São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Próximo Texto | Índice

20 PMs são suspeitos de integrar grupo de extermínio

Um policial foi preso ontem; um informante, acusado de sugerir vítimas, está foragido

Grupo "Eu sou a morte" teria sido responsável pela morte de 30 pessoas em Osasco; Corregedoria da PM investiga caso

GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de 30 pessoas foram assassinadas desde meados do ano passado em circunstâncias que apontam a ação de um grupo de extermínio formado por policiais militares em Osasco (Grande São Paulo).
Um PM foi preso ontem e um informante da polícia, acusado de sugerir algumas vítimas e de levantar informações sobre outras, também teve a prisão decretada, mas está foragido.
Cerca de 20 policiais da Força Tática (grupo especializado em confrontos) do 14º e do 42º Batalhões da Polícia Militar -entre soldados, sargentos e um cabo- são investigados pela Corregedoria da PM e pela Polícia Civil sob a suspeita de participar do grupo, que se intitula "Eu sou a morte" e cujos integrantes agem encapuzados.
No primeiro semestre deste ano, período de maior concentração de ações do grupo de extermínio, o número de homicídios dolosos dobrou em Osasco: foram 65 casos, contra 33 no mesmo período de 2006.
A lista das vítimas do grupo de extermínio teria mais de 40 nomes, boa parte com antecedentes criminais, segundo testemunhas que afirmam ter ouvido ameaças dos próprios PMs. O objetivo seria matar supostos criminosos.
Mas pessoas sem passagem pela polícia e moradores mortos por engano também estariam entre as vítimas do grupo.
O soldado da PM Natanael Viana de Freitas e o informante José Ednaldo dos Santos, o Gaguinho, tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias. Eles são suspeitos de participar do assassinato do motoboy Ricardo Pereira de Oliveira, 23, em julho passado.
Freitas foi reconhecido por uma testemunha como um dos dois homens que estavam na moto que abordou Oliveira. O motoboy levou nove tiros.
Ouvido na Corregedoria da PM e na Polícia Civil, antes de ser decretada a sua prisão, Gaguinho confirmou ter passado dados sobre a vítima aos PMs do grupo. Depois disso, não foi mais localizado.
O motoboy, que não tinha antecedentes criminais, foi morto por engano, segundo a investigação. Foi apurado que ele emprestou o carro para um amigo, que passou com o veículo no local onde um PM matou um suposto assaltante. O carro foi fotografado, e o dono do veículo passou a ser procurado pelo grupo, segundo Gaguinho.
Em outro caso, o celular de um PM foi encontrado no local onde três homens foram baleados, mas sobreviveram.

Testemunha-chave
Na memória do celular do informante foram encontrados os telefones de cerca de 40 PMs -os nomes eram antecedidos por abreviaturas das patentes.
Gaguinho citou como participantes do grupo 11 soldados, três sargentos e um cabo. Segundo ele, o grupo se formou para fazer uma "limpeza" na região quando dois soldados tiveram as motos furtadas.
Mas as mortes suspeitas começaram em maio de 2006, na reação policial aos ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Além da morte do motoboy, mais de 20 outros casos na região apresentam indícios de ação de grupo de extermínio.
A Folha reuniu dados sobre as circunstâncias de 11 casos -com 14 mortos e seis feridos. Em todas, as características das ações se assemelham:
1) Os tiros são de pistolas .40 e 9 mm (de uso exclusivo da força policial);
2) os ataques são feitos por homens que cobrem as placas com plástico (esse cuidado não é comum em acerto de contas entre bandidos);
3) testemunhas falam que, em alguns casos, os ataques ocorreram depois da passagem de carros da Força Tática (a suspeita é que os PMs dariam o sinal para os matadores);
4) testemunhas afirmam que policiais chegaram ao local minutos depois do crime e recolheram cápsulas (para impedir o confronto balístico).


Próximo Texto: Barbara Gancia: Tem mosca no sorvete?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.