São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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POLÍCIA

Em SP, revista com anúncios de garotas de programa é distribuída gratuitamente em órgão criado para combater o turismo sexual

Delegacia para turista divulga prostituição

DO "AGORA"

Quem procura informações turísticas sobre a cidade de São Paulo na 1ª Deatur (Delegacia de Atendimento ao Turista), da Polícia Civil, na avenida São Luís, nº 91 (centro), pode se surpreender ao encontrar anúncios ligados à prostituição em algumas das várias revistas que são distribuídas gratuitamente na recepção.
Ontem à tarde, horas antes do início do Carnaval na capital paulista, a reportagem flagrou, dentro da delegacia, dezenas de exemplares da revista Magazine Turismo & Hotelaria, publicação que tem quase um terço de suas páginas dedicadas a anúncios de garotas de programa e casas de massagem da cidade.
Contraditoriamente, uma das principais responsabilidades da Deatur é o combate ao turismo sexual em São Paulo, muito procurado por estrangeiros e executivos em visita à cidade.
Para confirmar se os anúncios veiculados nos exemplares da Magazine Turismo & Hotelaria traziam realmente publicidade de prostituição, a reportagem telefonou para duas garotas que têm seus telefones e fotos disponibilizados nas páginas da revista.

Programa
Ambas confirmaram que são prostitutas e que cobram, em média, entre R$ 150 e R$ 200 por hora. O programa, de acordo com elas, pode acontecer no apartamento onde moram ou em um local determinado pela pessoa que as contrata. As duas mulheres também confirmaram que o anúncio na revista atrai muitos clientes, principalmente os que visitam a capital.
Alguns dos anúncios são escritos em inglês e, em vários deles, as garotas destacam saber falar inglês e espanhol.
Os anúncios das garotas de programa e das casas de massagem tem lugar de destaque na revista -esse tipo de publicidade ocupava, na edição 358, 38 das 128 páginas da Magazine Turismo & Hotelaria. A publicação, cujo público-alvo são as classes A e B, é mensal, tem tiragem de 40 mil exemplares e é impressa em cores e em papel de alta qualidade.
Além dos anúncios ligados à prostituição, a revista também traz propaganda de bares, hotéis, flats, pizzarias, churrascarias, restaurantes, imobiliárias, palavras cruzadas, um roteiro turístico de pontos conhecidos da capital e até mapas de bairros mais nobres e centrais, além da relação completa das estações de metrô.

Fato inaceitável
O advogado criminalista Fernando Castelo Branco, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), acredita que a distribuição de revistas com anúncios de prostituição em uma delegacia "é um fato inaceitável, ilegal e que exige uma rigorosa apuração da corregedoria da corporação".
Na opinião do criminalista, "alguém está recebendo algum tipo de vantagem com a distribuição desse tipo de material". "Alguém tem interesse em que isso ocorra, ainda mais dentro de um órgão público", disse.
"A pessoa que recebe remuneração por relações sexuais não comete crime, mas quem ganha algo explorando o ato sexual de outras pessoas está fora da lei", completou o advogado criminalista.


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