São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2001

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BARBARA GANCIA

Lavar as mãos não é mais uma opção

N ova Zelândia, 1, Brasil, 5, Alemanha, 40, Grã-Bretanha, 100... À medida que a CNN vai apresentando a longa lista das nacionalidades dos presumidos mortos nos ataques, o mundo não pode ter mais dúvidas: a agressão não foi dirigida contra norte-americanos. Fomos todos vítimas da barbárie.
Do prefeito de Teerã, que enviou carta de condolências a Rudolph Giuliani, aos estudantes australianos, que fizeram vigília para rezar pelos mortos, o mundo inteiro se compadece com as vítimas. Todos perderam alguém. Todos sentiram a violência no fígado. Mas, por algum motivo, nós, tapuias, estamos insulados do sofrimento à nossa volta.
Nas noites de terça, conduzo um bate-papo na internet. Nesta semana, a maioria das perguntas feitas pelos internautas dizia respeito à culpa dos norte-americanos nessa história. Chegou a tal ponto que tive de lembrar a platéia de que os EUA foram as vítimas e não os perpetradores da agressão.
Em toda parte se fez um minuto de silêncio. Quantos brasileiros você viu, caro leitor, homenageando os mortos? Por acaso formou-se uma fila de condolências na porta do consulado americano em São Paulo? Alguém se deu ao trabalho de colocar flores em frente à embaixada americana? Ao contrário. Estudantes e representantes do MST só deram as caras para protestar contra uma possível ação militar, que resulte na morte de afegãos inocentes.
Eu gostaria de lembrar esse pessoal que se preocupa com o bem-estar dos afegãos de que guerras ao estilo napoleônico, em que soldados se encontravam no campo de batalha -tendo deixado mulheres e filhos em casa-, estão tão mortinhas quanto a mãe do almirante Nelson.
Aos inocentes que têm assinado petições para tentar convencer o governo americano a não atacar povos indefesos, quero apenas lembrar que, se os EUA não tivessem cedido à opinião pública e encerrado a Guerra do Golfo antes do tempo, neste momento, Saddam Hussein estaria preso ou morto e não teria ajudado os fanáticos que cometeram os atentados contra os EUA.
Ninguém gosta do autoritarismo do Tio Sam. Mas, desta vez, é diferente. E não adianta fingir que não temos nada a ver com isso. Não adianta mais agir como aquele advogado tapuia, que resolveu fazer uma brincadeira descabida na hora do embarque em NY e se esqueceu de que ainda há milhares de corpos, inclusive brasileiros, sob os escombros.

QUALQUER NOTA

Giuliani tapuia
Só no Brasil. Em Alto da Boa Vista, cidade de 2.000 habitantes a 1.100 km de Cuiabá (MT), o prefeito é um homem prevenido. Minutos depois de ver na TV que os Estados Unidos estavam sofrendo um ataque, ele ordenou que a prefeitura fosse prontamente evacuada.

Na maciota
A administração da simpática praça que faz esquina com a al. Ministro Rocha Azevedo e a av. Paulista cobra uma taxa de R$ 2,50 de quem deseja tirar fotos no local. Tomara que a moda não chegue ao Corcovado e às cataratas do Iguaçu.

E-mail - barbara@uol.com.br
Internet: www.uol.com.br/barbaragancia/


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