|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CEARÁ
Turista, preso com três meninas, afirma que não sabia que relação com menor é crime
Inglês diz desconhecer lei brasileira
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O turista inglês David Bregmann, 25, afirmou que não sabia
que no Brasil é crime manter relações sexuais com menores de 18
anos. Bregmann foi preso na manhã de anteontem ao lado de três
adolescentes, uma de 13 anos e as
outras duas de 15 anos, em uma
casa de praia em Caucaia, região
metropolitana de Fortaleza.
Cinco horas antes da prisão, o
inglês já havia sido flagrado pela
Agência Folha passeando na avenida Beira-Mar, em Fortaleza,
com as três garotas. A reportagem
chegou a seguir o turista, que usava um carro alugado. Ele deixou
as duas meninas de 15 anos em
frente a bares na praia de Iracema,
hoje um dos principais pontos de
prostituição da cidade, e seguiu
apenas com a mais nova para a
casa na praia.
A Agência Folha apurou que o
inglês negou à polícia que soubesse que as adolescentes se prostituíam e disse que nunca pagou
nada a elas, a não ser comida.
Apesar de afirmar desconhecer
que no Brasil é proibida a prática
sexual com menores, Bregmann
disse saber que no Reino Unido é
crime. O inglês está preso na Delegacia de Capturas, em Fortaleza, e
tem se recusado a dar entrevistas
-ele agrediu um fotógrafo. O turista vai responder por crime de
estupro, exploração sexual de menores e corrupção ativa.
Ele está no país desde abril,
quando chegou ao Rio de Janeiro,
e se fixou em Fortaleza no começo
deste mês. Logo que desembarcou na cidade, foi para um hotel,
mas em seguida decidiu alugar a
casa de praia. Hotéis e flats passaram a ter fiscalização redobrada
da polícia depois de duas CPIs sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes realizadas pela
Câmara Municipal de Fortaleza.
Bregmann afirmou ainda que
conheceu as três meninas na avenida Beira-Mar logo que chegou à
cidade e que elas insistiam em sair
com ele. No dia do flagrante, o inglês disse que elas é que foram sozinhas à casa dele, bêbadas, e que
dormiram lá.
As fotos tiradas pela Agência
Folha serão anexadas ao inquérito
policial que investiga o caso para
ajudar a provar que o inglês já estava com as adolescentes horas
antes da prisão.
Sobre as duas camisinhas usadas encontradas ao lado da cama
onde as meninas dormiam sem
roupas, ele disse que haviam sido
usadas no dia anterior.
O computador e os CDs encontrados na casa irão passar por perícia, e o resultado deverá ser divulgado na próxima semana.
Também foram encontrados na
casa com o inglês 26 comprimidos de um medicamento similar
ao Viagra.
As três meninas já foram liberadas pela polícia, com o aval da família, e terão o acompanhamento
do projeto Sentinela, do governo
federal, que irá monitorá-las para
que não voltem à prostituição e
encaminhá-las a cursos profissionalizantes.
O advogado do inglês, Mourão
Júnior, informou que até segunda-feira irá entrar com pedido de
liberdade provisória na Justiça
porque ele é "inocente". "Ele veio
para o Brasil estudar literatura, tinha o sonho de conhecer o país. A
polícia está exagerando, como colocar estupro se nem houve relação sexual com as meninas?"
Exploração
Para a psicóloga Maria Elismar
Santander, ex-agente da Polícia
Federal que atuou durante cinco
meses com meninas prostituídas
na praia de Iracema, as adolescentes não se sentem exploradas.
"Elas dizem que elas é que exploram o gringo, pedem dinheiro,
comida, roupas."
Por não se sentirem exploradas,
as três adolescentes negaram ter
tido relações sexuais com o inglês.
Elas, porém, chegaram a pedir a
policiais, na Dececa (Delegacia de
Combate à Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes), logo
depois da prisão, que cobrassem
os US$ 50 que o turista teria prometido a elas.
Texto Anterior: Violência: Capitão é caçado por 4 km e morto no Rio Próximo Texto: Para deputada, Brasil faz parte de nova rota Índice
|