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No Rio, polícia mata mais e prende menos
Dados do ISP do Rio mostram que, em comparação com os dois primeiros meses de 2006, policiais mataram 52% a mais
No mesmo período, foram feitas 24% menos prisões;
secretário da Segurança afirmou que "qualidade" do trabalho policial melhorou
ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
A polícia do Rio prendeu 24%
menos e matou 52% a mais nos
meses de janeiro e fevereiro,
em relação ao mesmo período
do ano passado. O número de
apreensões de drogas e armas
também caíram: 15% e 13% respectivamente. Dos 39 índices
de criminalidade pesquisados,
houve queda em 29.
Os dados, divulgados ontem
pelo ISP (Instituto de Segurança Pública), mostram ainda que
a taxa de homicídios se manteve praticamente estável -apenas 1% a mais-, caindo 7% no
mês de fevereiro, em comparação com o período no ano passado. O número total de registros de ocorrência também se
manteve estável nos dois primeiros meses do ano.
Na capital, o número de prisões caiu ainda mais em janeiro
e fevereiro: 32%. Os autos de
resistência (morte em confronto com a polícia) na cidade também cresceram mais do que a
média no Estado: 29%. As
apreensões de drogas e armas
também tiveram uma queda
mais acentuada no Rio: 23% e
19%, respectivamente.
Resistência
Após a divulgação dos números de janeiro, no mês passado,
o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José
Mariano Beltrame, afirmou
que o crescimento dos registros
de autos de resistência mostrava "uma polícia mais ativa e
menos reativa".
"Obviamente, quando a polícia vai cumprir a sua missão (...)
existe o confronto. Infelizmente, a solução para isso não é
uma solução boa, é uma solução traumática. (...) Entendo
que saímos de uma polícia reativa para uma polícia ativa. Seria muito mais fácil ficarmos
parados, esperando as situações acontecerem", afirmara
na ocasião.
Ontem, Beltrame afirmou
que, apesar da diminuição do
número de prisões e apreensões de drogas e armas, houve
uma melhora na "qualidade"
destas atividades policiais.
"É muito melhor prender
dois ou três que transportam
seis toneladas de maconha do
que 10, 15 vapores da favela. (...)
O mesmo vale para as armas.
Ao invés de apreendermos não
sei quanto revólveres, é melhor
apreender uma quantidade
menor numericamente de metralhadoras".
Índices
A queda em 29 dos 39 índices
de criminalidade pesquisados
não foi comemorado pelo secretário. "Se tivéssemos ido
bem em 38 e restasse um, ainda
teríamos que melhorar nele".
Ele atribuiu o a melhora ao aumento da ostensividade do policiamento.
A divulgação da queda no número de prisões, no entanto,
mostraria, segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio, João
Tancredo, "que a polícia está
cada vez mais distante do seu
ideal".
"A polícia tem que prender, e
a Justiça julgar. Parece que a
polícia está condenando e executando", afirmou Tancredo.
Mais comedida, a antropóloga Alba Zaluar afirmou que a
queda nas prisões pode ser uma
"boa notícia".
"Se as prisões estão seguindo
a regra, exigindo mandados,
provas, etc, impedindo prisões
ilegais, é uma boa notícia. Tem
que analisar com mais cuidado
que tipo de prisão caiu", afirmou a antropóloga.
No entanto, Zaluar lamentou
a permanência do aumento de
mortos em confronto direto
com a polícia.
"É lamentável apostar em
matar e abdicar da investigação. Fazer polícia não é atividade guerreira", disse.
Roubos
Os roubos a veículos e a residências caíram nos dois primeiros meses do ano 3% e 14%,
respectivamente.
Já os assaltos a transeuntes
aumentaram 25% no Estado do
Rio de Janeiro-na capital, o
aumento foi de 22%. Estes são
os principais crimes apontados
por especialistas como variáveis para a "sensação de segurança" da população.
Ao menos 40 policiais foram
mortos apenas este ano, a
maioria à paisana. Alguns fora
de serviço foram mortos quando identificados como policiais.
Três mortes em serviço ocorreram nos meses de janeiro em
fevereiro.
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