|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Com medo, mas sem opção, pessoas seguem dormindo na rua
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na madrugada de ontem, a primeira depois do ataque aos moradores de rua, o centro de São Paulo passou uma noite aparentemente normal. Sem ter para onde
ir, a população que vive no local,
no entanto, dizia sentir medo.
Na praça da Sé, a catadora de
papel Leni Alves de Souza, 51, falava sozinha: "Está movimentado
hoje aqui, mas eu não vi nada.
Nem adianta me perguntar, que
eu não vi nada". Três carros da
Polícia Militar tinham acabado de
passar, e Leni se preparava para
dormir perto do carrinho. Ao lado dela, outro catador resmungava e, mais adiante, uma mulher e
dois jovens compravam as últimas doses da noite.
"Eu estou com medo, claro, mas
o que é que eu vou fazer? Não tenho alternativa. Vou dormir aqui
mesmo", diz Leni, que há seis meses dorme na Sé de segunda a sábado para garantir a venda do
material reciclável que recolhe.
Ao ser questionada se já foi ameaçada por alguém, ela responde
"nunca" e corta a conversa.
Ao lado da Sé, na praça Clóvis,
dois canteiros são moradias improvisadas. Uma corda presa entre duas árvores e uma lona pendurada ao meio fazem as vezes de
casa para a família de Sônia da Silva Castro. Com ela, a conversa é a
mesma. Estão todos assustados,
mas não têm para onde ir.
Um albergue não seria uma opção? "Nem pensar. Já vieram me
chamar, e eu não vou. Lá só tem
bêbado, não é nada seguro", responde Sônia. "Amigas minhas já
foram e me contaram."
Os plantonistas da base comunitária da Guarda Civil Metropolitana na praça da Sé afirmaram
que não havia nada de anormal.
Segundo eles, nunca dormem
muitas pessoas na rua e a PM faz
rondas freqüentes.
Ao longo da rota das agressões
no centro, percebem-se nas calçadas pessoas enroladas em cobertores ou sacos. Na região das ruas
Boa Vista e 15 de Novembro, são
pelo menos 19. Um grupo recebe
comida de um serviço social.
Assim como a família de Sônia,
nenhum dos nove moradores que
recebem o jantar quer tirar fotos.
"Eles não costumam resistir tanto, mas estão todos assustados",
diz Luiz Ricardo Acunzo, 38, um
dos que levam a comida.
Acunzo diz que muitos dos que
ficavam na Boa Vista foram dormir juntos no largo São Francisco,
para tentar se proteger de eventuais ataques. De fato, sob a marquise do McDonald's, havia pelo
menos 12 pessoas. Um PM fazia
ronda a pé. No largo, mais sete
pessoas falavam. Enquanto isso,
nas ruas Tabatingüera e da Glória,
as calçadas estavam vazias.
Texto Anterior: Morre quarta vítima de ataque no centro Próximo Texto: Candelária paulista: Estado e prefeitura trocam novas acusações Índice
|