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Celular de PM cai em cena de crime com 3 baleados
Telefone é de policial da Força Tática e foi encontrado na periferia de Osasco
Segundo testemunhas, depois do crime, policiais fardados foram ao local para tentar resgatar o aparelho, mas não tiveram sucesso
DA REPORTAGEM LOCAL
O telefone celular de um policial militar da Força Tática foi
encontrado no local onde três
pessoas foram baleadas por homens encapuzados, no Jardim
Bonança, periferia de Osasco
(Grande SP), no mês passado.
Segundo testemunhas, depois do crime, PMs fardados foram ao local dos tiros e montaram uma operação para tentar
resgatar o aparelho, mas não tiveram sucesso. Teriam levado
outro celular, da mesma marca
(Samsung), por engano.
O aparelho encontrado no local do crime pertence ao soldado Fábio Leandro de Santana
Saviola, do 42º Batalhão da PM.
O celular trazia fotos dele, de
atividades da corporação e até
de uma mulher seminua usando a boina da Força Tática. Fotos de prováveis futuras vítimas também foram encontradas -o grupo usaria fotos feitas
por celular para identificar
seus alvos. A Polícia Civil não
localizou nenhum registro de
roubo, furto ou extravio do aparelho em nome do PM.
Sobreviventes
Os três homens atingidos pelos tiros sobreviveram. Uma
das vítimas recebeu dez disparos de pistola .40, calibre de uso
exclusivo da polícia.
Um dos sobreviventes contou à Folha que estava com os
amigos quando um carro da
Força Tática passou vagarosamente. Três minutos depois, de
acordo com ele, dois homens
encapuzados chegaram em um
automóvel Gol com a placa coberta por um plástico e começaram a atirar.
O telefone celular teria caído
durante a confusão. Segundo
testemunhas, os homens encapuzados discutiam muito
quando deixaram o local. Um
deles acusava o outro de "não
saber fazer o trabalho direito".
Minutos depois, também segundo testemunhas, PMs da
Força Tática chegaram ao local
e começaram a revistar a área.
O aparelho do familiar de
uma das vítimas teria sido levado pelos PMs por engano. Era
da mesma marca do celular do
policial da Força Tática.
Outra testemunha também
afirmou que os ocupantes do
Gol usado no ataque chegaram
a conversar com os policiais de
um carro da Força Tática minutos antes dos tiros. Um dos
sobreviventes reconheceu os
policias militares que estavam
no carro da PM.
Saviola não foi encontrado
ontem pela reportagem. O coronel Paulo José Muniz de Oliveira, comandante do 42º Batalhão, afirmou que o soldado estava de folga ontem e não poderia ser contatado. Saviola, no
entanto, retornará hoje ao serviço normalmente, segundo o
comandante do batalhão.
O Condepe (Conselho Estadual da Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana) pediu ontem
ao governo estadual proteção
às testemunhas e aos sobreviventes dos ataques e também a
prisão imediata de todos os
PMs suspeitos.
"Infelizmente, os grupos de
extermínio têm se proliferado,
especialmente depois de maio
de 2006, por causa da impunidade", diz o advogado Ariel de
Castro Alves, secretário-geral
do Condepe.
Outras cidades
Entre 2002 e 2003, outras
duas cidades paulistas, Guarulhos (Grande SP) e Ribeirão
Preto (314 km de SP), ficaram
marcadas pelas ações de outros
grupos de extermínio formados
supostamente por policiais.
Em Guarulhos, segundo o
Ministério Público, foram 52
assassinatos com características semelhantes, sempre contra jovens da periferia. Em Ribeirão, as vítimas seriam 23.
Nas duas cidades, os crimes
seriam encomendados por comerciantes e cometidos por
criminosos que usavam toucas
"ninja" e estavam em carros
com vidros escurecidos ou em
motos, exatamente como os casos ocorridos em Osasco.
(GILMAR PENTEADO E ANDRÉ CARAMANTE)
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