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foco
Após um ano de vigência, motoristas ainda driblam fiscalização da lei seca
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi-se o primeiro ano da lei
seca e, nesse tempo, diminuíram as mortes, as internações
e os gastos dos hospitais com
feridos em acidentes, segundo
fontes oficiais e entidades de
segurança do tráfego. Mas,
alheia às estatísticas, nos bares
a lei já deixou de ser assunto
nas rodas de amigos.
O medo de ser flagrado dirigindo alcoolizado em uma
blitz já não é mais aquele e,
com ele, diminuiu também o
pudor dos motoristas de admitir que retomaram (alguns
nem sequer chegaram a perder) o costume de beber e sair
dirigindo.
Em uma mesa de bar na Vila
Madalena, na zona oeste de
São Paulo, o casal Marcos Imparato, 30, e Juliana Moraes,
24, estava apenas na segunda
garrafa de cerveja. "Passei a
beber com mais moderação",
diz Marcos. Então vão parar
por aí? "Ainda vamos beber
mais duas. Ou três, quatro,
cinco... Não vou sair trançando
as pernas", diz.
Juliana também diz que
passou a "moderar" mais no
consumo de álcool depois da
lei seca. Mas admite que não
trocou o carro pelo táxi quando sai para a balada -além de
"odiar" ter que depender de
carona, ela "nunca mais viu
uma blitz". "Acabou, virou lenda", diz ela, que "só nos primeiros dias" da lei se preocupou em ser parada.
Apesar da impressão dos
motoristas, a Polícia Militar
afirma ter intensificado as
blitze neste ano em relação a
2008. Diz que o total de veículos vistoriados cresceu 15%
nos primeiros seis meses deste
ano em relação ao segundo semestre de 2008. E que o número de multas a motoristas
alcoolizados cresceu 50,5%
entre esses dois períodos.
Na mesa ao lado da do casal,
o administrador de empresas
Vitor Patrick, 26, dividia dois
baldes de cervejas com nove
amigos. "Estou apreciando
uma cervejinha sim. Ninguém
aqui parou de beber. A pessoa
tem que ter discernimento, saber quando está bem [para dirigir]", diz ele, que só vai de táxi "às vezes", quando já sai de
casa sabendo que "vai beber
vodka" na balada.
Em todas as oito mesas observadas pela reportagem por
três horas, na quinta-feira, havia alguém que bebia mais de
cinco copos de cerveja -apenas um já seria suficiente para
levar à suspensão da habilitação. E em três dos quatro grupos que aceitaram dar entrevista, houve quem admitisse
que iria para casa dirigindo
-embora ninguém considerasse estar bebendo demais.
O que os motoristas entrevistados consideram consumo
"moderado" de bebida é tido
como abusivo pelo Ministério
da Saúde -isto é: pelo menos
quatro doses de álcool para as
mulheres e cinco para os homens (uma dose equivale a um
copo de cerveja).
Pesquisa do ministério mostra que o percentual da população que admite dirigir após
beber abusivamente chegou a
cair pela metade nos primeiros meses da lei seca. Mas, agora, essa incidência já voltou
aos níveis de antes da medida
(em torno dos 2%).
O índice chegou a cair para
0,9% em agosto, e se manteve
na casa de 1% até outubro. Mas
voltou a crescer e, em dezembro, chegou a 2,6% -o recorde
num mês desde julho de 2007,
quando a pesquisa começou. O
patamar é considerado alto
pelo Ministério da Saúde.
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