São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Parecia a faixa de Gaza", diz sobrevivente

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

"O morro parecia a faixa de Gaza", resume o sobrevivente de uma chacina que antecedeu a ação de traficantes no morro dos Macacos.
Do ataque no qual levou quatro tiros -nos braços e na perna direita-, Francisco Halailton Vieira da Silva, 22, não gosta de se lembrar. Mas os pesadelos que afirma ter desde então cumprem este papel.
"Estava escuro [2h30], não dava para ver as coisas direito. Só sei que vinha muita gente. Meu primo [Marcelo] falou para fugirmos a pé. Falei para irmos de carro, era mais rápido. A gente fez a primeira curva, mas começaram os tiros. Gritei que era trabalhador e pai de família, que não podia morrer", disse o garçom desempregado.
"Saí do carro, puxei o casaco do Marcelo, mas não consegui pegá-lo. Os bandidos tiraram todos do carro e atiraram. Fiquei no chão, de olhos fechados, até que um vizinho me resgatou. Quando vi, estava na casa dele. Foi horrível, horrível!"
Halailton diz ter ficado na casa, no morro Pau da Bandeira, até as 10h. "Não podia sair naquele momento, o morro parecia a faixa de Gaza."
Ele teve de fazer uma operação de reconstrução de artérias. Não há previsão de alta.
Halailton voltava de uma festa à fantasia em um colégio público em frente ao morro dos Macacos. "Meu irmão estava com muita vontade de comer cachorro-quente."
Com ele, estavam o irmão Francisco Ailton Vieira, 25, o primo Marcelo da Costa Ferreira Gomes, 26, e o amigo Leonardo Fernandes Paulino, 27. Nenhum dos acompanhantes sobreviveu. Seus familiares acreditam que eles foram confundidos com os invasores da facção rival à do morro.
Ontem, o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, pediu desculpas às famílias porque a polícia disse que os jovens eram traficantes.
Agora, o garçom diz que vai se mudar. "Prefiro não dizer para onde. O morro é tranquilo, os moradores são bons, mas tenho trauma de tudo aquilo."
Seus planos são arranjar emprego, jogar bola com o filho de um ano e meio ("Pedi para que ele não viesse. Não quero que ele me veja assim"), esperar o outro, que nascerá em seis meses, e ir a uma igreja evangélica. Qualquer uma. "Deus me ajudou. Sou um sobrevivente. Quero dar meu testemunho."
(JOÃO PAULO GONDIM)


Texto Anterior: Secretário faz críticas ao governo federal
Próximo Texto: PMs alugaram caveirões para tráfico, diz ONG
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.