São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002 |
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SEGURANÇA Protesto foi contra morte de líder pela PM; policiais não conseguem convencer comerciantes a retomar atividades No Rio, traficantes fecham lojas da Tijuca
MARIO HUGO MONKEN DA SUCURSAL DO RIO Pelo menos cem lojas da praça Saens Peña, a principal da Tijuca (zona norte do Rio), e de cinco ruas adjacentes foram fechadas no início da tarde de ontem por ordem de traficantes do vizinho morro do Salgueiro. O motivo da ordem foi a morte de Ricardo Dias Lopes, 25, o Máscara, ocorrida na manhã de anteontem em tiroteio com policiais do 6º Batalhão da Polícia Militar (BPM). Máscara era gerente do tráfico na favela, segundo a PM. O fechamento das lojas simbolizou uma homenagem ao traficante. A praça é o principal centro comercial do bairro. Muitas das lojas não reabriram. A confusão começou por volta do meio-dia. Um grupo de 20 pessoas, a maioria mulheres, desceu o morro com paus e pedras e ameaçou os comerciantes. Caso não fechassem as portas, as lojas seriam apedrejadas. Um homem e uma mulher que integravam o grupo foram presos. A PM reforçou o policiamento no local com cerca de 120 homens. A medida não diminuiu a sensação de insegurança dos comerciantes. A maioria deles manteve as portas fechadas, até mesmo as de um shopping. Uma agência bancária também interrompeu o serviço, assim como creches e uma clínica médica. "A polícia está aqui hoje. E amanhã? Vamos ter um prejuízo de R$ 1.000 com o fechamento", disse Renata Belles, 25, vendedora de uma loja na praça. O comandante do 6º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Murilo Lyra, disse que não havia motivo para que os comerciantes permanecessem com as lojas fechadas. A pedido de clientes, Lyra chegou a entrar na agência do Banco Real para pedir a reabertura. Ele discutiu com a gerente, que manteve o banco fechado, alegando falta de segurança. Um comerciante que, por medo, não disse o nome, criticou a polícia. "O comandante falou que o local está seguro. Seguro deve estar na casa dele", declarou. O Shopping 45, um dos principais do bairro, ficou com as portas parcialmente fechadas por quase três horas. Por medo, muitos clientes não saíam para a rua. O comandante não conseguiu convencer a gerente da lanchonete Bob's, que não quis se identificar, a abrir totalmente a loja. Ela disse que só levantaria as portas se todos fizessem o mesmo, o que não aconteceu. Lyra afirmou que "a polícia continuará no local por dois, três, quatro dias se for preciso". O Salgueiro foi ocupado por policiais do 6º BPM, segundo ele. A presença policial na Saens Peña não inibiu os traficantes. Alguns olheiros passavam pelo local e continuavam ameaçando os comerciantes. "Depois que a polícia chegou, apareceram dois aqui me perguntando porque a loja permanecia aberta", afirmou a gerente do Bob's. As duas pessoas presas foram liberadas. Eles responderão por crime de atentado contra a liberdade de trabalho. Os nomes dos acusados não foram revelados. Máscara foi morto por volta das 5h40 de anteontem. Com ele, a polícia informou ter apreendido uma pistola e 1.500 sacolés (pequenos embrulhos) de cocaína. Cristina Vasconcelos, 19, que disse ser prima de Máscara, acusou os policiais de truculência. "Meu primo tinha acabado de voltar de um baile e a polícia chegou atirando. A pistola que pegaram foi forjada." Texto Anterior: Morre ator americano Jeff Corey Próximo Texto: No bairro, renda é o dobro da média da cidade Índice |
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