São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

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CRIMINALIDADE
Desocupação expõe mais as pessoas dessa faixa etária à violência; número de desempregados é de 800 mil
Desemprego entre jovens duplica em 10 anos

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

O índice de desemprego entre jovens de 15 a 17 anos bateu nos 50% na Grande São Paulo. É mais de duas vezes o percentual de dez anos atrás.
O resultado é um batalhão de desempregados jovens, de 10 a 24 anos, que chegam hoje a 800 mil pessoas, convertendo-se em um dos principais fatores de aumento da criminalidade.
Esse contingente de jovens sem emprego representa metade dos desempregados da região metropolitana de São Paulo, estimados em 1,6 milhão.
São dados preliminares da pesquisa Dieese/Seade de maio, prevista para ser anunciada oficialmente nesta semana, revelando um fenômeno nacional: o desemprego atinge com dureza ainda maior o jovem.
Os números absolutos foram extraídos a partir da estimativa feita pelo Seade sobre a participação de cada faixa etária na PEA (População Economicamente Ativa), que representa pessoas que ou trabalham ou procuram trabalho.
Essa tendência é encarada como essencial pelas autoridades policiais e por especialistas na área de juventude e violência para entender a extensão da criminalidade.
As estatísticas indicam que o jovem desempregado e com baixa escolaridade compõe o perfil básico do delinquente.
Mais de dois terços das pessoas com menos de 21 anos presas nem sequer passou da 4ª série do 1º grau -segundo pesquisa apresentada no livro "O Adolescente e o Ato Infracional", de 97, organizado por Mário Volpi, ex-coordenador do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua.
De um total de 4.245 jovens pesquisados, 53% não trabalhavam quando foram presos e 44% estavam no mercado de trabalho informal -aquele que oferece salários e condições de trabalho muito piores do que os traficantes.
As autoridades policiais comentam que mais uma chacina, a da última quarta-feira, em Francisco Morato (Grande São Paulo), em que morreram 11 pessoas, foi motivada pela guerra do tráfico.
"Crime e desemprego andam de fato juntos", afirma Oscar Vieira, coordenador do Ilanud, entidade da ONU especializada em violência e criminalidade.




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