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POLÍCIA SOB SUSPEITA
Suposta tesoureira de contrabandista de cigarros teria feita transações nesse valor no período de 56 dias
Grampo indica movimentação de R$ 3,6 mi
GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Escutas telefônicas feitas pela
Procuradoria da República de
Brasília revelam que Tânia dos
Santos, 35, apontada como a tesoureira do contrabandista de cigarros Roberto Eleutério da Silva,
o Lobão, movimentou pelo menos R$ 3,6 milhões em 56 dias.
Os grampos mostram, segundo
a CPI da Pirataria, um esquema
de lavagem de dinheiro, pagamento de fornecedores por meio
de contas bancárias de laranjas e
evasão de divisas com participação de casas de câmbio. As seis escutas foram feitas em curtos períodos de fevereiro, março, junho
e julho. Os valores totalizam R$
2,1 milhões e US$ 498 mil.
Nas conversas, Tânia dos Santos
pede a doleiros de três casas de
câmbio contas bancárias que poderiam ser usadas para lavar dinheiro ou enviar valores para fora
do país, no caso o Paraguai. As
contas de laranjas também seriam
usadas para efetuar pagamentos.
A suposta tesoureira foi presa
no dia 3. Com ela, foram apreendidos documentos com balancetes das operações. Apesar disso,
Tânia dos Santos negou ontem à
CPI conhecer Lobão.
Disse que era apenas auxiliar de
escritório, mas não soube explicar
por que o contrato de aluguel da
sede da transportadora Búfalo
Branco -empresa que é de Lobão, mas está no nome de um laranja, segundo a CPI- está no
seu nome há dois anos.
Com respostas irônicas, ela chegou a irritar os deputados. Disse
que trabalhava como prostituta
na rua depois de deixar a transportadora. A informação, inexistente nos grampos, foi interpretada pela CPI com uma estratégia
para desviar a investigação.
O soldado da PM Arnaldo Ferracini e o sargento Luiz Carlos Filho, que admitiram serem os responsáveis pela proteção da família de Lobão, desmentiram Tânia
dos Santos. Eles disseram que recebiam dela os R$ 36 mil cobrados pelo serviço. Ferracini afirmou que chegou a ver Lobão e Tânia dos Santos juntos.
A CPI pretendia ouvir ontem,
pela terceira vez, o delegado Ettore Capalbo Sobrinho, do setor de
investigações da Delegacia Seccional Leste, mas foi surpreendida
com a notícia de sua internação.
Ele é suspeito de ter dado a ordem
para liberar uma carga apreendida e que era de Lobão.
A declaração de internação
-na madrugada de ontem-,
feita pelo Hospital Albert Einstein
e trazida pelo advogado do delegado, sem assinatura de um médico, provocou desconfiança. Policiais federais foram ao hospital.
Um atestado médico, feito depois,
declarou que o delegado apresentava quadro de hipertensão.
Os deputados também querem
dados da Polícia Federal sobre o
vazamento de informações sobre
a operação que terminou na prisão de Lobão.
Um dia antes, discos rígidos
(HDs) e CPUs de três microcomputadores, que deveriam ter dados sobre o esquema, foram retirados do escritório do contrabandista. Na casa onde ele foi preso
foi descoberto um bilhete escrito
a mão que o alertava sobre a operação policial.
Suspeita
Promotores do Gaeco (Grupo
de Atuação Especial de Repressão
ao Crime Organizado), que investigam a "banda podre" da polícia
paulista, suspeitam que seus telefones celulares e particulares foram grampeados ilegalmente.
Ontem, o Ministério Público
descobriu que o celular de um dos
seis promotores do Gaeco foi clonado. Há dois dias, todos passaram a perceber interferências nos
sinais dos telefones móveis, típicas de quem está sendo monitorado à distância.
"A investigação está sendo monitorada, provavelmente por
agentes públicos interessados em
prejudicá-la", disse o promotor
Rodrigo Canellas Dias. O caso será investigado pelo Gaeco e os telefones usados pelos promotores
vão passar por uma varredura.
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