São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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SEM PESADELOS

Vítimas de violência voltaram a dormir tranqüilamente após sessões de terapia realizadas na Unifesp

Tratamento recupera sono de seqüestrado

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um assalto ou seqüestro, é comum as vítimas passarem noites sem dormir, com pesadelos sobre o crime. Algumas, no entanto, não conseguem mais ter um sono tranqüilo mesmo meses depois da violência e começam a perder qualidade de vida. Cansadas e sem concentração, podem ter até prejuízos no trabalho. Preocupada com este tipo de paciente, uma equipe de psicólogos e psiquiatras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) começou a tratar vítimas de crimes que sofrem de alterações no sono há um ano.
Oito pacientes fizeram parte da primeira fase do estudo e, após uma média de cinco sessões de terapia individual, sem medicamento, conseguiram voltar a dormir normalmente. Todos sofriam de estresse pós-traumático, uma doença que se desenvolve após uma situação de risco ou perda.
Agora, a mesma equipe quer saber se o tratamento com psicoterapia também funciona para as vítimas com transtornos de sono um pouco mais leves e está recrutando voluntários que passaram por assaltos ou seqüestros nos últimos cinco anos anos e que apresentam alterações no sono.
"Estamos em busca de vítimas que sofrem de insônia por causa de um evento traumático violento e também de mais pacientes que desenvolveram o estresse", diz a psicóloga Mara Regina Raboni, pesquisadora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.
Ela explica que os pacientes passam por exames clínicos, como a polissonografia (que mede as ondas cerebrais durante o sono), psicológicos e de memória. "A grande maioria não consegue tirar o crime da cabeça e acaba tendo pesadelos. Os mais comuns são com o local do trauma ou com o criminoso."
Esses pacientes, conta Raboni, acordam muitas vezes durante a noite e não conseguem ter um sono reparador. Antes de passar pelo trauma, eles dormiam normalmente. "Se o problema foi causado por uma ação violenta, seja assalto ou seqüestro, temos de trabalhar a questão. A terapia tem o objetivo de fazer com que o paciente deixe de ter a lembrança e durma melhor."
O tratamento, gratuito, é destinado para pacientes de qualquer sexo, que tenha entre 19 e 40 anos. Não podem participar aqueles que usam medicamentos contínuos que interfiram no sono. Quem quiser se inscrever no estudo como voluntário deve ligar para o telefone 0/xx/11/5575.1677.

Paciente agora dorme
Renato (nome fictício) foi um dos oito pacientes que fizeram parte da primeira turma do tratamento. Em uma tarde de janeiro, ele estava trabalhando quando um criminoso cruzou seu caminho em uma rua movimentada da capital e, com a arma em mãos, o assaltou. Apesar de rápido, o crime durou tempo suficiente para que Renato nunca mais esquecesse o revólver em sua cabeça.
Não conseguiu mais dormir uma noite inteira. Bastava pregar o olho para se recordar da cena e os pesadelos começarem. Os sonhos mais comuns eram com as roupas e o rosto do ladrão.
Além da insônia, passou a perder peso e a concentração no trabalho. Ficou preocupado e quando soube do estudo da Unifesp, se candidatou como voluntário. O tratamento começou em maio e, depois de cinco semanas, já estava bem. "A eficácia foi excelente. Hoje, ainda me lembro de vez em quando do assalto, mas já consigo dormir e ter uma vida melhor."


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