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SEM PESADELOS
Vítimas de violência voltaram a dormir tranqüilamente após sessões de terapia realizadas na Unifesp
Tratamento recupera sono de seqüestrado
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de um assalto ou seqüestro, é comum as vítimas passarem
noites sem dormir, com pesadelos sobre o crime. Algumas, no
entanto, não conseguem mais ter
um sono tranqüilo mesmo meses
depois da violência e começam a
perder qualidade de vida. Cansadas e sem concentração, podem
ter até prejuízos no trabalho.
Preocupada com este tipo de paciente, uma equipe de psicólogos
e psiquiatras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) começou a tratar vítimas de crimes
que sofrem de alterações no sono
há um ano.
Oito pacientes fizeram parte da
primeira fase do estudo e, após
uma média de cinco sessões de terapia individual, sem medicamento, conseguiram voltar a dormir normalmente. Todos sofriam
de estresse pós-traumático, uma
doença que se desenvolve após
uma situação de risco ou perda.
Agora, a mesma equipe quer saber se o tratamento com psicoterapia também funciona para as
vítimas com transtornos de sono
um pouco mais leves e está recrutando voluntários que passaram
por assaltos ou seqüestros nos últimos cinco anos anos e que apresentam alterações no sono.
"Estamos em busca de vítimas
que sofrem de insônia por causa
de um evento traumático violento
e também de mais pacientes que
desenvolveram o estresse", diz a
psicóloga Mara Regina Raboni,
pesquisadora do Departamento
de Psicobiologia da Unifesp.
Ela explica que os pacientes passam por exames clínicos, como a
polissonografia (que mede as ondas cerebrais durante o sono),
psicológicos e de memória. "A
grande maioria não consegue tirar o crime da cabeça e acaba tendo pesadelos. Os mais comuns
são com o local do trauma ou com
o criminoso."
Esses pacientes, conta Raboni,
acordam muitas vezes durante a
noite e não conseguem ter um sono reparador. Antes de passar pelo trauma, eles dormiam normalmente. "Se o problema foi causado por uma ação violenta, seja assalto ou seqüestro, temos de trabalhar a questão. A terapia tem o
objetivo de fazer com que o paciente deixe de ter a lembrança e
durma melhor."
O tratamento, gratuito, é destinado para pacientes de qualquer
sexo, que tenha entre 19 e 40 anos.
Não podem participar aqueles
que usam medicamentos contínuos que interfiram no sono.
Quem quiser se inscrever no estudo como voluntário deve ligar para o telefone 0/xx/11/5575.1677.
Paciente agora dorme
Renato (nome fictício) foi um
dos oito pacientes que fizeram
parte da primeira turma do tratamento. Em uma tarde de janeiro,
ele estava trabalhando quando
um criminoso cruzou seu caminho em uma rua movimentada da
capital e, com a arma em mãos, o
assaltou. Apesar de rápido, o crime durou tempo suficiente para
que Renato nunca mais esquecesse o revólver em sua cabeça.
Não conseguiu mais dormir
uma noite inteira. Bastava pregar
o olho para se recordar da cena e
os pesadelos começarem. Os sonhos mais comuns eram com as
roupas e o rosto do ladrão.
Além da insônia, passou a perder peso e a concentração no trabalho. Ficou preocupado e quando soube do estudo da Unifesp, se
candidatou como voluntário. O
tratamento começou em maio e,
depois de cinco semanas, já estava
bem. "A eficácia foi excelente.
Hoje, ainda me lembro de vez em
quando do assalto, mas já consigo
dormir e ter uma vida melhor."
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