São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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URBANISMO

Calçamento escolhido em votação promovida por Marta é inadequado, segundo relatório encaminhado à prefeita

Secretaria reprova piso "eleito" da Paulista

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A avenida Paulista não deverá receber o piso de blocos de concreto nas cores salmão, cinza-grafite e cinza-claro, escolhido em votação popular feita na via há cerca de dois meses, sob o patrocínio da Prefeitura de São Paulo e da Associação Paulista Viva.
Após reação negativa de especialistas, que criticaram o calçamento, a prefeita Marta Suplicy resolveu pedir um relatório ao secretário do Planejamento Urbano, Jorge Wilheim, sobre como deveria ser a intervenção na avenida mais conhecida da cidade.
Wilheim entregou o relatório na semana passada à prefeita. A assessoria de imprensa da prefeitura afirma que Marta tomará sua decisão baseada no documento.
A Folha apurou que Wilheim reprova a escolha no relatório. Ele sugere, como alternativa, que o resultado da eleição seja apenas um dado na definição do novo calçamento. Na decisão deverá pesar uma análise técnica sobre a qualidade do piso e a opinião de especialistas.
Porém os blocos de concreto não contam com a simpatia dos especialistas. "É um piso de segunda linha, não tem sentido usá-lo na avenida", diz o arquiteto José Magalhães, vencedor de um concurso de idéias para a Paulista, realizado em 1996, pela prefeitura e pela mesma associação.
Magalhães participou de uma reunião com Wilheim para debater a preparação do relatório, mas afirmou não saber da decisão final do secretário. Também participaram do encontro a arquiteta paisagista Rosa Kliass e o arquiteto João Carlos Cauduro, ambos responsáveis pelo projeto original da Paulista, feito em 1973. Todos foram contra os blocos coloridos.
A recomendação de Wilheim põe a prefeita numa situação difícil. A votação teve a participação de 2.600 pessoas e mobilizou associações de deficientes físicos.
Segundo o presidente da Paulista Viva, Nelson Baeta Neves, a idéia da consulta popular partiu da prefeita, que participou da abertura da votação.
No vão livre do Masp, foram dispostas amostras de sete pisos, ao lado de uma urna eletrônica. O material, providenciado pela associação, ficou quatro dias na avenida sob intensa propaganda.
Na época, a prefeita disse que, para dar início à mudança, bastaria a publicação de um decreto, no "Diário Oficial", determinando o novo padrão da calçada.
Dos 65 mil metros quadrados de calçamento da avenida, 40 mil são de propriedade particular. Por isso, os condomínios da via são obrigados a seguir o padrão determinado pela prefeitura.

"Sabotagem"
Baeta Neves afirmou ter sido "sabotado" por forças que desconhece. "Há pessoas que se sentem donas da avenida", disse, sem citar nomes.
José Magalhães, que atualmente ocupa a diretoria de Projetos Urbanos da Secretaria do Planejamento, afirma que a votação foi "conduzida" para que os blocos -chamados tecnicamente de concreto intertravado- ganhassem. Rosa Kliass e Cauduro concordam com ele.
Entre os sete pisos em disputa, três eram de bloco de concreto, duas de ladrilho hidráulico (a lajota consagrada com o mapa do Estado), um de pedra mineira e um de placas de concreto.
Este último ficou em segundo lugar, pouco abaixo do vencedor. As placas foram projetadas por Magalhães. Baeta Neves disse que todos -"inclusive o arquiteto da Sempla"- souberam da eleição dois meses antes de ser realizada, e nada fizeram.
Para Magalhães, o assunto foi tratado de maneira simplista. "Parece que tudo se resume a trocar o calçamento, mas não é. A avenida tem uma série de outros problemas, principalmente no subsolo, que precisam ser tratados", disse. "Mas eu não quero fazer a calçada do milênio", rebate Baeta Neves. "Apenas aquilo que é possível hoje."


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