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PERNAMBUCO
Grupo de cerca de 300 pessoas armou-se de lanças de bambu e facões para impedir entrada da polícia em área ocupada
Sem-teto diz que resistirá a desocupação
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Os cerca de 300 integrantes do
MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que há 12
dias invadiram um terreno pertencente à União em Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana de Recife, armaram-se com facões, lanças de bambu, paus e pedras e afirmaram, ontem, que vão
resistir à ordem de desocupação
determinada pela Justiça.
Os sem-teto trancaram o portão
de acesso à propriedade com correntes e cadeados e ergueram barricadas com pneus próximo à entrada. Eles pretendem atear fogo
nas barreiras para retardar o
eventual avanço dos policiais.
As mulheres grávidas, crianças
e idosos foram alojados em uma
área distante do local onde, imaginam, ocorrerá o confronto. A
maior parte do arsenal dos invasores foi colocada sobre uma laje,
de onde eles têm ampla visão da
propriedade e dos arredores.
"Vamos atacar de lá, se for preciso", disse o líder do acampamento, Francisco José da Silva. "É
a primeira vez que vamos resistir,
porque ninguém aguenta mais a
situação", declarou.
O clima no local é tenso. Os invasores escondem seus rostos
com camisas enroladas na cabeça.
Eles gritam palavras de ordem e
dizem ter "munição" suficiente
para resistir por "muito tempo".
No terreno, onde funcionava
uma destilaria do IAA (Instituto
do Açúcar e do Álcool), extinto
em 1990, há plantações de bambu,
além de sucatas e obras em ruínas.
O líder estadual do MTST, Marcos Cosmo da Silva, ex-militante
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), confirmou que "a ordem é resistir". O
pedido de liminar de reintegração
de posse foi feito pela AGU (Advocacia Geral da União) e concedido pela Justiça Federal. Até a
tarde de ontem, entretanto, a decisão não havia sido comunicada
à Polícia Militar.
A maior parte dos acampados
faz parte do grupo de 150 sem-teto que, no dia 31 de julho, invadiu
o terreno onde funcionava o antigo mercado municipal da cidade.
Eles deixaram o local no dia 6 de
agosto, após o desabamento de
uma laje, provocado pela chuva.
Duas mulheres se feriram. No
mesmo dia, o teatro Barreto Júnior, também administrado pela
prefeitura, foi invadido.
Por decisão da Justiça estadual,
no dia 7 o grupo foi retirado do
teatro pela PM. No dia seguinte,
eles tomaram o terreno onde estavam até a tarde de ontem.
Salvador
Cerca de 600 sem-teto concluíram na madrugada de ontem a invasão a um terreno localizado na
periferia de Santo Estevão (356
km de Salvador). A ação foi iniciada há uma semana, quando os
sem-teto fizeram a limpeza e a demarcação do local. De acordo
com os líderes da invasão, o terreno está abandonado há 12 anos.
Ontem à tarde, o proprietário
do terreno, Sebastião Souza Pereira, 53, ingressou na Justiça com
uma ação solicitando a reintegração de posse. "Todas as economias que fiz na vida estão empregadas nesse terreno."
A área do terreno invadido em
Santo Estevão é de 13.600 m2.
Um dos organizadores da invasão, Claudionor Santos Mascarenhas, 30, disse que os sem-teto
não vão abandonar o local.
"O governo precisa entender
que não temos mais para onde ir",
afirmou Mascarenhas.
Há 18 dias, 700 famílias concretizaram a primeira invasão em
um terreno localizado em Salvador. Em menos de 24 horas, todos
os sem-teto foram expulsos.
Para pressionar o prefeito de
Salvador, Antonio Imbassahy
(PFL), a liberar a ocupação de terrenos públicos, os sem-teto estão
organizando uma marcha até o
centro da cidade, amanhã.
O prefeito Imbassahy disse que
não vai receber nenhum integrante dos sem-teto porque não compactua com a ilegalidade.
Colaborou a Agência Folha, em Salvador
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