UOL


São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERNAMBUCO

Grupo de cerca de 300 pessoas armou-se de lanças de bambu e facões para impedir entrada da polícia em área ocupada

Sem-teto diz que resistirá a desocupação

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Os cerca de 300 integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que há 12 dias invadiram um terreno pertencente à União em Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana de Recife, armaram-se com facões, lanças de bambu, paus e pedras e afirmaram, ontem, que vão resistir à ordem de desocupação determinada pela Justiça.
Os sem-teto trancaram o portão de acesso à propriedade com correntes e cadeados e ergueram barricadas com pneus próximo à entrada. Eles pretendem atear fogo nas barreiras para retardar o eventual avanço dos policiais.
As mulheres grávidas, crianças e idosos foram alojados em uma área distante do local onde, imaginam, ocorrerá o confronto. A maior parte do arsenal dos invasores foi colocada sobre uma laje, de onde eles têm ampla visão da propriedade e dos arredores.
"Vamos atacar de lá, se for preciso", disse o líder do acampamento, Francisco José da Silva. "É a primeira vez que vamos resistir, porque ninguém aguenta mais a situação", declarou.
O clima no local é tenso. Os invasores escondem seus rostos com camisas enroladas na cabeça. Eles gritam palavras de ordem e dizem ter "munição" suficiente para resistir por "muito tempo".
No terreno, onde funcionava uma destilaria do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), extinto em 1990, há plantações de bambu, além de sucatas e obras em ruínas.
O líder estadual do MTST, Marcos Cosmo da Silva, ex-militante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), confirmou que "a ordem é resistir". O pedido de liminar de reintegração de posse foi feito pela AGU (Advocacia Geral da União) e concedido pela Justiça Federal. Até a tarde de ontem, entretanto, a decisão não havia sido comunicada à Polícia Militar.
A maior parte dos acampados faz parte do grupo de 150 sem-teto que, no dia 31 de julho, invadiu o terreno onde funcionava o antigo mercado municipal da cidade.
Eles deixaram o local no dia 6 de agosto, após o desabamento de uma laje, provocado pela chuva. Duas mulheres se feriram. No mesmo dia, o teatro Barreto Júnior, também administrado pela prefeitura, foi invadido.
Por decisão da Justiça estadual, no dia 7 o grupo foi retirado do teatro pela PM. No dia seguinte, eles tomaram o terreno onde estavam até a tarde de ontem.

Salvador
Cerca de 600 sem-teto concluíram na madrugada de ontem a invasão a um terreno localizado na periferia de Santo Estevão (356 km de Salvador). A ação foi iniciada há uma semana, quando os sem-teto fizeram a limpeza e a demarcação do local. De acordo com os líderes da invasão, o terreno está abandonado há 12 anos.
Ontem à tarde, o proprietário do terreno, Sebastião Souza Pereira, 53, ingressou na Justiça com uma ação solicitando a reintegração de posse. "Todas as economias que fiz na vida estão empregadas nesse terreno."
A área do terreno invadido em Santo Estevão é de 13.600 m2.
Um dos organizadores da invasão, Claudionor Santos Mascarenhas, 30, disse que os sem-teto não vão abandonar o local.
"O governo precisa entender que não temos mais para onde ir", afirmou Mascarenhas.
Há 18 dias, 700 famílias concretizaram a primeira invasão em um terreno localizado em Salvador. Em menos de 24 horas, todos os sem-teto foram expulsos.
Para pressionar o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), a liberar a ocupação de terrenos públicos, os sem-teto estão organizando uma marcha até o centro da cidade, amanhã.
O prefeito Imbassahy disse que não vai receber nenhum integrante dos sem-teto porque não compactua com a ilegalidade.


Colaborou a Agência Folha, em Salvador


Texto Anterior: Presídios: Após 27 horas, acaba rebelião em Manaus
Próximo Texto: Porto Ferreira: Vereador nega saber de festa com menor
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.