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RIO
Após 3 meses da morte de 4 homens em ação da PM, inquérito não foi concluído
Família teme omissão no caso Borel
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Passados mais de 90 dias da
morte de quatro jovens durante
uma operação da Polícia Militar
no morro do Borel (Tijuca, zona
norte), no dia 16 de abril, o inquérito policial e a sindicância aberta
para apurar a conduta dos 16 PMs
suspeitos não foram concluídos.
Parentes das vítimas temem que o
caso caia no esquecimento.
Além da saudade, eles têm de lidar com a queda no padrão de
renda familiar. A Folha esteve no
Borel no dia em que foram completados três meses dos assassinatos do mecânico Thiago Correia
da Silva, 19, do estudante Carlos
Magno Nascimento, 18, do pintor
e pedreiro Carlos Alberto da Silva
Ferreira, 21, e do taxista Everson
Gonçalves Silote, 26.
Os parentes continuam abalados pela chacina. Mães e mulheres tomam doses diárias de calmantes, filhos ainda pequenos demonstram revolta, agressividade
e não conseguem estudar.
A desempregada Francislaine
Viana de Oliveira, 22, mulher do
taxista, disse que há dias em que
não tem o que dar de comer aos filhos Éverton, 6, e Éperson, 3: "Hoje mesmo tive de pedir um pouquinho de açúcar para a madrinha deles porque não tinha como
adoçar o café com leite".
O taxista, com quem estava casada havia cinco anos, ganhava
cerca de R$ 600 mensais.
O filho mais velho agora chama
a polícia de "bicho". Na escola, a
professora disse que ele precisa de
um psicólogo. Além de agressivo,
está com mania de se esconder
debaixo da mesa, disse a mãe.
A irmã do pedreiro, Cristiane
Ferreira, 23, tem de trabalhar todos os dias da semana entregando
filipetas para ganhar, com a irmã,
cerca de R$ 500 mensais. "Para
mim, esqueceram o caso", disse.
A mãe do mecânico Thiago
Correia da Silva, Dalva, 48, disse
que a saudade aumenta a cada
dia: "Antes imaginava que ele estava viajando", disse ela.
"Eu não aceito criar meu filho
dando tudo o que posso, tanto carinho, e vir um policial dar um tiro na perna dele, ter coragem de
matar, mesmo com ele implorando para não morrer."
O delegado Orlando Zaccone
disse à Folha que pretende concluir o inquérito nesta semana,
"provavelmente com o indiciamento dos responsáveis por homicídio qualificado, um crime hediondo". Falta uma testemunha,
que tem medo de ir à delegacia
identificar os assassinos.
O secretário de Direitos Humanos e corregedor das Polícias Unificadas, João Luiz Duboc Pinaud,
informou que o caso não será esquecido. "Vamos agendar uma
reunião para concluir a sindicância até o fim do mês."
Testemunha
Quarta-feira, 16 de abri, final da
tarde. A subida para o morro do
Borel estava movimentada: crianças voltam da escola, trabalhadores retornam para casas.
Na versão dos parentes, os quatro jovens combinavam uma partida de futebol no beco conhecido
como Vila da Preguiça.
De repente, começam os tiros,
que teriam sido dados por policiais escondidos no beco e em cima das lajes das casas, na versão
de uma testemunha.
O recreador P.R., 32, outra testemunha, saía de casa quando foi
ferido por um tiro de fuzil. Com o
impacto, foi lançado para trás de
um muro. De lá, escutou os colegas serem assassinados. Segundo
ele, o mecânico implorou para
não morrer. Mas foi morto.
Na versão dos PMs, defendidos
pelo advogado criminalista Clóvis
Sahione, os jovens morreram durante um confronto. Sahione disse que eles só responderão em juízo se os quatro mortos foram
atingidos por bala perdida ou se
participavam da troca de tiros.
Os policiais teriam ido à favela
checar rumores de que traficantes
queimariam ônibus na Tijuca.
Eles se dividiram em duas equipes, uma com quatro e outra com
12 PMs. No local conhecido como
Verão Vermelho, a equipe menor
encontrou traficantes e houve
confronto, segundo depoimento.
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