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ASSISTENCIALISMO
Alunos que gritam em sala de aula são isolados em banheiros e obrigados a tomar mistura de vinagre e boldo
Entidade usa castigo na educação de autistas
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
ALLAN DE ABREU
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
A direção da AMA (Associação
de Amigos do Autista) de Ribeirão Preto (a 314 km de São Paulo)
adotou um programa pedagógico
que utiliza o castigo como forma
de inibir o comportamento agressivo dos alunos.
A criança que gritar na sala de
aula, por exemplo, é obrigada a
ingerir uma mistura de vinagre
com boldo (planta de sabor amargo) ou é trancada no banheiro para que não volte a ter o mesmo
comportamento.
"O objetivo [do programa" é
dessensibilizar os comportamentos inadequados", disse a coordenadora da AMA de Ribeirão, Camila Goes Sampaio do Amaral.
A AMA é uma entidade sem fins
lucrativos destinada a cuidar de
autistas, que sofrem de um transtorno psíquico caracterizado pela
recusa em relacionar-se com outras pessoas.
A aplicação dos castigos foi descoberta pelas mães quando algumas crianças começaram a apresentar problemas de saúde. "Ela
[a filha" tinha vômitos, diarréia e
apresentava a boca cheia de feridas", disse a funcionária pública
R. M. M., mãe de um dos 46 alunos que são atendidos pela associação de Ribeirão Preto.
No final do mês passado, funcionárias da AMA chegaram a incentivar a utilização da mistura de
boldo até mesmo em casa, para
dar continuidade ao "tratamento". "Ela [uma funcionária" disse
para amassar o boldo com vinagre, colocar um pouquinho de
água e dar para o meu filho", afirmou a musicoterapeuta M. L. F.
Insatisfeitas com o programa, as
famílias procuraram a entidade
para pedir explicações e tiveram a
resposta de que esse método era
uma adaptação do método behaviorista, que buscava um melhor
rendimento dos alunos.
O behaviorismo é um método
desenvolvido pelo norte-americano Burrhus Frederic Skinner
(1904-1990) que prima pelo incentivo para atitudes consideradas boas e pela repreensão para as
consideradas ruins.
Para a psicóloga da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto Maria Lucimar Fortes
Paiva, o behaviorismo não prega
castigo em sua essência e deve ter
sido distorcido pela entidade.
"Esse não é o caminho para educar uma criança autista", disse.
Para a presidente da Associação
Brasileira de Autismo, Maria do
Carmo Tourinho Ribeiro Vieira,
indicada pelo Ministério da Saúde
para falar sobre o assunto, as técnicas utilizadas em Ribeirão Preto
são passíveis de apuração pelo
Ministério Público. "Acho desumano esse tipo de tratamento."
A superintendente da AMA de
São Paulo, Marisa Furia Silva,
afirmou desconhecer os métodos
adotados em Ribeirão Preto, porque as direções das unidades são
distintas e autônomas. Disse, porém, que desaconselha o tratamento à base de castigos.
Ainda segundo ela, se irregularidades forem comprovadas, a direção em São Paulo pode suspender a utilização da "marca" AMA.
O promotor da Pessoa Deficiente de Ribeirão, Carlos Cezar Barbosa, afirmou que não tinha sido
informado sobre o assunto, mas
que irá apurar o caso.
A coordenadoria da AMA de
Ribeirão confirmou a utilização
da mistura do boldo e do confinamento de alunos no banheiro da
entidade, mas nega que as práticas sejam castigos.
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