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Manifestação contra intolerância religiosa reúne 50 mil no Rio
Membros de religiões afro-brasileiras reclamam de neopentecostais que pregam contra o candomblé
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Em 2003, a mãe de santo Maria da Graça de Oxum viu seu
centro de umbanda ser fechado
por decisão judicial, por nove
meses, em Rio Grande (RS),
mesmo cumprindo as formalidades legais. "Foi intolerância
religiosa de um vizinho, que reclamou de barulho. Felizmente, a decisão foi reformada."
A mãe de santo foi uma das
50 mil pessoas que participaram ontem da 2ª Caminhada
em Defesa da Liberdade Religiosa -segundo cálculo dos organizadores-, em Copacabana.
A mais frequente reclamação
foi contra religiões neopentecostais -embora os organizadores tenham evitado nominar
igrejas específicas-, que pregam em cultos contra a umbanda e o candomblé e cujos pastores, políticos, fazem projetos de
lei para cercear essas religiões.
Para o pastor da Assembleia
de Deus e deputado estadual do
Rio Édino Fonseca (PR), o que
os pentecostais fazem "é separar o que é religião de cultura".
"Querem ser iguais a morcegos:
ratos quando é festa de rato e
passarinhos quando é festa de
passarinhos, para receber verba estatal. Têm de decidir se
são cultura ou religião", disse.
O frei Tatá, franciscano da
pastoral Afro, admitiu que a
Igreja Católica já foi "intolerante", mas hoje "está aberta ao
diálogo". "Entramos no céu pelo amor. Mas há um proselitismo muito forte", reconheceu.
"Um evento como este dá visibilidade às comunidades religiosas de matriz africana e leva
o Estado a se posicionar diante
de agressões", afirmou o ministro Édson Santos (Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), que se
disse "laico".
O pastor batista Gildásio Gomes de Jesus, disse que a diversidade na Bahia torna a intolerância menos comum. Na
praia, havia representantes de
outras denominações evangélicas, como a Igreja Messiânica e
a Presbiteriana Unida.
Michel Gherman, do Hillel,
grupo de jovens universitários
judeus, foi oferecer solidariedade no primeiro dia do Ano
Novo judaico. "Também sofremos discriminação étnico-religiosa." Para o presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana no Rio, Mohamed Zeinhom
Abdien, "temos de lutar todos
juntos contra a intolerância".
Outras manifestações
Milhares de pessoas saíram
ontem às ruas do Rio em manifestações por causas diversas.
Na zona norte, ao menos 600
protestaram contra a violência.
Depois de assistir a uma missa
na Vila dos Pinheiros, os manifestantes partiram às 8h para a
favela da Maré, passando por
outras três comunidades.
Ainda em Copacabana, cerca
de 5.000 pessoas, segundo os
organizadores, fizeram caminhada pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência,
celebrado hoje. Com faixas e
cartazes, elas seguiram pela orla atrás de um trio elétrico.
No início da noite de sábado,
parentes e amigos de vítimas da
violência saíram às ruas de Ipanema pedindo mais segurança.
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