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"Parecia a faixa de Gaza", diz sobrevivente
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
"O morro parecia a faixa de
Gaza", resume o sobrevivente
de uma chacina que antecedeu
a ação de traficantes no morro
dos Macacos.
Do ataque no qual levou quatro tiros -nos braços e na perna direita-, Francisco Halailton Vieira da Silva, 22, não gosta de se lembrar. Mas os pesadelos que afirma ter desde então cumprem este papel.
"Estava escuro [2h30], não
dava para ver as coisas direito.
Só sei que vinha muita gente.
Meu primo [Marcelo] falou para fugirmos a pé. Falei para irmos de carro, era mais rápido.
A gente fez a primeira curva,
mas começaram os tiros. Gritei
que era trabalhador e pai de família, que não podia morrer",
disse o garçom desempregado.
"Saí do carro, puxei o casaco
do Marcelo, mas não consegui
pegá-lo. Os bandidos tiraram
todos do carro e atiraram. Fiquei no chão, de olhos fechados, até que um vizinho me resgatou. Quando vi, estava na casa dele. Foi horrível, horrível!"
Halailton diz ter ficado na
casa, no morro Pau da Bandeira, até as 10h. "Não podia sair
naquele momento, o morro parecia a faixa de Gaza."
Ele teve de fazer uma operação de reconstrução de artérias. Não há previsão de alta.
Halailton voltava de uma festa à fantasia em um colégio público em frente ao morro dos
Macacos. "Meu irmão estava
com muita vontade de comer
cachorro-quente."
Com ele, estavam o irmão
Francisco Ailton Vieira, 25, o
primo Marcelo da Costa Ferreira Gomes, 26, e o amigo Leonardo Fernandes Paulino, 27.
Nenhum dos acompanhantes
sobreviveu. Seus familiares
acreditam que eles foram confundidos com os invasores da
facção rival à do morro.
Ontem, o comandante-geral
da PM, Mário Sérgio Duarte,
pediu desculpas às famílias
porque a polícia disse que os jovens eram traficantes.
Agora, o garçom diz que vai
se mudar. "Prefiro não dizer
para onde. O morro é tranquilo, os moradores são bons, mas
tenho trauma de tudo aquilo."
Seus planos são arranjar emprego, jogar bola com o filho de
um ano e meio ("Pedi para que
ele não viesse. Não quero que
ele me veja assim"), esperar o
outro, que nascerá em seis meses, e ir a uma igreja evangélica.
Qualquer uma. "Deus me ajudou. Sou um sobrevivente.
Quero dar meu testemunho."
(JOÃO PAULO GONDIM)
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