São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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Celular de PM cai em cena de crime com 3 baleados

Telefone é de policial da Força Tática e foi encontrado na periferia de Osasco

Segundo testemunhas, depois do crime, policiais fardados foram ao local para tentar resgatar o aparelho, mas não tiveram sucesso

DA REPORTAGEM LOCAL

O telefone celular de um policial militar da Força Tática foi encontrado no local onde três pessoas foram baleadas por homens encapuzados, no Jardim Bonança, periferia de Osasco (Grande SP), no mês passado.
Segundo testemunhas, depois do crime, PMs fardados foram ao local dos tiros e montaram uma operação para tentar resgatar o aparelho, mas não tiveram sucesso. Teriam levado outro celular, da mesma marca (Samsung), por engano.
O aparelho encontrado no local do crime pertence ao soldado Fábio Leandro de Santana Saviola, do 42º Batalhão da PM.
O celular trazia fotos dele, de atividades da corporação e até de uma mulher seminua usando a boina da Força Tática. Fotos de prováveis futuras vítimas também foram encontradas -o grupo usaria fotos feitas por celular para identificar seus alvos. A Polícia Civil não localizou nenhum registro de roubo, furto ou extravio do aparelho em nome do PM.

Sobreviventes
Os três homens atingidos pelos tiros sobreviveram. Uma das vítimas recebeu dez disparos de pistola .40, calibre de uso exclusivo da polícia.
Um dos sobreviventes contou à Folha que estava com os amigos quando um carro da Força Tática passou vagarosamente. Três minutos depois, de acordo com ele, dois homens encapuzados chegaram em um automóvel Gol com a placa coberta por um plástico e começaram a atirar.
O telefone celular teria caído durante a confusão. Segundo testemunhas, os homens encapuzados discutiam muito quando deixaram o local. Um deles acusava o outro de "não saber fazer o trabalho direito".
Minutos depois, também segundo testemunhas, PMs da Força Tática chegaram ao local e começaram a revistar a área.
O aparelho do familiar de uma das vítimas teria sido levado pelos PMs por engano. Era da mesma marca do celular do policial da Força Tática.
Outra testemunha também afirmou que os ocupantes do Gol usado no ataque chegaram a conversar com os policiais de um carro da Força Tática minutos antes dos tiros. Um dos sobreviventes reconheceu os policias militares que estavam no carro da PM.
Saviola não foi encontrado ontem pela reportagem. O coronel Paulo José Muniz de Oliveira, comandante do 42º Batalhão, afirmou que o soldado estava de folga ontem e não poderia ser contatado. Saviola, no entanto, retornará hoje ao serviço normalmente, segundo o comandante do batalhão.
O Condepe (Conselho Estadual da Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) pediu ontem ao governo estadual proteção às testemunhas e aos sobreviventes dos ataques e também a prisão imediata de todos os PMs suspeitos.
"Infelizmente, os grupos de extermínio têm se proliferado, especialmente depois de maio de 2006, por causa da impunidade", diz o advogado Ariel de Castro Alves, secretário-geral do Condepe.

Outras cidades
Entre 2002 e 2003, outras duas cidades paulistas, Guarulhos (Grande SP) e Ribeirão Preto (314 km de SP), ficaram marcadas pelas ações de outros grupos de extermínio formados supostamente por policiais.
Em Guarulhos, segundo o Ministério Público, foram 52 assassinatos com características semelhantes, sempre contra jovens da periferia. Em Ribeirão, as vítimas seriam 23.
Nas duas cidades, os crimes seriam encomendados por comerciantes e cometidos por criminosos que usavam toucas "ninja" e estavam em carros com vidros escurecidos ou em motos, exatamente como os casos ocorridos em Osasco.
(GILMAR PENTEADO E ANDRÉ CARAMANTE)


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