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CENSO 2000
Matinhas, a 145 km de João Pessoa, perdeu quase 2.000 moradores desde 1996; cidade não tem arrecadação própria
Só idosos e crianças ficam em cidade da PB
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MATINHAS
Em quatro anos, o município
de Matinhas (145 km de João Pessoa) perdeu quase 2.000 moradores. A cidade, que em 1996 contava com 6.035 habitantes, hoje tem
4.079, a maioria idosos e crianças.
Os jovens partem em busca de
emprego. Na casa de Maria de
Lurdes da Silva, 57, e João Manuel
da Silva, 57, sete filhos migraram:
seis foram para João Pessoa e um
está mais perto, em Campina
Grande, que fica a 23 km de Matinhas. Só o filho caçula continua
em casa, mas não por muito tempo. Geraldo, 18, pretende ir para a
capital paraibana em junho.
"Aqui não tem emprego. Lá dá
para pensar em melhorar de vida.
Vou até estudar", afirma.
Maria de Lurdes e o marido vivem apenas do que plantam: milho, feijão e fava. "A gente ganha
para sobreviver", disse João Manuel. "Mas, fazer o quê? Meu lugar é aqui mesmo."
A falta dos filhos é recompensada pela certeza de que eles estão
trabalhando e têm o que comer.
"Não tem o que fazer aqui. Só os
velhos ficam porque, com a idade,
vai arranjar emprego onde?", afirmou João Manuel.
O dinheiro da aposentadoria
-um salário mínimo- é o que
sustenta a casa de Belarmina Maria Fernandes, 82, e seu marido,
Severino Fernandes, 89. Dos sete
filhos do casal, dois continuam vivendo em Matinhas, quatro foram para o Rio de Janeiro e um está em Campina Grande.
Os netos também estão longe.
As duas filhas de Inácio Lourenço
Fernandes, 52, um dos filhos do
casal que não deixaram o município, também foram tentar a vida
em João Pessoa. "Nem sei onde
elas estão", disse Inácio, que já
tentou trabalhar no Rio, mas voltou para a terra natal. "Não podia
deixar os meus pais sozinhos."
Os cinco filhos de Josefa Ferreira, 54, que vivem em São Paulo
ajudam financeiramente os pais e
os outros sete irmãos que continuam em Matinhas. Ainda assim,
é pouco. "A gente fica feliz quando tem o que comer", disse Josefa.
Pedro Antônio de Souza, 31, é
um dos poucos de sua geração
que decidiram não sair do município. Ele vive com os pais, a mulher e dois filhos pequenos. Trabalhos na roça e qualquer outro
tipo de serviço que apareça sustentam sua família. "Até penso
em sair daqui, mas só se tivesse
um emprego certo em vista. Se é
para sofrer, prefiro ficar", disse.
Matinhas não tem arrecadação.
A única fonte de renda do município é o FPM (Fundo de Participação dos Municípios), que chega a
R$ 100 mil por mês.
"Até cobramos o IPTU, mas
ninguém paga porque ninguém
tem dinheiro", disse o prefeito Pedro Sudério (PMDB), reeleito em
outubro. Segundo ele, o principal
problema da cidade é a seca. "Se
não tem água, não tem vida."
O município passou por uma
forte estiagem entre os anos de
1996 e 1999. Em 2000, choveu, o
que não resolveu a situação dos
moradores. Sudério reconhece
que, com tantas dificuldades, a
única saída para os jovens é buscar trabalho em outros lugares.
Nem a prefeitura emprega. São
155 funcionários, quase todos
moradores de Campina Grande.
Aliás, nem o próprio prefeito mora em Matinhas. "Como é que a
gente vai colocar gente da terra se
não tem ninguém capacitado?",
pergunta o prefeito.
Com tão pouco dinheiro no
município, a intenção agora é
conseguir apoio do governo do
Estado para asfaltar alguns trechos de difícil acesso. Isso facilitaria o transporte de produtos agrícolas, como laranja e banana.
Para aliviar um pouco mais o
problema da seca, o prefeito disse
que o município está implementando um programa de perfuração de poços naturais, para aproveitar melhor a água da chuva.
Fora isso, a esperança é a transposição do rio São Francisco.
"Tive uma farmácia durante 35
anos, e nesse tempo todo dei remédio para o povo de Matinhas.
Mas não adianta você fazer tudo
pelas pessoas se não tem água",
afirmou Sudério.
(KAMILA FERNANDES)
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