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CANDELÁRIA PAULISTA
Outro morador de rua foi encontrado ferido ontem em São Paulo; polícia não descarta nenhuma hipótese
Morre quarta vítima de ataque no centro
Rogerio Cassimiro/Folha Imagem
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A catadora de papel Leni Alves de Souza se prepara para dormir na praça da Sé, na madrugada após a agressão aos moradores de rua |
VICTOR RAMOS
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu ontem mais um dos
moradores de rua agredidos na
madrugada de quinta-feira no
centro de São Paulo. Agora, já são
quatro os mortos na chacina.
O número de vítimas pode ser
ainda maior do que o anunciado
anteontem pelas autoridades. Às
12h28 de ontem, um homem não
identificado foi levado ao Hospital do Servidor Público Municipal
com ferimentos na face e no crânio -quadro semelhante ao das
outras seis vítimas, que permanecem internadas em estado grave.
Consciente, mas com dificuldades para falar, ele foi recolhido
por uma ambulância da prefeitura na rua Rui Barbosa, na Bela
Vista. O hospital informou que
ainda não é possível afirmar
quando ele foi agredido.
A polícia ouviu ontem dez testemunhas, mas não tem pistas concretas. Existem três linhas de investigação: briga de moradores de
rua, ação de grupo organizado e
movimento financiado por comerciantes da área. A Associação
Comercial de São Paulo classificou essa hipótese de "absurda".
Os delegados do caso já pediram a bancos e à direção do Metrô
cópias das fitas de vídeo das câmeras instaladas na região. Os policiais acreditam que as imagens
feitas na madrugada de anteontem possam fornecer pistas. Por
exemplo: a área da praça da Sé, no
meio do caminho entre dois dos
locais onde estavam os atacados, é
filmada 24 horas por dia.
A secretaria de Segurança Pública do Estado, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou
não possuir dados estatísticos específicos sobre ataques contra
moradores de rua em São Paulo.
A vítima que morreu ontem à
1h25 estava internada no Hospital
do Servidor Público Municipal,
que não a identificou. Das três
mortes anteriores, duas ocorreram no local da agressão e outra
no hospital. Pelo menos três sobreviventes estão em coma.
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, telefonou ao governador Geraldo Alckmin para
prestar solidariedade e oferecer o
auxílio da Polícia Federal. Alckmin disse estar "chocado". "Prender esses criminosos é nossa prioridade máxima no momento."
Estado grave
Um dos internados no Hospital
do Servidor Público, com fraturas
no crânio e na face, registrou piora no quadro clínico. Corre risco
de morte. Os outros feridos também continuam em estado grave,
distribuídos em outros dois hospitais da cidade, o de Ermelino
Matarazzo e a Santa Casa.
Os corpos só devem ser liberados no início da próxima semana.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, quer um enterro coletivo, para evitar que sejam sepultados como indigentes.
Sandra Carvalho, diretora da
ONG Justiça Global, organização
que atua em casos de violação aos
direitos humanos em tribunais
internacionais, afirmou que já está elaborando uma denúncia para
encaminhar à relatoria sobre execuções sumárias da ONU (Organização das Nações Unidas).
"Esse é um caso que evidencia
uma violência invisível sofrida
por quem está à margem da sociedade e da cidadania", disse.
O cardeal dom Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de
São Paulo, que visitou ontem as
vítimas do ataque, divulgou nota
criticando as autoridades: "O que
adianta embelezar em seu aspecto
material nossa cidade se uma parcela significativa de sua gente vive
o desfiguramento da pior das misérias, indefesa e sujeita a todo tipo de violências?" Ele participará
amanhã, às 14h, de um ato ecumênico na Catedral da Sé.
Colaborou FERNANDA MENA, da Reportagem Local
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