São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

É o 1º caso em hospital público

Autotransplante detém a esclerose múltipla

RODRIGO ROSSI
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto conseguiu conter o avanço da esclerose múltipla -doença degenerativa do sistema nervoso- por meio de um transplante de medula óssea realizado em agosto em um administrador de empresas.
O resultado positivo é o primeiro a ser obtido em um hospital público no país, de acordo com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
O caso foi um autotransplante de célula-tronco -foram reimplantadas no paciente suas próprias células brancas.
O administrador de empresas George Glover, 50, que tem esclerose múltipla há 13 anos, hoje não apresenta sinais de atividade da doença e já pode mexer os dedos dos pés e a perna direita.
A esclerose múltipla é uma doença neurológica, inflamatória e crônica, que geralmente atinge adultos entre 20 e 40 anos. As mulheres são mais afetadas dos que os homens -a proporção é de dois para um.
"O transplante foi feito há quase quatro meses e, até agora, tudo está bem. Portanto, o procedimento deu certo", afirmou o médico Amilton Antunes Barreira, responsável pelo setor de neuroimunologia e doenças neuromusculares da faculdade. Já há dois novos pacientes que devem se submeter ao procedimento.
Para que o transplante fosse realizado, o paciente recebeu uma medicação que fez os glóbulos brancos se "desgarrarem" da medula; com isso, eles passaram a circular. Esse material foi retirado para análise, tratado e congelado.
Quando uma quantidade suficiente para a troca foi obtida, o paciente foi submetido a uma imunossupressão, a qual pode durar semanas. "A imunossupressão acaba com os glóbulos brancos do paciente, que fica sem imunidade, e introduzimos as células-tronco", afirmou Barreira.
O procedimento é feito com cateteres, inseridos nas veias do paciente. "É como se tirássemos a parte ruim e colocássemos apenas a boa." O transplante faz com que a pessoa retorne à "vida infantil", já que as células são reconstituídas como se fossem de um embrião, o que obriga o paciente a tomar vacinas contra sarampo e gripe, por exemplo.
Para a Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), o autotransplante feito no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é um paliativo, já que a doença não deixa de existir na pessoa.
A cirurgia de Ribeirão Preto é a segunda realizada no país que deu resultado positivo, de acordo com a Abem. A outra foi feita no hospital Albert Einstein, em São Paulo. A Folha procurou o hospital, mas não obteve resposta sobre o estado de saúde do paciente.


Texto Anterior: Acidente: Já são 22 os mortos em naufrágio no Pará
Próximo Texto: Panorâmica - Unifesp: Prova de história teve problemas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.