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Menos racista, periferia atraiu ex-escravos
DA REPORTAGEM LOCAL
A história econômica de São
Paulo nos últimos 200 anos dá
elementos que tornam verossímil
a existência de um quilombo em
Pirituba no século 19.
"No interior do Estado, as plantações de café seguraram os escravos em áreas rurais até a véspera
da abolição [em 1888]. Mas na capital houve um esvaziamento
progressivo com os movimentos
abolicionistas e o mercado de trabalho que absorvia os negros fugitivos e os transformava em trabalhadores", diz Maria Cristina Cortez Wissenbach, professora do
departamento de história da USP.
Há relatos de comunidades majoritariamente negras na periferia
da cidade no século 19, principalmente nas zonas oeste e norte, onde hoje fica Pirituba. Eles optavam por morar fora do centro por
ser mais barato e porque lá havia
menos discriminação racial do
que nas áreas centrais.
Diferentemente do que muitos
imaginam, os quilombos não
eram vilas totalmente fechadas.
"Eles comercializavam com as cidades ao redor. Não eram comunidades herméticas", afirma Lucília Siqueira, da PUC-SP.
A reputação da marquesa de
Santos -de pessoa bondosa e caridosa, que inclusive teria deixado
terras para seus escravos no testamento- é de difícil comprovação. Mas há uma grande possibilidade de isso ter ocorrido, diz a
historiadora Laima Mesgravis,
professora de pós-graduação da
Universidade São Marcos.
Há relatos de que a marquesa
oferecia banquete aos pobres e
mantinha ações de caridade constantes, como outras damas da sociedade paulistana. Ao mesmo
tempo, alguns historiadores narram um cotidiano de confrontos
violentos entre brancos e negros.
"Como sempre, a elite tinha
uma relação ambígua com a força
de trabalho. Tolerava a formação
de quilombos e só atacava quando se sentia incomodada financeiramente ou politicamente.
Acho que, no caso da marquesa, a
relação pode ter sido de simpatia
e convivência pacífica com os negros dessa região. Não era incomum que os donos de terras tratassem bem seus escravos", diz
Mesgravis.
(FS)
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