São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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ACIDENTE

Pelo menos 28 passageiros do barco Dom Luiz 15-1º continuam desaparecidos; entre os corpos achados, dez são crianças

Já são 22 os mortos em naufrágio no Pará

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Subiu para 22, sendo dez crianças, o número de mortos no naufrágio do barco Dom Luiz 15-1º, ocorrido na noite de terça-feira, no rio Pará, próximo ao porto de Vila de Conde, em Barcarena (PA). Pelo menos 28 passageiros continuavam desaparecidos; 303 foram resgatados.
O barco estava com mais do que o dobro de sua capacidade (140 pessoas), além de transportar 38 toneladas de carga, quando o permitido seria dez toneladas, segundo a Capitania dos Portos.
A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual abriram inquérito para investigar o naufrágio. O dono do barco, Carlos Augusto Gomes da Silva, foi preso em flagrante anteontem à noite. Ele se eximiu de responsabilidade pelo naufrágio em depoimento à polícia, mas admitiu que o barco estava superlotado e que apresentou problemas no motor.
Ele afirmou ter alugado o barco em Manaus por R$ 7.000 para o empresário Antônio Júnior, filho do deputado estadual Antônio Rocha (PMDB-PA), que é dono da Enart (Empresa de Navegação A.R. Transportes Ltda).
Para Silva, a Enart teria ficado responsável pelo transporte dos passageiros na rota Manaus-Santarém-Belém. O deputado e o filho dele não foram localizados ontem pela reportagem, mas devem ser ouvidos no inquérito.
O delegado Gutemberg Catete disse que vai pedir a prisão preventiva do comandante da embarcação, José Carlos Rebelo Cardoso, e do gerente administrativo da viagem, Paulo Narcy. Os dois são considerados foragidos pela polícia. Cardoso teria assumido a embarcação em Santarém. Antes, o barco era conduzido por Ubiratan dos Santos.
"Já ouvimos mais de 40 sobreviventes. Vamos investigar todas as denúncias."
Os depoentes foram unânimes em afirmar que o barco estava lotado e que apanhou passageiros e cargas após deixar Santarém.
O superintendente da Polícia Civil na região do Baixo Amazonas, João Medeiros, afirmou que "o naufrágio foi causado por total descaso" dos responsáveis pelo barco e pela falta de fiscalização. "Eles poderão responder por homicídio qualificado doloso."

Fiscalização
O comandante Jaerte Bazyl, da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, em Belém, admitiu que há falhas de fiscalização em portos intermediários. Disse que precisaria de mais lanchas e mais pessoal para fiscalizar todos os barcos que navegam pelos rios.
Já o comandante da Capitania dos Portos de Manaus, capitão-de-mar-e-guerra Reinaldo Ferreirinha da Silva, disse que o órgão consegue fiscalizar, com 30 inspetores navais, todas as embarcações que saem da cidade.
Em entrevista à TV Liberal, o almirante José Antônio de Castro Leal, comandante do 4º Distrito Naval, disse que o "transporte fluvial não tem regulamentação na Amazônia". A relações-públicas do 4º Distrito, tenente Ana Regina, disse que Leal não poderia atender à Agência Folha ontem.


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