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Bicho de tabagista tem mesma doença de fumante passivo
Pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária da USP vê correlação entre o tabaco e danos respiratórios em animais
Até incidência de tosse entre cães e gatos é maior quando os donos usam cigarros; câncer pulmonar é 100% mortal entre os cachorros
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Só de ver ao longe as baforadas do casal Rose Rizzo, 55, e
Sidney Gonçalves, 58, Dhara, 9,
espirra sem parar. Se sentir o
cheiro da fumaça, então, ela vomita, perde o apetite e fica o dia
inteiro sem comer nem beber.
O mal-estar só passa se tomar um comprimido do antiemético Plasil, contra o vômito,
e uma dose de Epocler para
conter o desarranjo do fígado.
Dhara é uma cadela de 30 kg,
mestiça de cocker spaniel e boxer. Foram justamente sintomas como os dela que fizeram a
Faculdade de Medicina Veterinária da USP fazer uma pesquisa para estabelecer a relação
entre tabagismo e doenças respiratórias de cães e gatos.
"Notamos que, numa grande
quantidade de animais que vêm
com tosse, os donos são fumantes. Os bichos que têm contato
com fumantes tossem mais",
diz a veterinária Denise Saretta
Schwartz, professora da USP
que conduz a pesquisa.
"Procuro não fumar perto da
minha filha recém-nascida,
mas o cachorro sempre vem
junto. Nunca imaginei que isso
pudesse acontecer com os animais", diz o hoteleiro Fabiano
Rodrigues, que passeava com a
bulldog inglês Zeta, de oito meses, na praça Buenos Aires, reduto de cães na região central.
Segundo o veterinário Rodrigo Ubukata, especialista em oncologia animal, cães e gatos sofrem das mesmas doenças decorrentes do fumo passivo
-como câncer, bronquite, asma e crise alérgica- que acometem seres humanos.
"A incidência de morte em
cachorros com câncer de pulmão é de 100%. O que conseguimos é aumentar a sobrevida
deles. Muitos ainda acham que
o que fumam é muito pouco para causar mal aos animais. Não
importa o quanto se fuma nem
com que frequência, sempre faz
mal", afirma Ubukata.
A orientação dos veterinários
aos donos fumantes é que deem
as baforadas longe dos cachorros, de preferência ao ar livre.
"Os bichos são tão fumantes
passivos quanto os serem humanos", diz Schwartz.
"Eu evitava fumar no mesmo
ambiente da Valentina [outra
bulldog inglês, de três anos],
mas depois relaxei até parar de
fumar, há um mês", diz a veterinária Fernanda Oliveira.
Outra pesquisa, da Universidade de Massachusetts, mostra
que, quanto mais cigarros o dono fuma por dia, maior é o nível
de nicotina encontrado em exames de urina dos cães.
Em cidades como Nova York,
é proibido fumar nos zoológicos. Em San Francisco, o cigarro é banido de parques, praças e
jardins, mesmo ao ar livre, medida para proteger a saúde de
crianças, de animais selvagens
e de cães dos usuários.
A nova lei antifumo do Estado, que entra em vigor na primeira semana de agosto, não
prevê a proibição nesses lugares nem menciona animais.
Baixe o arquivo e participe
da pesquisa da USP
www.folha.com.br/091702
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