São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manifestação contra intolerância religiosa reúne 50 mil no Rio

Membros de religiões afro-brasileiras reclamam de neopentecostais que pregam contra o candomblé

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Em 2003, a mãe de santo Maria da Graça de Oxum viu seu centro de umbanda ser fechado por decisão judicial, por nove meses, em Rio Grande (RS), mesmo cumprindo as formalidades legais. "Foi intolerância religiosa de um vizinho, que reclamou de barulho. Felizmente, a decisão foi reformada."
A mãe de santo foi uma das 50 mil pessoas que participaram ontem da 2ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa -segundo cálculo dos organizadores-, em Copacabana.
A mais frequente reclamação foi contra religiões neopentecostais -embora os organizadores tenham evitado nominar igrejas específicas-, que pregam em cultos contra a umbanda e o candomblé e cujos pastores, políticos, fazem projetos de lei para cercear essas religiões.
Para o pastor da Assembleia de Deus e deputado estadual do Rio Édino Fonseca (PR), o que os pentecostais fazem "é separar o que é religião de cultura". "Querem ser iguais a morcegos: ratos quando é festa de rato e passarinhos quando é festa de passarinhos, para receber verba estatal. Têm de decidir se são cultura ou religião", disse.
O frei Tatá, franciscano da pastoral Afro, admitiu que a Igreja Católica já foi "intolerante", mas hoje "está aberta ao diálogo". "Entramos no céu pelo amor. Mas há um proselitismo muito forte", reconheceu.
"Um evento como este dá visibilidade às comunidades religiosas de matriz africana e leva o Estado a se posicionar diante de agressões", afirmou o ministro Édson Santos (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), que se disse "laico".
O pastor batista Gildásio Gomes de Jesus, disse que a diversidade na Bahia torna a intolerância menos comum. Na praia, havia representantes de outras denominações evangélicas, como a Igreja Messiânica e a Presbiteriana Unida.
Michel Gherman, do Hillel, grupo de jovens universitários judeus, foi oferecer solidariedade no primeiro dia do Ano Novo judaico. "Também sofremos discriminação étnico-religiosa." Para o presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana no Rio, Mohamed Zeinhom Abdien, "temos de lutar todos juntos contra a intolerância".

Outras manifestações
Milhares de pessoas saíram ontem às ruas do Rio em manifestações por causas diversas. Na zona norte, ao menos 600 protestaram contra a violência. Depois de assistir a uma missa na Vila dos Pinheiros, os manifestantes partiram às 8h para a favela da Maré, passando por outras três comunidades.
Ainda em Copacabana, cerca de 5.000 pessoas, segundo os organizadores, fizeram caminhada pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado hoje. Com faixas e cartazes, elas seguiram pela orla atrás de um trio elétrico.
No início da noite de sábado, parentes e amigos de vítimas da violência saíram às ruas de Ipanema pedindo mais segurança.


Texto Anterior: Rio de Janeiro: Seis corpos são encontrados em morro carioca
Próximo Texto: Colombianos são punidos por lavagem de dinheiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.