|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
27ª SÃO PAULO FASHION WEEK
Roupas de desfiles ainda buscam público
Estilistas contam que algumas peças são feitas para criar o conceito da coleção e não chegam a ser comercializadas
Cavalera produz apenas 40% do que é desfilado; já Herchcovitch afirma que todas as roupas exibidas
são colocadas à venda
CAMILA YAHN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem vê paletós de ombros
gigantescos, como os exibidos
na elogiada coleção de Alexandre Herchcovitch nesta temporada da SPFW, ou os ternos
desconstruídos mostrados pela
V.Rom, pergunta-se se vai encontrar tais peças nas lojas. Um
desfile de moda nem sempre é
direcionado ao comércio, e sim
voltado para a construção de
imagem da coleção.
"A maior parte do que mostramos no desfile serve só para
criar um conceito", diz Igor de
Barros, estilista da V.Rom. "No
inverno 2008, fizemos uma coleção com foco comercial e a
crítica foi horrível. Uma negativa da imprensa é muito ruim,
pois as vendas acontecem muito por conta da divulgação positiva do desfile."
Poucas marcas conseguem
equilibrar a construção de imagem com as necessidades das
lojas. "O que vemos nos pontos
de venda são derivações do tema principal, daí a sensação de
não encontrar a mesma coisa
vista nos desfiles. Às vezes, vou
às lojas ver se a marca produziu
o que vi na passarela e, quase
sempre, ela não produziu", diz
Alexandre Herchcovitch.
Ele garante que todas peças
exibidas em seus desfiles são
colocadas à venda. Mas existe
uma contabilidade para definir
os números das roupas chamadas comerciais e o das peças especiais. "As peças do desfile ganham de 1 a 120 reproduções.
Já na coleção de jeanswear
[que é mostrada apenas no showroom], esse número sobe para 400", diz Herchcovitch.
Na grife Cavalera, 40% da coleção mostrada na passarela vai
para as 15 lojas próprias da grife, mas dificilmente atinge os
outros pontos de venda. "Dessas peças, somente quatro modelos de cada são produzidos
por loja", diz Alberto Hiar, dono da Cavalera e da V.Rom, que
passa por um processo diferente. "A produção ocorre de acordo com as vendas do showroom
e, lá, as roupas de desfile só são
mostradas se o cliente pedir. É
a realidade do Brasil", diz Igor.
Na V.Rom, as peças mais elaboradas só são vendidas na loja
da alameda Lorena, nos Jardins. Mas o que realmente toma conta dos pontos de venda
da grife são as camisetas, responsáveis por gerar a receita
que a empresa precisa.
Na Forum ocorre algo semelhante. "Temos que atender o
que a área comercial espera,
então só é produzido o que for
comprado durante o showroom. Isso é inevitável para
que qualquer empresa grande
alcance todos os seus pontos de
venda", diz Eduardo Pombal, o
novo diretor de criação da grife.
Cultura de moda
Outro fator importante é a
quantia que se gasta para produzir uma roupa especial. Os
tecidos mais caros são comprados em escala menor já que
ninguém quer correr o risco de
ver roupas caríssimas emperradas nas araras. "Muitas vezes
trabalhamos com tecidos importados e isso inviabiliza uma
produção maior", diz Pombal.
Há também a questão da falta
de cultura de moda no Brasil.
Segundo Pombal, ainda é difícil
encontrar no país pessoas que
segurem uma roupa diferenciada. "A roupa da passarela não é
para ser vista nas ruas, mas
principalmente em festas e lugares específicos", afirma Hiar.
"Nós não temos uma quantidade suficiente de consumidores
que compram o que é mostramos na passarela. Todo mundo
trabalha pensando nos resultados", afirma.
Para quem ainda pensa que a
moda é feita apenas de devaneios criativos dos estilistas, aí
está um bom banho de água
fria. Moda também é negócio.
Texto Anterior: Secretário de Saúde do Rio não está com gripe A Próximo Texto: Medo e euforia dominam modelos estreantes na SPFW Índice
|