|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATO DE SP
Em Moema, 3 de cada 4 nascimentos são cesáreas; para obstetra, "existe a percepção de que parto normal é de pobre"
Bairros ricos são campeões de cesarianas
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bairros paulistanos onde as
pessoas têm a melhor qualidade
de vida da cidade são justamente
os que concentram o maior percentual de partos por cesariana.
Em Moema (zona sul), o campeão do ranking, três em cada
quatro partos são por cesárea
(75%). No outro extremo, em
Guaianazes, nos fundões da zona
leste, é menos da metade disso
(34%). Os dados são da Seade.
Líder, o bairro de Moema, que
integra a Subprefeitura da Vila
Mariana, foi também o campeão
em ranking de IDH feito pela Prefeitura de São Paulo. A subprefeitura recordista é Pinheiros, onde
70,3% dos partos são cesáreas.
A disparidade que poderia ser
outra desvantagem para os pobres não é necessariamente ruim.
"Há a percepção, que está mudando, de que parto normal é coisa de pobre", diz o obstetra Abner
Lobão Neto, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo o médico, no parto
normal a recuperação é mais rápida e o risco de futuros problemas,
menor. "Quando você começa a
forçar a barra em cima da natureza, ela cobra o preço." Ele diz, no
entanto, que a cesariana é ótima,
quando necessária.
Os motivos para o alto índice de
cesarianas são muitos e vão desde
arranjos para passar mais tempo
perto do bebê à escolha do signo.
Em alguns casos, os pais marcam
o parto na sexta-feira, para que o
pai possa ficar mais próximo.
Na semana passada, uma mulher antecipou em uma semana o
nascimento do filho em uma das
maiores maternidades de São
Paulo para que não coincidisse
com o aniversário do marido.
"É uma conjunção muito perversa. Tem a idéia de que parto
normal é com dor ou altera a vagina. Além disso, existe a conveniência de, marcando o dia da cesariana, mãe e marido poderem
acertar a agenda e aproveitar mais
o momento", explica Lobão Neto,
sobre o que motiva a elevada taxa
de cesarianas na classe média alta.
Fora a conveniência do casal, o
que conta muitas vezes é a facilidade para o médico. Eles recebem
dos convênios quase o mesmo valor pelos dois tipos de parto, com
a diferença de que o normal dura
horas e horas, e a cesariana se resolve mais rapidamente.
Além de todos esses fatores, pode haver também a percepção de
que o parto por cesárea é mais seguro. Grávida de seis meses e
meio, a jornalista Katia Geiling,
29, ainda não decidiu, mas acha
que seu parto será cesariana.
"Tenho medo de entrar em trabalho de parto e ficar pensando
que está demorando demais, que
o cordão umbilical está enrolado.
Acho que na cesárea o médico
tem mais controle." Mãe de um
menino, ela ressalta que a idéia de
cesariana não tem nada a ver com
data marcada.
(PEDRO DIAS LEITE)
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Casal recorre a serviço de parteira Índice
|