São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Símbolo do milênio, menina faz ioga e acessa internet pelo celular

Para comemorar a passagem do tempo, reportagem relata a recente trajetória do primeiro bebê de 2000 e as expectativas de um paulistano de 103 anos

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Maria Luiza nasceu com a cabeça e os pés voltados para o século 21. Sabe equilibrar momentos zen com períodos de alta tensão. Vive grudada no iPod, mas sabe apreciar o silêncio quando pratica ioga. Jura ser tímida, só que adora se exibir no palco -ela faz teatro.
Bate papo com as amigas no MSN ao mesmo tempo em que quebra a cabeça para resolver os problemas do Sudoku. Se a grana é curta, lá vai ela correr atrás de um bazar para vender suas "bijus".
Como tantas pré-adolescentes da sua geração, Maria Luiza tem a cara do novo milênio: antenada, independente e rápida, muito rápida. Só ela tem algo a mais: é, de fato, uma garota-símbolo da nova era.
À 0h01 de 1º de janeiro de 2000, tornou-se um bebê-celebridade após ter seu respiro inaugural postado na web, transmitido pela TV e registrado por um batalhão de câmeras. Maria Luiza foi a primeira criança a nascer em São Paulo na virada do novo milênio.
Nasceu com o mouse como extensão das mãos, como autêntica representante da garotada plugada deste novo século.
É do tipo que faz o dever de casa sem pedir auxílio aos pais. Jamais liga o celular na classe. "Para falar a verdade, uso mais o iPhone para acessar o MP11 e ver TV", explica.
Quando a mãe e o pai, o publicitário Luiz Fernando Ramos Schubert, 46, esgotam o gás diante de tanta energia da filha, Maria Luiza não se faz de rogada. Em menos de cinco minutos, aciona um grupo de coleguinhas e garante a festa no playground do prédio onde mora, nos Jardins, com direito a futebol e tudo o mais.
Se existe uma coisa que Maria Luiza definitivamente não suporta, é ficar sozinha. Nada de se espantar, afinal de contas, ela já nasceu cercada de atenção. E de muita gente.

103 anos
Antonio Lebre Pinto olha para o infinito quando questionado sobre alguns acontecimentos que marcaram sua vida que percorreu nove décadas do século 20. Mas esse senhor quase não pisca se o assunto em questão é a maior paixão de sua vida, a mulher Lucy -única que teve.
Eles tiveram dois filhos. O primeiro faleceu aos 12 anos; o segundo, Luiz, hoje com 77 anos, cuida de um agência de mídia agrícola. Diariamente, pai e filho falam ao telefone... convencional. Nenhum dos dois tem celular, aparelhinho básico para os três netos e para os cinco bisnetos.
Há seis anos, mora no Recanto Monte Alegre, um residencial para idosos, na zona sul. Apesar das dificuldades decorrentes da idade, Antonio diz que hoje vivemos num mundo melhor. "Temos mais recursos para a saúde, sem contar a oferta de alimentos."
Continua a detestar política. "Cansei de esperar que aparecesse algum honesto", dá risada. Sente saudade da administração do presidente Washington Luís (1926-1930): "A melhor que o país já teve".
Prefere deletar, ou melhor, apagar as notícias das duas grandes guerras mundiais. "Guerras foram inúteis e continuam sendo inúteis", diz.
No final da entrevista, pede uma foto para colocar ao lado do porta-retrato de Lucy, com quem foi casado por mais de meio século.


Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: A inteligência no lixo
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.