São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2001

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AIDS

Município abre 19 postos para atender usuários de drogas injetáveis; plano de redução de danos chegou ao Brasil há 7 anos

SP lança programa de doação de seringas

CLÁUDIA COLLUCCI
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sete anos depois de lançado oficialmente no Brasil, o programa de distribuição de seringas para dependentes de drogas injetáveis chega à cidade de São Paulo.
A Secretaria Municipal da Saúde anunciou ontem a abertura de 19 unidades nas quais os usuários vão encontrar seringas, preservativos e informações sobre DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e Aids. Vão poder falar com técnicos e receber material -sem o risco de ser identificados ou observados pela polícia.
O uso compartilhado de seringas é responsável por 28% dos cerca de 45 mil casos de Aids da cidade de São Paulo. Se somadas as mulheres contaminadas por companheiros que injetam drogas e as crianças que nasceram infectadas, as seringas são responsáveis por 40% dos casos.
Os números não convenceram as administrações anteriores quanto à necessidade de implantar programas de "redução de danos" -política usada por muitos países desde os anos 80 e que consiste em diminuir o risco de doenças e overdoses em dependentes.
"Trata-se do primeiro passo para recuperar uma década de atraso", disse o médico Fábio Mesquita, 44, coordenador do programa municipal de DST-Aids. Mesquita estava à frente da tentativa abortada pelo Ministério Público de implantação do primeiro programa de troca de seringas no país, em Santos, em 1989. Oficialmente, o primeiro programa foi iniciado em Salvador, em 1995.
Num primeiro momento, a prefeitura espera distribuir 10 mil seringas por mês. Pouco diante dos estimados 150 mil usuários de drogas injetáveis na cidade.
No país todo, o Ministério da Saúde estima em 800 mil os dependentes que injetam drogas. Por enquanto, apenas 34 mil deles são atendidos nos 79 programas em andamento no país.
"De uma só vez, estamos aumentando em cerca de 25% o número de postos de distribuição e entrega de seringas no país", disse Mesquita. Para lidar com esses usuários, a Secretaria da Saúde treinou 700 funcionários.
Em breve, as unidades passarão a trocar seringas, e não apenas doá-las, o que permitirá um melhor controle sobre o seu uso.
Na cerimônia de ontem -que contou com o secretário Eduardo Jorge e as direções de entidades "redutoras" do país e da América Latina- foi anunciada também a contratação de futuros técnicos redutores de danos. Em seis meses, eles deverão sair às ruas, visitando os pontos de usuários.
Até agora, a cidade contava com apenas um programa de redução, o "É de Lei", projeto do Nepaids, núcleo de pesquisa em Aids da Psicologia da USP.
Pelos cálculos da Secretaria da Saúde, o programa terá de custo apenas o treinamento, pois os técnicos são funcionários da saúde. As seringas, as camisinhas e o material informativo vêm do Estado. Em 2002, os agentes que irão às ruas receberão pelo SUS.
Nos 79 programas em andamento no país, o custo por usuário de drogas atendido está estimado em US$ 29 por ano. Os custos de um doente de Aids para o governo está hoje em torno de US$ 2.300 por ano.
"O investimento na redução de danos é baixo e tem um retorno muito grande", diz Denise Gandolfi, da Coordenação Nacional de Aids. "Temos dinheiro para ampliar o número de programas, mas não encontramos organizações interessadas. São Paulo está dando um salto de qualidade."
Apesar dos preconceitos e resistências, os resultados dos programas são animadores. Uma pesquisa feita em Salvador, em 1996, quando o programa de redução estava sendo iniciado, mostrou que 49,5% dos usuários tinham HIV ou Aids. No ano passado, outra pesquisa mostrou que na amostra estudada apenas 7,1% estavam infectados.


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