São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2001

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CENSO 2000

Matinhas, a 145 km de João Pessoa, perdeu quase 2.000 moradores desde 1996; cidade não tem arrecadação própria

Só idosos e crianças ficam em cidade da PB

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MATINHAS

Em quatro anos, o município de Matinhas (145 km de João Pessoa) perdeu quase 2.000 moradores. A cidade, que em 1996 contava com 6.035 habitantes, hoje tem 4.079, a maioria idosos e crianças.
Os jovens partem em busca de emprego. Na casa de Maria de Lurdes da Silva, 57, e João Manuel da Silva, 57, sete filhos migraram: seis foram para João Pessoa e um está mais perto, em Campina Grande, que fica a 23 km de Matinhas. Só o filho caçula continua em casa, mas não por muito tempo. Geraldo, 18, pretende ir para a capital paraibana em junho.
"Aqui não tem emprego. Lá dá para pensar em melhorar de vida. Vou até estudar", afirma.
Maria de Lurdes e o marido vivem apenas do que plantam: milho, feijão e fava. "A gente ganha para sobreviver", disse João Manuel. "Mas, fazer o quê? Meu lugar é aqui mesmo."
A falta dos filhos é recompensada pela certeza de que eles estão trabalhando e têm o que comer. "Não tem o que fazer aqui. Só os velhos ficam porque, com a idade, vai arranjar emprego onde?", afirmou João Manuel.
O dinheiro da aposentadoria -um salário mínimo- é o que sustenta a casa de Belarmina Maria Fernandes, 82, e seu marido, Severino Fernandes, 89. Dos sete filhos do casal, dois continuam vivendo em Matinhas, quatro foram para o Rio de Janeiro e um está em Campina Grande.
Os netos também estão longe. As duas filhas de Inácio Lourenço Fernandes, 52, um dos filhos do casal que não deixaram o município, também foram tentar a vida em João Pessoa. "Nem sei onde elas estão", disse Inácio, que já tentou trabalhar no Rio, mas voltou para a terra natal. "Não podia deixar os meus pais sozinhos."
Os cinco filhos de Josefa Ferreira, 54, que vivem em São Paulo ajudam financeiramente os pais e os outros sete irmãos que continuam em Matinhas. Ainda assim, é pouco. "A gente fica feliz quando tem o que comer", disse Josefa.
Pedro Antônio de Souza, 31, é um dos poucos de sua geração que decidiram não sair do município. Ele vive com os pais, a mulher e dois filhos pequenos. Trabalhos na roça e qualquer outro tipo de serviço que apareça sustentam sua família. "Até penso em sair daqui, mas só se tivesse um emprego certo em vista. Se é para sofrer, prefiro ficar", disse.
Matinhas não tem arrecadação. A única fonte de renda do município é o FPM (Fundo de Participação dos Municípios), que chega a R$ 100 mil por mês.
"Até cobramos o IPTU, mas ninguém paga porque ninguém tem dinheiro", disse o prefeito Pedro Sudério (PMDB), reeleito em outubro. Segundo ele, o principal problema da cidade é a seca. "Se não tem água, não tem vida."
O município passou por uma forte estiagem entre os anos de 1996 e 1999. Em 2000, choveu, o que não resolveu a situação dos moradores. Sudério reconhece que, com tantas dificuldades, a única saída para os jovens é buscar trabalho em outros lugares.
Nem a prefeitura emprega. São 155 funcionários, quase todos moradores de Campina Grande. Aliás, nem o próprio prefeito mora em Matinhas. "Como é que a gente vai colocar gente da terra se não tem ninguém capacitado?", pergunta o prefeito.
Com tão pouco dinheiro no município, a intenção agora é conseguir apoio do governo do Estado para asfaltar alguns trechos de difícil acesso. Isso facilitaria o transporte de produtos agrícolas, como laranja e banana.
Para aliviar um pouco mais o problema da seca, o prefeito disse que o município está implementando um programa de perfuração de poços naturais, para aproveitar melhor a água da chuva. Fora isso, a esperança é a transposição do rio São Francisco.
"Tive uma farmácia durante 35 anos, e nesse tempo todo dei remédio para o povo de Matinhas. Mas não adianta você fazer tudo pelas pessoas se não tem água", afirmou Sudério.
(KAMILA FERNANDES)


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