São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Pitboy queria me humilhar e intimidar, diz homossexual

Industrial chamou a polícia, que chegou a ouvir agressões e testemunhou a seu favor

Sei que é um grão de areia, mas, pelo menos, pode mudar um pouco a visão das pessoas de Pontal, que é cidade homofóbica, diz gay

DA AGÊNCIA FOLHA

O industrial Justo Favaretto Neto, 48, diz que o técnico de laboratório Juliano Araújo da Silva fez gestos como se ele fosse um "homossexual afetado". Neto conta ainda que levou um "tapa na cara", que policiais ouviram os xingamentos e que, por isso, testemunharam a seu favor. Segundo ele, a cidade é "homofóbica". (CA)

 

FOLHA - Como teve início?
JUSTO FAVARETTO NETO -
Na hora do almoço, fui abastecer meu carro em um posto. Um grupo de seis rapazes estava na loja de conveniência e um deles, o Juliano, tipo um pitboy, grandão, muito grande, estava sem camisa, bebendo, não sei se estava usando outra coisa, mas bebendo estava, porque atirou uma latinha de cerveja em mim.

FOLHA - Os outros participaram?
NETO -
Ficaram só assistindo. Aí, o Juliano começou a fazer gestos e a dizer: "Ai, ai, veadinho". Ficava rebolando, desmunhecando, como se eu fosse um homossexual afetado, mas eu não sou. Eu até poderia ser, mas o que ele tem com isso?

FOLHA - Como o sr. reagiu?
NETO -
Perguntei se ele estava falando comigo. Ele respondeu: "Seu veado, cala a boca". Aí, eu respondi que iria chamar a polícia. Ele levantou da mesa e me deu um tapa na cara, não para me espancar, mas para me intimidar e me humilhar.

FOLHA - A polícia presenciou tudo?
NETO -
Com a intimidação, eu chamei a polícia que, graças a Deus, chegou muito rápido. Ele continuou me agredindo verbalmente, dizendo: "Este veado está me enchendo o saco" e, depois, "Nem de veado eu gosto". Minha sorte foi essa, porque, até então, só tinha amigo dele e ninguém iria testemunhar a meu favor. No final, os policiais testemunharam a meu favor.

FOLHA - O sr. não ficou satisfeito com a decisão da Justiça de Pontal, que condenou Silva a pagar um salário mínimo por agressão?
NETO -
Achei tão pequeno, tão humilhante, que nem divulguei para ninguém. Agora, aguardo audiência por danos morais.

FOLHA - O sr. já havia sido agredido em outras ocasiões?
NETO -
Já, muitas vezes. Todos os homossexuais da cidade são. Se eu tivesse conhecimento dessa lei [10.948, de 2001] antes, já teria feito denúncias. Aqui em Pontal, quem consegue se mudar, sai logo, ou melhor, é praticamente expulso.

FOLHA - O sr. já entrou com alguma outra ação contra agressores?
NETO -
Eu tenho um processo contra outro rapaz.

FOLHA - Ficou satisfeito com essa decisão da Secretaria da Justiça?
NETO -
Foi uma vitória maravilhosa. Estou pensando em colocar em outdoor. Eu sei que é um grão de areia, mas, pelo menos, pode mudar um pouco a visão das pessoas de Pontal, que é uma cidade homofóbica.


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