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São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Suposta tesoureira de contrabandista de cigarros teria feita transações nesse valor no período de 56 dias

Grampo indica movimentação de R$ 3,6 mi

GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Escutas telefônicas feitas pela Procuradoria da República de Brasília revelam que Tânia dos Santos, 35, apontada como a tesoureira do contrabandista de cigarros Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, movimentou pelo menos R$ 3,6 milhões em 56 dias.
Os grampos mostram, segundo a CPI da Pirataria, um esquema de lavagem de dinheiro, pagamento de fornecedores por meio de contas bancárias de laranjas e evasão de divisas com participação de casas de câmbio. As seis escutas foram feitas em curtos períodos de fevereiro, março, junho e julho. Os valores totalizam R$ 2,1 milhões e US$ 498 mil.
Nas conversas, Tânia dos Santos pede a doleiros de três casas de câmbio contas bancárias que poderiam ser usadas para lavar dinheiro ou enviar valores para fora do país, no caso o Paraguai. As contas de laranjas também seriam usadas para efetuar pagamentos.
A suposta tesoureira foi presa no dia 3. Com ela, foram apreendidos documentos com balancetes das operações. Apesar disso, Tânia dos Santos negou ontem à CPI conhecer Lobão.
Disse que era apenas auxiliar de escritório, mas não soube explicar por que o contrato de aluguel da sede da transportadora Búfalo Branco -empresa que é de Lobão, mas está no nome de um laranja, segundo a CPI- está no seu nome há dois anos.
Com respostas irônicas, ela chegou a irritar os deputados. Disse que trabalhava como prostituta na rua depois de deixar a transportadora. A informação, inexistente nos grampos, foi interpretada pela CPI com uma estratégia para desviar a investigação.
O soldado da PM Arnaldo Ferracini e o sargento Luiz Carlos Filho, que admitiram serem os responsáveis pela proteção da família de Lobão, desmentiram Tânia dos Santos. Eles disseram que recebiam dela os R$ 36 mil cobrados pelo serviço. Ferracini afirmou que chegou a ver Lobão e Tânia dos Santos juntos.
A CPI pretendia ouvir ontem, pela terceira vez, o delegado Ettore Capalbo Sobrinho, do setor de investigações da Delegacia Seccional Leste, mas foi surpreendida com a notícia de sua internação. Ele é suspeito de ter dado a ordem para liberar uma carga apreendida e que era de Lobão.
A declaração de internação -na madrugada de ontem-, feita pelo Hospital Albert Einstein e trazida pelo advogado do delegado, sem assinatura de um médico, provocou desconfiança. Policiais federais foram ao hospital. Um atestado médico, feito depois, declarou que o delegado apresentava quadro de hipertensão.
Os deputados também querem dados da Polícia Federal sobre o vazamento de informações sobre a operação que terminou na prisão de Lobão.
Um dia antes, discos rígidos (HDs) e CPUs de três microcomputadores, que deveriam ter dados sobre o esquema, foram retirados do escritório do contrabandista. Na casa onde ele foi preso foi descoberto um bilhete escrito a mão que o alertava sobre a operação policial.

Suspeita
Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que investigam a "banda podre" da polícia paulista, suspeitam que seus telefones celulares e particulares foram grampeados ilegalmente.
Ontem, o Ministério Público descobriu que o celular de um dos seis promotores do Gaeco foi clonado. Há dois dias, todos passaram a perceber interferências nos sinais dos telefones móveis, típicas de quem está sendo monitorado à distância.
"A investigação está sendo monitorada, provavelmente por agentes públicos interessados em prejudicá-la", disse o promotor Rodrigo Canellas Dias. O caso será investigado pelo Gaeco e os telefones usados pelos promotores vão passar por uma varredura.


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