São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Bicho de tabagista tem mesma doença de fumante passivo

Pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária da USP vê correlação entre o tabaco e danos respiratórios em animais

Até incidência de tosse entre cães e gatos é maior quando os donos usam cigarros; câncer pulmonar é 100% mortal entre os cachorros


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Só de ver ao longe as baforadas do casal Rose Rizzo, 55, e Sidney Gonçalves, 58, Dhara, 9, espirra sem parar. Se sentir o cheiro da fumaça, então, ela vomita, perde o apetite e fica o dia inteiro sem comer nem beber. O mal-estar só passa se tomar um comprimido do antiemético Plasil, contra o vômito, e uma dose de Epocler para conter o desarranjo do fígado.
Dhara é uma cadela de 30 kg, mestiça de cocker spaniel e boxer. Foram justamente sintomas como os dela que fizeram a Faculdade de Medicina Veterinária da USP fazer uma pesquisa para estabelecer a relação entre tabagismo e doenças respiratórias de cães e gatos. "Notamos que, numa grande quantidade de animais que vêm com tosse, os donos são fumantes. Os bichos que têm contato com fumantes tossem mais", diz a veterinária Denise Saretta Schwartz, professora da USP que conduz a pesquisa.
"Procuro não fumar perto da minha filha recém-nascida, mas o cachorro sempre vem junto. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer com os animais", diz o hoteleiro Fabiano Rodrigues, que passeava com a bulldog inglês Zeta, de oito meses, na praça Buenos Aires, reduto de cães na região central.
Segundo o veterinário Rodrigo Ubukata, especialista em oncologia animal, cães e gatos sofrem das mesmas doenças decorrentes do fumo passivo -como câncer, bronquite, asma e crise alérgica- que acometem seres humanos. "A incidência de morte em cachorros com câncer de pulmão é de 100%. O que conseguimos é aumentar a sobrevida deles. Muitos ainda acham que o que fumam é muito pouco para causar mal aos animais. Não importa o quanto se fuma nem com que frequência, sempre faz mal", afirma Ubukata.
A orientação dos veterinários aos donos fumantes é que deem as baforadas longe dos cachorros, de preferência ao ar livre. "Os bichos são tão fumantes passivos quanto os serem humanos", diz Schwartz. "Eu evitava fumar no mesmo ambiente da Valentina [outra bulldog inglês, de três anos], mas depois relaxei até parar de fumar, há um mês", diz a veterinária Fernanda Oliveira. Outra pesquisa, da Universidade de Massachusetts, mostra que, quanto mais cigarros o dono fuma por dia, maior é o nível de nicotina encontrado em exames de urina dos cães.
Em cidades como Nova York, é proibido fumar nos zoológicos. Em San Francisco, o cigarro é banido de parques, praças e jardins, mesmo ao ar livre, medida para proteger a saúde de crianças, de animais selvagens e de cães dos usuários. A nova lei antifumo do Estado, que entra em vigor na primeira semana de agosto, não prevê a proibição nesses lugares nem menciona animais.

Baixe o arquivo e participe da pesquisa da USP

www.folha.com.br/091702


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