São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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SAÚDE

Novo estudo divulgado nos Estados Unidos, desta vez com reposição de um único hormônio, também aponta riscos para usuárias

Pesquisa liga estrogênio a câncer de ovário

DA REDAÇÃO

Uma semana após a notícia de que câncer de mama e ataques cardíacos estão ligados à terapia de reposição hormonal, pesquisadores americanos anunciaram na última terça-feira que mulheres na fase pós-menopausa que fazem tratamento baseado apenas no estrogênio correm maior risco de desenvolver câncer de ovário.
O relatório segue outros dois estudos divulgados recentemente que concluíram que a reposição hormonal com estrogênio e progesterona -menos comum do que a terapia apenas com estrogênio- não oferece proteção contra doenças do coração e pode aumentar o risco de câncer mamário, entre outras doenças (veja no quadro abaixo o mais recente).
Os dois tipos de tratamento são usados por 13,5 milhões de mulheres apenas nos Estados Unidos, sendo que 8 milhões usam somente estrogênio.
No Brasil, segundo pesquisa da Sobrac (Sociedade Brasileira do Climatério), cerca de 4 milhões de mulheres fizeram ou fazem atualmente reposição hormonal, seja só com estrogênio, seja em associação com a progesterona.
"A principal descoberta do estudo foi que mulheres na fase pós-menopausa que usaram estrogênio por dez anos ou mais tinham risco significativamente mais alto de desenvolver câncer ovariano do que aquelas que nunca fizeram terapia de reposição hormonal", disse James Lacey, do National Cancer Institute, autor do estudo que foi publicado no "Journal of the American Medical Association" (Jama).
O estudo de Lacey envolveu 44.241 mulheres e concluiu que aquelas que tomaram apenas estrogênio durante um período de dez a 19 anos tinham um risco relativo 80% maior de desenvolver câncer de ovário.
Apesar do risco maior, a ocorrência em números absolutos continuou pequena: apenas 329 mulheres desenvolveram a doença durante o período da pesquisa, entre 1979 e 1998.
Os resultados sobre o risco de câncer de ovário em usuários de suplementos combinados (progesterona e estrogênio) não apontaram aumento significativo.
No editorial do Jama, o médico Kenneth Noller, da Tufts University, disse que, embora os estudos não provem a relação de causa e efeito, os resultados devem ser preocupantes o suficiente para que médicos avaliem cuidadosamente se sugerem a terapia baseada apenas no estrogênio.
Para o presidente da Sobrac, César Eduardo Fernandes, os dados não são motivo para pânico. "É um fato negativo para a reposição hormonal, não pode ser negado. Mas o impacto em números absolutos é muito pequeno."
De acordo com o professor de ginecologia do HC da USP José Aristodemo Pinotti, a classe médica ainda deve aguardar novas pesquisas para ver "se o resultado se confirma ou não".
Segundo o presidente da Sobrac, o fato de o estudo americano ter sido iniciado na década de 70 e abrangido doses plenas de hormônios (e não doses reduzidas, como se costuma aplicar atualmente) são pontos a favor do tratamento. "Hoje há uma adequação das doses. À medida que a mulher se afasta da menopausa, precisa de cada vez menos hormônios", afirma ele.
Fernandes recomenda que as mulheres que fazem reposição com estrógeno isolado não abandonem o tratamento sem consulta prévia aos seus médicos.


Com as agências internacionais. Colaborou RENATO ESSENFELDER, da Reportagem Local

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