São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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BARBARA GANCIA

Anoiteceu e a colunista gemeu

"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel": que me perdoem os descendentes do compositor Assis Valente (1908-1958), autor do clássico "Anoiteceu - Boas Festas", mas, se existisse um concurso para eleger a frase mais estúpida de todos os tempos, essa seria a minha candidata.
Quem, em sã consciência, poderia pensar uma asneira dessas? Por acaso algum de nós tem o biótipo do Papai Noel? O leitor mais ranheta irá dizer que sim, que brazucas como o Guga não deixam Assis Valente mentir. Pode ser. Mas já imaginou vir com essa ladainha de "filho de Papai Noel" na Bahia ou no Maranhão?
E que vantagem haveria em ser "filho de Papai Noel"? Será que o filho do Papai Noel ganha presentes mesmo se disser nome feio ou fizer pipi na cama? Conhecendo o espírito equânime do bom velhinho, eu diria que não.
Se ele fosse dado a nepotismos ou a favorecimentos ilícitos, nós já não saberíamos?
Concordo que ele distribui aparelhos de Playstation 2 até para crianças que correm e gritam em restaurantes, que não dizem por favor nem obrigado, que desobedecem aos pais e até para aqueles petizes que mentem à professora, alegando que o cachorro comeu a lição de casa. Mas isso o Papai Noel faz por pura desinformação. Você tem idéia, caro leitor, de quantas vezes só neste ano já não congelaram os cabos da rede de computadores do Papai Noel? Já pensou a confusão que não deve ocorrer quando dá pau nos computadores dele? Que eu saiba, na Lapônia eles manjam de telefones celulares e não de informática, não é mesmo?
De mais a mais, se Santa Claus tivesse filhos, eles provavelmente estariam na faixa dos 40 anos e já teriam passado da idade de escrever cartinhas pedindo brinquedos a estranhos. Mas, digamos que gente grande também pudesse fazer o seu pedido. Eu, que sou um exemplo de altruísmo e modéstia, não pediria para mim, mas para quem está em evidência. Veja só: para Lula eu pediria um aperto de mão mais firme do que aquele de peixe morto que ele deu na mão de Bush. Para Gilberto Gil, uma Flora coadjuvante. Para Rubens Barrichello, que os mecânicos da Ferrari parassem de fazer piadas a seu respeito. Para o ministro Palocci, a saúde que Sérgio Motta não teve. Para Roberto Carlos, uma tesoura. Para Heloísa Helena, um pôster do Luís Estevão. Para o Armínio Fraga, um handicap zero no golfe e uma estátua equestre em praça pública. E, para o goleiro Danrlei, um saco de carvão.


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