São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

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CRIMINALIDADE 2
Desejo dessa população exposta à violência mostra incapacidade de solução da sociedade e do governo
Menino de rua do país sonha trabalhar

da Reportagem Local

O principal sonho dos meninos e meninas de rua do país é trabalhar. Em São Paulo, esse desejo atinge 47% das crianças que vivem na rua; no Rio, 38%; em Fortaleza, 60%. O segundo sonho entre eles é estudar e aprender a ler e escrever.
É exatamente essa população que está mais exposta a situações de violência e crime -e seus desejos mostram a incapacidade da sociedade e das políticas públicas em dar solução a um problema que atinge boa parte da juventude.
Os dados são de uma pesquisa ainda inédita do Cebrid ( Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) da Universidade Federal de São Paulo.
O acentuado aumento de desemprego entre os jovens tem correspondência no perfil etário da população carcerária do país -aquela que já cometeu crimes. Um terço dos presos está na faixa etária dos 18 aos 25 anos.
A formação desses presos é idêntica à dos jovens brasileiro de 15 a 19 anos: 82% têm menos de oito anos de estudo, segundo o Censo Penitenciário do Estado de São Paulo de 1996 e a Pnad (Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios, do IBGE) de 1995.
Outra pesquisa, também inédita, reforça ainda mais a identificação entre o nível educacional e a criminalidade. Na cidade de São Paulo, o número de homicídios caiu 1% de 96 para 97. Nas regiões onde os chefes de família têm a maior escolaridade, a queda chegou a 10%.
Porém, nas regiões de mais baixa escolaridade -ou seja, na periferia da cidade-, houve um crescimento de 5% nos homicídios. "Esse é o grupo que permaneceu com uma tendência de violência", afirma Marcos Drumond Júnior, 38, do Programa de Aprimoramento de Informações de Mortalidade de São Paulo, responsável pela pesquisa.

Reestruturação
O desemprego cresce na média do país. É, porém, mais veloz nas camadas jovens, devido, entre outros fatores, à reestruturação do trabalho que passa a exigir mão-de-obra mais qualificada -daí a necessidade de estudo.
É reflexo também do fato de que, como cai o emprego entre os chefes de famílias, os jovens são impulsionados a buscar renda, aumentando a PEA (População Econômica Ativa).
"Precisamos ter uma política para profissionalizar o jovem para que tenha menos dificuldade de entrar no mercado de trabalho", afirma à Folha o ministro do Trabalho, Edward Amadeo.
Está prestes a sair estudo de Márcio Porchman, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mostrando que a tendência não é nova, nem restrita a regiões específicas do país.
"O fato óbvio é que está cada vez mais difícil o jovem obter seu primeiro emprego. E depois conseguir manter-se ocupado", afirma Marcio Porchman.
(GILBERTO DIMENSTEIN e FERNANDO ROSSETTI)


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