
erodida nas laterais. Não há sinalização nem faixas de rolamento.
"Todo dia tem acidente. Até o
ano passado eu poderia deitar na
rua uma hora que não seria atropelado. Hoje, eu morreria na hora", disse o vendedor Francisco
Cardoso, 25.
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