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NO CEARÁ
Para promotor, desembargador e prefeita de Limoeiro do Norte contrataram pistoleiro que atirou em radialista
Autoridades são acusadas de mandar matar
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O desembargador e ex-presidente do TRF (Tribunal Regional
Federal) da 5ª Região José Maria
Lucena e a mulher dele, a prefeita
de Limoeiro do Norte, Arivan Lucena (PTB), foram denunciados
ontem pelo Ministério Público
Estadual do Ceará como mandantes do assassinato do radialista Nicanor Linhares, 42.
Linhares foi assassinado no dia
30 de junho com 11 tiros, no estúdio da rádio Vale do Jaguaribe, da
qual era proprietário, em Limoeiro do Norte (a 200 km de Fortaleza). Ele se preparava para gravar
seu programa diário quando dois
homens fizeram os disparos.
Depois da morte do radialista,
outro crime chocou o município.
Sete pessoas foram mortas a tiros,
em 19 de setembro, supostamente
pelos mesmos pistoleiros que mataram Linhares, como forma de
intimidar as investigações.
A denúncia contra a prefeita e o
desembargador, feita pelo promotor de Limoeiro do Norte, Guilherme Soares, será entregue à
Procuradoria da República e à
Procuradoria Geral do Estado.
Em razão dos cargos que ocupam,
o casal Lucena só pode ser julgado
pelo Superior Tribunal de Justiça.
Oito pessoas foram indiciadas
até agora pelo crime contra o radialista. Cinco estão presas, entre
elas o sargento do Exército Francisco Edésio de Almeida, que comandava o Tiro de Guerra do
município. É acusado de intermediar a contratação dos pistoleiros.
Almeida, que é namorado da secretária da Educação do município, frequentava a residência do
casal Lucena. Verificou-se que
cheques da prefeitura eram depositados na conta pessoal do sargento, sob a alegação de que seriam o resultado de um convênio
com o Tiro de Guerra.
Outro detido é Francisco Lindenor de Jesus Moura Júnior, que,
ao depor, confessou ter disparado
sete tiros contra o radialista. Ele
citou o suposto envolvimento do
desembargador no crime.
Estão foragidos os pistoleiros
José Roberto dos Santos Nogueira, o Chico Orelha, Cássio Santos
de Souza e José Wanderley dos
Santos Nogueira, irmão de Chico
Orelha. Os dois primeiros são
acusados pela chacina.
Segundo Soares, são inúmeros
os indícios da participação de Lucena e Arivan no crime. Pelas investigações, a polícia chegou a detalhes como o preço que teria sido
combinado para o assassinato, R$
15 mil, mais uma pistola 9 milímetros. "Teriam sido pagos apenas
R$ 6.000, o que deixou os pistoleiros bastante irritados e colaborou
para chegarmos aos nomes dos
mandantes", disse o promotor.
O radialista Linhares usava seu
programa para fazer duras críticas a políticos. Entre seus desafetos estavam a prefeita e o desembargador -os ataques eram diários contra os dois.
Outro lado
O desembargador José Maria
Lucena informou ontem, por
meio de um assessor, que só falará
hoje, em Fortaleza, sobre a denúncia do Ministério Público.
A reportagem manteve contato
duas vezes, pelo celular, com a
prefeita Arivan Lucena (PTB), de
Limoeiro do Norte. Nas duas ocasiões, ela disse que só poderia falar mais tarde. A reportagem tentou novos contatos, mas ela não
atendeu mais as ligações.
Em entrevista publicada no dia
9 no jornal "O Povo", de Fortaleza, Lucena acusou a polícia de trabalhar com uma só linha de investigação, para incriminá-lo.
A Agência Folha não teve permissão para falar com o sargento
Francisco Edésio de Almeida.
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