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Prédio modernista abriga mendigo no Rio
Conjunto conhecido como Pedregulho, ícone arquitetônico da década de 40 da então capital do país, vive decadência
Sem manutenção, escadas e pontes cederam, esgoto corre a céu aberto e quadra e piscina foram transferidas para uma escola
Nelson Veiga/Folha Imagem
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Conjunto habitacional que é considerado um ícone do modernismo no país enfrenta degradação
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Um conjunto habitacional,
cujo projeto se inclui entre as
principais obras modernistas
do país, virou abrigo de mendigos no Rio.
Apartamentos com até 80
metros quadrados, com vista
para o mar, situados em condomínio com piscina, quadra esportiva, escola, lago, posto médico, lavanderia e mercado. Tudo em meio a jardins e obras de
arte, na zona norte do Rio.
O que hoje parece anúncio de
lançamento imobiliário para a
classe média alta correspondia,
em 1947, ao primeiro projeto
de habitação popular criado pelo arquiteto Affonso Eduardo
Reidy, então funcionário do
Departamento de Habitação
Popular do Distrito Federal.
Reidy, franco-brasileiro nascido em Paris há cem anos, foi
responsável também pelos projetos arquitetônicos do Aterro
do Flamengo e do MAM (Museu de Arte Moderna).
O conjunto habitacional, em
São Cristóvão, começou a ser
construído em 1948 e foi inaugurado, ainda inacabado, em
1950. Chamado Mendes de
Moraes em homenagem a um
prefeito, ficou conhecido mesmo por Pedregulho, nome de
um largo próximo dali. O prédio principal, com sete pavimentos e 272 apartamentos, só
ficou pronto em 1962.
O conjunto foi concebido para abrigar funcionários da Prefeitura do Distrito Federal -o
Rio, à época. Para ocupar os 56
apartamentos dos dois primeiros blocos concluídos -mediante o pagamento de uma taxa à prefeitura-, houve uma
seleção com base em critérios
como maior número de filhos.
Também era exigida aprovação em exame médico, pois todas as roupas eram lavadas juntas. A arquiteta Helga Santos,
autora de dissertação de mestrado sobre o conjunto narra
que uma família quase foi despejada porque um integrante
contraiu tuberculose.
Nos primeiros anos, o projeto funcionou como Reidy previa -assistentes sociais intervinham em discussões entre vizinhos e recreadoras ficavam
com as crianças.
Mas, desde que Brasília virou
a capital, em 1960, a administração do conjunto passou por
vários órgãos -hoje, cabe à Secretaria Estadual da Habitação- e a degradação teve início.
Aos 59 anos, o conjunto ainda atrai muita gente -principalmente arquitetos e urbanistas -, mas quase nada lembra a
época áurea do imóvel.
Sem manutenção, escadas e
pontes cederam. Em muitos
trechos o esgoto corre a céu
aberto. Algumas áreas foram
invadidas por moradores de
rua, que dormem nas escadas
ou nas lixeiras desativadas.
Segundo Hamilton Marinho,
presidente da associação de
moradores, menos da metade
dos moradores desembolsa os
R$ 20 mensais de taxa de administração, usada para pagar os
três funcionários que entregam
cartas e recolhem o lixo.
A luz das áreas comuns já foi
cortada tantas vezes que a conta foi dividida em blocos. O conjunto deve R$ 1 milhão pelo fornecimento de água.
A lavanderia fechou na década de 1970. A quadra e a piscina
foram transferidas para a escola municipal. O lago secou e o
posto médico, depredado, virou
abrigo para moradores de rua.
"De vez em quando a gente
ouve uns pipocos", diz a aposentada Maria Sant'Anna Souza, 88, que mora no prédio há
50 anos. "Mas não tenho medo,
adoro aqui. O problema é a desorganização", diz a mulher,
cujo marido, morto há quatro
anos, era músico da extinta Polícia Municipal.
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