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URBANISMO
Calçamento escolhido em votação promovida por Marta é inadequado, segundo relatório encaminhado à prefeita
Secretaria reprova piso "eleito" da Paulista
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A avenida Paulista não deverá
receber o piso de blocos de concreto nas cores salmão, cinza-grafite e cinza-claro, escolhido em
votação popular feita na via há
cerca de dois meses, sob o patrocínio da Prefeitura de São Paulo e
da Associação Paulista Viva.
Após reação negativa de especialistas, que criticaram o calçamento, a prefeita Marta Suplicy
resolveu pedir um relatório ao secretário do Planejamento Urbano, Jorge Wilheim, sobre como
deveria ser a intervenção na avenida mais conhecida da cidade.
Wilheim entregou o relatório na
semana passada à prefeita. A assessoria de imprensa da prefeitura afirma que Marta tomará sua
decisão baseada no documento.
A Folha apurou que Wilheim
reprova a escolha no relatório. Ele
sugere, como alternativa, que o
resultado da eleição seja apenas
um dado na definição do novo
calçamento. Na decisão deverá
pesar uma análise técnica sobre a
qualidade do piso e a opinião de
especialistas.
Porém os blocos de concreto
não contam com a simpatia dos
especialistas. "É um piso de segunda linha, não tem sentido usá-lo na avenida", diz o arquiteto José Magalhães, vencedor de um
concurso de idéias para a Paulista,
realizado em 1996, pela prefeitura
e pela mesma associação.
Magalhães participou de uma
reunião com Wilheim para debater a preparação do relatório, mas
afirmou não saber da decisão final do secretário. Também participaram do encontro a arquiteta
paisagista Rosa Kliass e o arquiteto João Carlos Cauduro, ambos
responsáveis pelo projeto original
da Paulista, feito em 1973. Todos
foram contra os blocos coloridos.
A recomendação de Wilheim
põe a prefeita numa situação difícil. A votação teve a participação
de 2.600 pessoas e mobilizou associações de deficientes físicos.
Segundo o presidente da Paulista Viva, Nelson Baeta Neves, a
idéia da consulta popular partiu
da prefeita, que participou da
abertura da votação.
No vão livre do Masp, foram
dispostas amostras de sete pisos,
ao lado de uma urna eletrônica. O
material, providenciado pela associação, ficou quatro dias na avenida sob intensa propaganda.
Na época, a prefeita disse que,
para dar início à mudança, bastaria a publicação de um decreto, no
"Diário Oficial", determinando o
novo padrão da calçada.
Dos 65 mil metros quadrados
de calçamento da avenida, 40 mil
são de propriedade particular.
Por isso, os condomínios da via
são obrigados a seguir o padrão
determinado pela prefeitura.
"Sabotagem"
Baeta Neves afirmou ter sido
"sabotado" por forças que desconhece. "Há pessoas que se sentem
donas da avenida", disse, sem citar nomes.
José Magalhães, que atualmente
ocupa a diretoria de Projetos Urbanos da Secretaria do Planejamento, afirma que a votação foi
"conduzida" para que os blocos
-chamados tecnicamente de
concreto intertravado- ganhassem. Rosa Kliass e Cauduro concordam com ele.
Entre os sete pisos em disputa,
três eram de bloco de concreto,
duas de ladrilho hidráulico (a lajota consagrada com o mapa do
Estado), um de pedra mineira e
um de placas de concreto.
Este último ficou em segundo
lugar, pouco abaixo do vencedor.
As placas foram projetadas por
Magalhães. Baeta Neves disse que
todos -"inclusive o arquiteto da
Sempla"- souberam da eleição
dois meses antes de ser realizada,
e nada fizeram.
Para Magalhães, o assunto foi
tratado de maneira simplista.
"Parece que tudo se resume a trocar o calçamento, mas não é. A
avenida tem uma série de outros
problemas, principalmente no
subsolo, que precisam ser tratados", disse. "Mas eu não quero fazer a calçada do milênio", rebate Baeta Neves. "Apenas aquilo que é possível hoje."
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