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CRIMINALIDADE 2
Desejo dessa população exposta à violência mostra incapacidade de solução da sociedade e do governo
Menino de rua do país sonha trabalhar
da Reportagem Local
O principal sonho dos meninos e
meninas de rua do país é trabalhar.
Em São Paulo, esse desejo atinge
47% das crianças que vivem na
rua; no Rio, 38%; em Fortaleza,
60%. O segundo sonho entre eles é
estudar e aprender a ler e escrever.
É exatamente essa população
que está mais exposta a situações
de violência e crime -e seus desejos mostram a incapacidade da sociedade e das políticas públicas em
dar solução a um problema que
atinge boa parte da juventude.
Os dados são de uma pesquisa
ainda inédita do Cebrid ( Centro
Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas) da Universidade Federal de São Paulo.
O acentuado aumento de desemprego entre os jovens tem correspondência no perfil etário da população carcerária do país
-aquela que já cometeu crimes.
Um terço dos presos está na faixa
etária dos 18 aos 25 anos.
A formação desses presos é idêntica à dos jovens brasileiro de 15 a
19 anos: 82% têm menos de oito
anos de estudo, segundo o Censo
Penitenciário do Estado de São
Paulo de 1996 e a Pnad (Pesquisa
Nacional Por Amostra de Domicílios, do IBGE) de 1995.
Outra pesquisa, também inédita,
reforça ainda mais a identificação
entre o nível educacional e a criminalidade. Na cidade de São Paulo,
o número de homicídios caiu 1%
de 96 para 97. Nas regiões onde os
chefes de família têm a maior escolaridade, a queda chegou a 10%.
Porém, nas regiões de mais baixa
escolaridade -ou seja, na periferia da cidade-, houve um crescimento de 5% nos homicídios.
"Esse é o grupo que permaneceu
com uma tendência de violência",
afirma Marcos Drumond Júnior,
38, do Programa de Aprimoramento de Informações de Mortalidade de São Paulo, responsável pela pesquisa.
Reestruturação
O desemprego cresce na média
do país. É, porém, mais veloz nas
camadas jovens, devido, entre outros fatores, à reestruturação do
trabalho que passa a exigir
mão-de-obra mais qualificada
-daí a necessidade de estudo.
É reflexo também do fato de que,
como cai o emprego entre os chefes de famílias, os jovens são impulsionados a buscar renda, aumentando a PEA (População Econômica Ativa).
"Precisamos ter uma política
para profissionalizar o jovem para
que tenha menos dificuldade de
entrar no mercado de trabalho",
afirma à Folha o ministro do Trabalho, Edward Amadeo.
Está prestes a sair estudo de
Márcio Porchman, pesquisador
do Centro de Estudos Sindicais e
de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),
mostrando que a tendência não é
nova, nem restrita a regiões específicas do país.
"O fato óbvio é que está cada vez
mais difícil o jovem obter seu primeiro emprego. E depois conseguir manter-se ocupado", afirma
Marcio Porchman.
(GILBERTO DIMENSTEIN e FERNANDO
ROSSETTI)
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