São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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INVESTIGAÇÃO

Gabriel, 3, chorava no Playland do shopping Eldorado e morreu 1 dia depois; ninguém viu se ele se machucou no local

Garoto morre após passar mal em brinquedo

DA REPORTAGEM LOCAL

Um garoto de três anos morreu ontem no Hospital das Clínicas de São Paulo, menos de 24 horas depois de passar mal dentro de um brinquedo no shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo.
Na tarde de anteontem, ao ouvir o choro de uma criança, um monitor do parque de diversões Playland, que estava dentro do brinquedo de dois andares, encontrou Gabriel Thomazette, 3, sentado num canto com a mão na cabeça. Ele levou a criança até a mãe, Leila Thomazette, 31, que tomou o menino no colo e, segundo a família e funcionários do local, não achou ferimento no corpo do filho.
Poucos segundos depois, Gabriel desmaiou, e foi então levado para o ambulatório do shopping. Lá, foi constatada a necessidade de atendimento de emergência. Em 15 minutos, o menino foi atendido no pronto-socorro do Hospital das Clínicas, onde deu entrada já em coma. Uma tomografia constatou que Gabriel estava sofrendo uma hemorragia e um edema (inchaço) cerebrais.
Gabriel foi submetido a uma cirurgia no crânio (craniotomia) e permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital até o final da manhã de ontem, quando morreu, às 11h30.

Sem testemunhas
Se houve queda, contusão ou choque do menino com uma das sete crianças que estavam no brinquedo, ninguém viu.
Gabriel estava no Kid Play, um brinquedo formado por dois andares erguidos com uma estrutura de tubos metálicos revestidos de espuma. No andar térreo do brinquedo, há uma piscina de bolinhas e algumas caixas de fibra de vidro com visores de plástico colorido, em parte acolchoadas.
No segundo andar, até onde as crianças chegam por meio de degraus revestidos de espuma, há túneis feitos em material plástico e novos cubos de fibra de vidro.
A estrutura do brinquedo é toda embrulhada por uma tela, e todos os pontos do "Kid Play" são visíveis para quem está de fora.

Laudos
O caso foi registrado no 14º DP (Pinheiros) como "morte suspeita". O delegado José Pereira Lopes Neto diz que investigará a hipótese de Gabriel ter batido a cabeça contra algum objeto. "A mãe dele disse que o menino estava só quando começou a chorar."
Funcionários do shopping e também parentes de Gabriel serão intimados a prestar depoimento nos próximos dias. A polícia aguarda os laudos necroscópico e pericial (do local do incidente) para finalizar as investigações.
O pai de Gabriel, o empresário José Roberto Thomazette, 51, vai esperar o resultado dos exames para decidir se irá ou não processar o shopping. "Não farei nada até que se chegue a uma conclusão de como tudo isso aconteceu. Neste momento, eu não quero acusar ninguém", disse.
O menino era filho único do empresário. "O Gabriel completaria quatro anos no próximo dia 29. Eu faço 52 no dia 30", contou.

Queda ou má-formação
O neuropediatra Abram Topczewski, do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que uma pancada na cabeça, não necessariamente uma fratura, pode provocar hematoma cerebral. Os edemas também decorrem de quedas simples, como "cair da própria altura". "Não dá para sugerir culpa do brinquedo nem eliminar a hipótese de acidente durante a brincadeira", diz.
De acordo com o neurocirurgião do HC Hamilton Matushita, mesmo uma queda em local protegido (acolchoado, por exemplo) pode provocar um trauma em razão da desceleração da cabeça.
Ela afirma que outra hipótese que explicaria o problema seria uma doença de base, ou seja, uma má-formação congênita nos vasos sangüíneos do cérebro, um aneurisma ou um tumor cerebral.
Nessa circunstância, explica o médico, pode ocorrer um sangramento espontâneo, o que leva ao edema cerebral.


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