São Paulo, Quarta-feira, 20 de Outubro de 1999
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SAÚDE

Sistema Nacional de Transplantes libera afinal atuação de equipes experientes mesmo sem recadastramento

Burocracia emperra transplante duplo

da Reportagem Local

A falta de comunicação entre o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e a Central de Transplantes de São Paulo, além dos obstáculos burocráticos, estão atrasando o início da realização de transplantes conjugados rim-pâncreas no Estado, onde 80 pessoas aguardam em lista de espera.
Uma portaria do Ministério da Saúde, publicada no último dia 22 de julho, incluiu o transplante duplo (para pacientes diabéticos que estão com os rins paralisados) entre os procedimentos pagos pelo SUS e abriu uma fila paralela para os pacientes que necessitam dos dois órgãos.
A mesma portaria exigiu que os centros médicos e as equipes especializadas se cadastrassem junto ao SNT para a realização do transplante conjugado. Até agora, após três meses, nenhuma equipe recebeu o cadastramento.
Ontem, no entanto, o coordenador do SNT, Rafael Barbosa, informou à Folha que as equipes e os hospitais que já eram cadastrados para transplantes de rim e que têm experiência com o transplante conjugado já podem fazê-lo, mesmo antes de receber o cadastramento. Eles serão ressarcido pelo SUS. É o caso da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e da Santa Casa de Porto Alegre.

Impasse
Barbosa disse que avisou as equipes médicas dos dois hospitais na semana passada sobre a decisão. Nem assim os procedimentos começaram a ser realizados. As versões:
1) Segundo Marcelo Perosa, cirurgião de transplante de fígado e pâncreas da Beneficência Portuguesa, a Central de Transplantes de São Paulo não permitiu a realização de transplantes ainda porque não foi notificada sobre a nova decisão do SNT;
2) Barbosa disse que não notificou a central porque esta ainda não havia criado a lista única de pacientes que esperam o transplante conjugado no Estado;
3) Agenor Ferraz, coordenador da Central de Transplantes de São Paulo, afirma que a lista, com 80 nomes, já está pronta, e que aguarda aviso oficial para permitir o início do procedimento.
Não fosse o processo burocrático e a falta de comunicação, até 12 pessoas poderiam ter recebido os dois órgãos no Estado desde a publicação da portaria, considerando que a equipe de Perosa está preparada para realizar um transplante conjugado por semana.
No final da tarde de ontem, Barbosa voltou a falar com a reportagem e disse que tentou entrar em contato com a Central de Transplantes de São Paulo, mas não conseguiu. "Amanhã (hoje) a central estará notificada", disse.
Segundo ele, pelo novo credenciamento, o Hospital Clementino Fraga, do Rio de Janeiro, foi o único hospital habilitado até agora para realizar o transplante conjugado. "O novo credenciamento da equipe de Perosa, apesar de não ser mais necessário para o início das atividades, também foi autorizado, e a portaria no Diário Oficial da União deve sair até o início da próxima semana."
Segundo ele, o credenciamento, quando os documentos chegam ao STN, demora cerca de dez dias para ser liberado. No entanto, os documentos da equipe de Perosa foram encaminhados pela Central de Transplantes de São Paulo no dia 29 de setembro. Sua equipe foi responsável por 10 dos cerca de 20 transplantes duplos realizados no país entre 96 e 97.
Ana Saldanha, coordenadora de outra equipe de transplante de rim da Beneficência Portuguesa, também aguarda o fim do impasse para começar a agir.
"Nós realizamos sete transplantes duplos de janeiro de 96 a junho de 99. Três dos pacientes tinham convênio médico e, para os outros quatro, fizemos gratuitamente mesmo, já que não havia cobertura do SUS", diz. "Agora vamos recomeçar a trabalhar."
"Espero que agora o impasse tenha acabado. Os diabéticos que têm insuficiência renal precisam ter prioridade porque, sem os novos órgãos, eles resistem a sessões de hemodiálise por apenas 36 meses", diz Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Assistência ao Diabético.




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