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GUERRA URBANA
Eleição faz pessoas se mexerem, diz Saulo
Secretário da Segurança Pública afirma que integração entre forças de segurança federais e estaduais tem motivação política
Titular da pasta ressalta que o crime organizado é hoje o Bolsa-Família da favela e reclama por não ter sido ouvido pela sociedade civil
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
A cooperação entre as forças
de segurança federais e estaduais para combater o crime
organizado em São Paulo tem
uma motivação política: a proximidade das eleições.
A análise é do secretário estadual da Segurança Pública,
Saulo de Castro Abreu Filho,
justamente um dos responsáveis por liderar a reação das autoridades paulistas ao PCC.
"É a vantagem da crise. Em
época de eleição, as pessoas se
mexem", disse Saulo, 45, em
entrevista exclusiva à Folha,
na tarde de sexta-feira.
O secretário é filiado ao
PSDB e não excluiu das críticas
a administração de seu chefe, o
governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL).
Ele recebeu a reportagem em
seu gabinete, onde falou quase
sem parar por duas horas e
meia, só interrompendo suas
digressões para tragar seis cigarros Minister.
Conhecido por sua verborragia, reclamou que não foi ouvido pela sociedade civil nos últimos cinco anos. "Só agora comecei a ser ouvido. De uma forma polêmica? Lamento, não
queria ter essa pecha de polêmico gratuitamente. Mas não
fiz curso de simpatia. Vim para
trabalhar", afirmou. Leia os
principais trechos:
FOLHA - Por que só depois de três
meses do primeiro ataque do PCC é
que as autoridades parecem estar
agindo de forma integrada?
SAULO DE CASTRO ABREU FILHO - É a
vantagem da crise e das eleições. Nesse período, as pessoas
se mexem. Lamento que seja
em ano eleitoral e em final de
governo. Nessa situação, qualquer coisa que se faça tem uma
exploração eleitoral.
FOLHA - Mas não havia integração
antes?
ABREU FILHO - Grito há cinco
anos. É minha maneira de me
expressar. Mas ninguém me
ouvia e as investigações conjuntas não andavam. Ninguém
queria trazer a responsabilidade pela segurança pública para
si. Elegeram a segurança para
Geni. Ninguém queria por a
mão. Mas agora, com a proximidade das eleições, todo mundo quer maquiar a Geni.
FOLHA - Onde o governo errou?
ABREU FILHO - O que demorou
foi a comunicação para mostrar
o que estava sendo feito pelos
governos. Faltou alto-falante
para essa voz. E agora veio, com
a eleição e a pauta da imprensa.
O poder da imprensa sobre o
mundo político é incomensurável, quase alucinante. Eles [os
políticos] vivem em função do
que vai sair no jornal amanhã.
FOLHA - Mas não houve erro no
combate ao crime organizado?
ABREU FILHO - Há décadas o sistema bancário sabe exatamente o movimento nas contas de
cada um. Sabem tudo, diariamente. Esse pessoal [do PCC]
usa o sistema bancário para lavar dinheiro, com esse monte
de conta de laranjas, o mesmo
esquema de doleiros. Faltava
vontade política de investigar.
FOLHA - Como garantir que agora a
ação integrada vai dar resultado?
ABREU FILHO - É necessário que a
imprensa fique em cima dos
políticos, tipo chega de factóide, cobrando soluções reais para os problemas. Aí, vamos conseguir mudar. Também temos
de desidratar financeiramente
o crime, deixar com cara de maracujá velho. Se mantivermos o
crime como uma fruta saborosa, tentadora, as menininhas da
favela vão continuar glamurizando e vamos ter milhões de
presos no Brasil. O PCC tem se
alimentado da miséria e da
opressão, principalmente nos
bairros carentes. O PCC é hoje
o Bolsa-Família da favela. É a
organização criminosa que paga o enterro de quem morre pela causa e que constrói barracos
e dá comida para muita gente. E
assim vão conquistando adeptos. Faltam políticas de Estado
no Brasil, políticas que transcendam pessoas e partidos.
Precisamos fazer campanhas
contra a violência como fazemos contra a poliomielite, em
que autoridades e população se
dedicam a uma causa comum.
FOLHA - O senhor fala no fim dos
factóides e da disputa política, mas
dias atrás ameaçou deixar o cargo se
o dinheiro prometido pelo governo
federal chegasse a São Paulo.
ABREU FILHO - Fui mal compreendido.
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