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AIDS
Município abre 19 postos para atender usuários de drogas injetáveis; plano de redução de danos chegou ao Brasil há 7 anos
SP lança programa de doação de seringas
CLÁUDIA COLLUCCI
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sete anos depois de lançado oficialmente no Brasil, o programa
de distribuição de seringas para
dependentes de drogas injetáveis
chega à cidade de São Paulo.
A Secretaria Municipal da Saúde anunciou ontem a abertura de
19 unidades nas quais os usuários
vão encontrar seringas, preservativos e informações sobre DSTs
(doenças sexualmente transmissíveis) e Aids. Vão poder falar
com técnicos e receber material
-sem o risco de ser identificados
ou observados pela polícia.
O uso compartilhado de seringas é responsável por 28% dos
cerca de 45 mil casos de Aids da
cidade de São Paulo. Se somadas
as mulheres contaminadas por
companheiros que injetam drogas e as crianças que nasceram infectadas, as seringas são responsáveis por 40% dos casos.
Os números não convenceram
as administrações anteriores
quanto à necessidade de implantar programas de "redução de danos" -política usada por muitos
países desde os anos 80 e que consiste em diminuir o risco de doenças e overdoses em dependentes.
"Trata-se do primeiro passo para recuperar uma década de atraso", disse o médico Fábio Mesquita, 44, coordenador do programa
municipal de DST-Aids. Mesquita estava à frente da tentativa
abortada pelo Ministério Público
de implantação do primeiro programa de troca de seringas no
país, em Santos, em 1989. Oficialmente, o primeiro programa foi
iniciado em Salvador, em 1995.
Num primeiro momento, a prefeitura espera distribuir 10 mil seringas por mês. Pouco diante dos
estimados 150 mil usuários de
drogas injetáveis na cidade.
No país todo, o Ministério da
Saúde estima em 800 mil os dependentes que injetam drogas.
Por enquanto, apenas 34 mil deles
são atendidos nos 79 programas
em andamento no país.
"De uma só vez, estamos aumentando em cerca de 25% o número de postos de distribuição e
entrega de seringas no país", disse
Mesquita. Para lidar com esses
usuários, a Secretaria da Saúde
treinou 700 funcionários.
Em breve, as unidades passarão
a trocar seringas, e não apenas
doá-las, o que permitirá um melhor controle sobre o seu uso.
Na cerimônia de ontem -que
contou com o secretário Eduardo
Jorge e as direções de entidades
"redutoras" do país e da América
Latina- foi anunciada também a
contratação de futuros técnicos
redutores de danos. Em seis meses, eles deverão sair às ruas, visitando os pontos de usuários.
Até agora, a cidade contava com
apenas um programa de redução,
o "É de Lei", projeto do Nepaids,
núcleo de pesquisa em Aids da
Psicologia da USP.
Pelos cálculos da Secretaria da
Saúde, o programa terá de custo
apenas o treinamento, pois os técnicos são funcionários da saúde.
As seringas, as camisinhas e o material informativo vêm do Estado.
Em 2002, os agentes que irão às
ruas receberão pelo SUS.
Nos 79 programas em andamento no país, o custo por usuário de drogas atendido está estimado em US$ 29 por ano. Os custos de um doente de Aids para o
governo está hoje em torno de
US$ 2.300 por ano.
"O investimento na redução de
danos é baixo e tem um retorno
muito grande", diz Denise Gandolfi, da Coordenação Nacional
de Aids. "Temos dinheiro para
ampliar o número de programas,
mas não encontramos organizações interessadas. São Paulo está
dando um salto de qualidade."
Apesar dos preconceitos e resistências, os resultados dos programas são animadores. Uma pesquisa feita em Salvador, em 1996,
quando o programa de redução
estava sendo iniciado, mostrou
que 49,5% dos usuários tinham
HIV ou Aids. No ano passado, outra pesquisa mostrou que na
amostra estudada apenas 7,1% estavam infectados.
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