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NARCOTRÁFICO
Em diálogo interceptado pela Polícia Federal, traficante diz que pagaria US$ 1 milhão por sua libertação
Beira-Mar cita propina em conversa gravada
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diálogos gravados pela Polícia
Federal com autorização da Justiça mostram que Luiz Fernando
da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, informou a Leonardo Dias
Mendonça, o Leo, que gastaria
US$ 1 milhão para sair da prisão.
Para não alertar a imprensa, a libertação demoraria dois anos.
"Olha só! O doutor Vicente falou o seguinte: que ele resolve,
mas antes de dois anos não, por
causa da imprensa. Então, é uma
coisa muito séria o cara dizer que
resolve e depois me deixar a ver
navio", diz Beira-Mar a Mendonça em diálogo gravado pela PF.
A PF suspeita, ainda sem provas, que o "doutor Vicente" citado seja o ministro Vicente Leal de
Araújo, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Na investigação
denominada Operação Diamante, a PF cita Araújo como parte de
uma rede de concessão irregular
de habeas corpus nos tribunais de
Brasília. O ministro nega.
Além de Araújo, a PF também
suspeita que possam fazer parte
da rede desembargadores federais do TRF da 1ª Região, com sede no Distrito Federal. A PF suspeita ainda que o deputado Pinheiro Landim (PMDB-CE) seria
responsável pela intermediação
entre traficantes e magistrados.
Na semana passada, a PF prendeu Leonardo Dias Mendonça e
outras 23 pessoas em oito Estados
e no Distrito Federal. Elas são acusadas de integrar a quadrilha de
Mendonça, que traria cocaína da
Colômbia mediante acerto com
as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
A PF quebrou o sigilo telefônico
dos suspeitos e flagrou conversas
de Mendonça com o deputado Pinheiro Landim.
Suspeitas
O fato de o ministro do STJ conhecer Landim e de pedidos de
habeas corpus de traficantes terem sido julgados pela 6ª turma
do tribunal levaram a PF a fazer
relação entre o "Vicente" citado
na conversa e o ministro.
"Os contatos aqui registrados
revelam também uma proximidade do deputado [Pinheiro Landim" com um ministro do STJ,
possivelmente com o ministro Vicente Leal, em razão da presença
do mesmo nos acórdãos [decisões
judiciais" aqui elencados, os quais
[foram" em benefício de narcotraficantes e que revelaram interesse do parlamentar", diz o relatório da investigação.
Segundo o relatório, Beira-Mar
pedia auxílio a Mendonça para livrá-lo da prisão. O traficante preso na semana passada argumentava que os problemas deveriam
ser resolvidos "no centro", e não
na cidade de Beira-Mar. Ou seja,
os processos seguiriam mais rápido se fossem julgados em Brasília,
e não no Rio de Janeiro.
"Mas como é que vai poder resolver esse negócio? Tá na minha
cidade ainda?", pergunta Beira-Mar. "Não, vão pegar e vão levar
tudo pro centro", diz Mendonça.
A Folha procurou ontem durante todo o dia o deputado Pinheiro Landim. Foram deixados
recados no gabinete e telefone celular do congressista, mas não
houve resposta.
Ontem, comissão integrada por
três ministros do STJ, criada para
investigar as denúncias contra
Leal, teve reunião com o delegado
da PF responsável pelo caso. Os
ministros ouviram trechos das
gravações.
"A primeira impressão é que
parece existir alguma coisa. Não
sei o se o tribunal [o STJ" está envolvido, mas há conversas envolvendo irregularidades", disse o
ministro Sávio de Figueiredo, que
integra a comissão.
Indícios
"[Não sei" Até onde onde isso é
uma montagem, querendo prejudicar certas pessoas... Eles podem
apontar um determinado fato que
pode acontecer. Se isso der certo,
dizem que conseguiram e fazem
jus a uma remuneração decorrente desse "convencimento". [..." Não
há conversas do ministro [Vicente Leal de Araújo". E o ministro
não é citado", disse Figueiredo.
O ministro Peçanha Martins,
que é da comissão, disse que "há
indícios" de irregularidade. "Saber quem está envolvido na venda
é outra coisa. Os próprios julgadores podem estar sendo vendidos sem saber."
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