São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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Menos racista, periferia atraiu ex-escravos

DA REPORTAGEM LOCAL

A história econômica de São Paulo nos últimos 200 anos dá elementos que tornam verossímil a existência de um quilombo em Pirituba no século 19.
"No interior do Estado, as plantações de café seguraram os escravos em áreas rurais até a véspera da abolição [em 1888]. Mas na capital houve um esvaziamento progressivo com os movimentos abolicionistas e o mercado de trabalho que absorvia os negros fugitivos e os transformava em trabalhadores", diz Maria Cristina Cortez Wissenbach, professora do departamento de história da USP.
Há relatos de comunidades majoritariamente negras na periferia da cidade no século 19, principalmente nas zonas oeste e norte, onde hoje fica Pirituba. Eles optavam por morar fora do centro por ser mais barato e porque lá havia menos discriminação racial do que nas áreas centrais.
Diferentemente do que muitos imaginam, os quilombos não eram vilas totalmente fechadas. "Eles comercializavam com as cidades ao redor. Não eram comunidades herméticas", afirma Lucília Siqueira, da PUC-SP.
A reputação da marquesa de Santos -de pessoa bondosa e caridosa, que inclusive teria deixado terras para seus escravos no testamento- é de difícil comprovação. Mas há uma grande possibilidade de isso ter ocorrido, diz a historiadora Laima Mesgravis, professora de pós-graduação da Universidade São Marcos.
Há relatos de que a marquesa oferecia banquete aos pobres e mantinha ações de caridade constantes, como outras damas da sociedade paulistana. Ao mesmo tempo, alguns historiadores narram um cotidiano de confrontos violentos entre brancos e negros.
"Como sempre, a elite tinha uma relação ambígua com a força de trabalho. Tolerava a formação de quilombos e só atacava quando se sentia incomodada financeiramente ou politicamente. Acho que, no caso da marquesa, a relação pode ter sido de simpatia e convivência pacífica com os negros dessa região. Não era incomum que os donos de terras tratassem bem seus escravos", diz Mesgravis. (FS)


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