São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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CANDELÁRIA PAULISTA

Outro morador de rua foi encontrado ferido ontem em São Paulo; polícia não descarta nenhuma hipótese

Morre quarta vítima de ataque no centro

Rogerio Cassimiro/Folha Imagem
A catadora de papel Leni Alves de Souza se prepara para dormir na praça da Sé, na madrugada após a agressão aos moradores de rua


VICTOR RAMOS
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu ontem mais um dos moradores de rua agredidos na madrugada de quinta-feira no centro de São Paulo. Agora, já são quatro os mortos na chacina.
O número de vítimas pode ser ainda maior do que o anunciado anteontem pelas autoridades. Às 12h28 de ontem, um homem não identificado foi levado ao Hospital do Servidor Público Municipal com ferimentos na face e no crânio -quadro semelhante ao das outras seis vítimas, que permanecem internadas em estado grave.
Consciente, mas com dificuldades para falar, ele foi recolhido por uma ambulância da prefeitura na rua Rui Barbosa, na Bela Vista. O hospital informou que ainda não é possível afirmar quando ele foi agredido.
A polícia ouviu ontem dez testemunhas, mas não tem pistas concretas. Existem três linhas de investigação: briga de moradores de rua, ação de grupo organizado e movimento financiado por comerciantes da área. A Associação Comercial de São Paulo classificou essa hipótese de "absurda".
Os delegados do caso já pediram a bancos e à direção do Metrô cópias das fitas de vídeo das câmeras instaladas na região. Os policiais acreditam que as imagens feitas na madrugada de anteontem possam fornecer pistas. Por exemplo: a área da praça da Sé, no meio do caminho entre dois dos locais onde estavam os atacados, é filmada 24 horas por dia.
A secretaria de Segurança Pública do Estado, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou não possuir dados estatísticos específicos sobre ataques contra moradores de rua em São Paulo.
A vítima que morreu ontem à 1h25 estava internada no Hospital do Servidor Público Municipal, que não a identificou. Das três mortes anteriores, duas ocorreram no local da agressão e outra no hospital. Pelo menos três sobreviventes estão em coma.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, telefonou ao governador Geraldo Alckmin para prestar solidariedade e oferecer o auxílio da Polícia Federal. Alckmin disse estar "chocado". "Prender esses criminosos é nossa prioridade máxima no momento."

Estado grave
Um dos internados no Hospital do Servidor Público, com fraturas no crânio e na face, registrou piora no quadro clínico. Corre risco de morte. Os outros feridos também continuam em estado grave, distribuídos em outros dois hospitais da cidade, o de Ermelino Matarazzo e a Santa Casa.
Os corpos só devem ser liberados no início da próxima semana. O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, quer um enterro coletivo, para evitar que sejam sepultados como indigentes.
Sandra Carvalho, diretora da ONG Justiça Global, organização que atua em casos de violação aos direitos humanos em tribunais internacionais, afirmou que já está elaborando uma denúncia para encaminhar à relatoria sobre execuções sumárias da ONU (Organização das Nações Unidas).
"Esse é um caso que evidencia uma violência invisível sofrida por quem está à margem da sociedade e da cidadania", disse.
O cardeal dom Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de São Paulo, que visitou ontem as vítimas do ataque, divulgou nota criticando as autoridades: "O que adianta embelezar em seu aspecto material nossa cidade se uma parcela significativa de sua gente vive o desfiguramento da pior das misérias, indefesa e sujeita a todo tipo de violências?" Ele participará amanhã, às 14h, de um ato ecumênico na Catedral da Sé.


Colaborou FERNANDA MENA, da Reportagem Local


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