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Símbolo do milênio, menina faz ioga e acessa internet pelo celular
Para comemorar a passagem do tempo, reportagem relata a recente trajetória do primeiro bebê de 2000 e as expectativas de um paulistano de 103 anos
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Maria Luiza nasceu com a cabeça e os pés voltados para o século 21. Sabe equilibrar momentos zen com períodos de alta tensão. Vive grudada no
iPod, mas sabe apreciar o silêncio quando pratica ioga. Jura
ser tímida, só que adora se exibir no palco -ela faz teatro.
Bate papo com as amigas no
MSN ao mesmo tempo em que
quebra a cabeça para resolver
os problemas do Sudoku. Se a
grana é curta, lá vai ela correr
atrás de um bazar para vender
suas "bijus".
Como tantas pré-adolescentes da sua geração, Maria Luiza
tem a cara do novo milênio: antenada, independente e rápida,
muito rápida. Só ela tem algo a
mais: é, de fato, uma garota-símbolo da nova era.
À 0h01 de 1º de janeiro de
2000, tornou-se um bebê-celebridade após ter seu respiro
inaugural postado na web,
transmitido pela TV e registrado por um batalhão de câmeras.
Maria Luiza foi a primeira
criança a nascer em São Paulo
na virada do novo milênio.
Nasceu com o mouse como
extensão das mãos, como autêntica representante da garotada plugada deste novo século.
É do tipo que faz o dever de
casa sem pedir auxílio aos pais.
Jamais liga o celular na classe.
"Para falar a verdade, uso mais
o iPhone para acessar o MP11 e
ver TV", explica.
Quando a mãe e o pai, o publicitário Luiz Fernando Ramos Schubert, 46, esgotam o
gás diante de tanta energia da
filha, Maria Luiza não se faz de
rogada. Em menos de cinco minutos, aciona um grupo de coleguinhas e garante a festa no
playground do prédio onde mora, nos Jardins, com direito a
futebol e tudo o mais.
Se existe uma coisa que Maria Luiza definitivamente não
suporta, é ficar sozinha. Nada
de se espantar, afinal de contas,
ela já nasceu cercada de atenção. E de muita gente.
103 anos
Antonio Lebre Pinto olha para o infinito quando questionado sobre alguns acontecimentos que marcaram sua vida que
percorreu nove décadas do século 20. Mas esse senhor quase
não pisca se o assunto em questão é a maior paixão de sua vida,
a mulher Lucy -única que teve.
Eles tiveram dois filhos. O
primeiro faleceu aos 12 anos; o
segundo, Luiz, hoje com 77
anos, cuida de um agência de
mídia agrícola. Diariamente,
pai e filho falam ao telefone...
convencional. Nenhum dos
dois tem celular, aparelhinho
básico para os três netos e para
os cinco bisnetos.
Há seis anos, mora no Recanto Monte Alegre, um residencial para idosos, na zona sul.
Apesar das dificuldades decorrentes da idade, Antonio diz
que hoje vivemos num mundo
melhor. "Temos mais recursos
para a saúde, sem contar a oferta de alimentos."
Continua a detestar política.
"Cansei de esperar que aparecesse algum honesto", dá risada. Sente saudade da administração do presidente Washington Luís (1926-1930): "A melhor que o país já teve".
Prefere deletar, ou melhor,
apagar as notícias das duas
grandes guerras mundiais.
"Guerras foram inúteis e continuam sendo inúteis", diz.
No final da entrevista, pede
uma foto para colocar ao lado
do porta-retrato de Lucy, com
quem foi casado por mais de
meio século.
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