São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 2005

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24 HORAS NO AR

Atrasos e falta de organização também atrapalharam o evento

Chuva forte na madrugada azeda a Virada Cultural

DA REPORTAGEM LOCAL

A chuva que começou pouco depois da 0h30 e se estendeu pela madrugada esvaziou muitos dos eventos da Virada Cultural, sobretudo os shows no vale do Anhangabaú e a programação na periferia de São Paulo. A maratona, que ocupou 111 pontos da cidade, com mais de 250 shows, cem apresentações de teatro, 30 de dança, 70 sessões de cinema, 60 exposições etc., já tem, no entanto, uma data prevista para a sua próxima edição: maio do ano que vem.
A sugestão foi do prefeito José Serra, que aposta na estiagem típica daquele mês para ajudar a aumentar a participação do público. Serra, que virou a madrugada percorrendo os eventos da Virada Cultural, avaliou como "muito boa" esta primeira edição.
"Estamos aprendendo para planejar melhor nos próximos anos", disse o prefeito por volta das 2h, ao chegar ao Espaço dos Satyros, na praça Roosevelt, onde assistiu a um espetáculo inspirado em "O Mistério das Bolas de Gude", romance inédito do jornalista Gilberto Dimenstein, que também é colunista da Folha.
A Virada se encerrou na tarde de ontem com show de Adriana Calcanhotto para 10 mil pessoas, no Museu do Ipiranga. Segundo a organização, a Central de Operações da Polícia Militar não registrou ocorrências nem as 25 viaturas de socorro médico fizeram atendimentos de emergência. E não foi divulgada uma estimativa total de público por conta da "pulverização da programação".

Aguaceiro
No vale do Anhangabaú, quando o temporal começou, parte do público que acabava de ver o show da banda Mantiqueira buscou refúgio na galeria Olido, lotando o espaço para a empolgada roda do Jongo do Tamandaré. No andar de cima do prédio, muita gente ainda formava fila para assistir aos filmes do Mix Brasil. Ainda chovia quando os shows recomeçaram no vale, com o Clube do Balanço, à 1h30.
Ainda no Anhangabaú, a cantora Elza Soares entrou com meia hora de atraso, às 5h, e teve o melhor público do local. O DJ Cia. teve uma participação importante durante o espetáculo. Em alguns momentos, ele fez solos com a cantora, sem participação dos outros membros da banda.
Ao amanhecer, Elza, que aproveitou o evento para festejar o Dia da Consciência Negra, levantou a platéia com a música "Vai Passar", de Chico Buarque.
Entre os contratempos do evento, na zona norte, a apresentação do Teatro da Vertigem, prevista para as 23h no teatro Alfredo Mesquita, foi cancelada.
Mais cedo, mais de 3.000 pessoas passaram pela Pinacoteca do Estado, que costuma atrair, aos sábados, um público de cerca de 1.700 visitantes. Do lado de fora, o artista Paulo von Poser desenhava o prédio e os curiosos que se aproximavam para ver seu trabalho. Entusiasmado, disse que nunca viu "tanta gente junta".
"A cidade implora por esse tipo de evento, há uma grande demanda. Está na cara que a Virada já pegou", comemorou o artista plástico, comparando o evento à Noite dos Museus que acontece no verão em Berlim.
Ao lado da Pinacoteca, diante de uma Estação da Luz com luzes apagadas, a visita guiada pelas 40 esculturas do parque da Luz ficou às escuras: havia apenas 20 lanternas para cerca de 60 pessoas em cada grupo.
"A idéia é brilhante, mas é um absurdo achar que os grupos seriam tão pequenos depois de tanta propaganda", reclamou a comerciante Léa Lins, uma das sem-lanterna. "Precisava ter uma iluminação especial. Com essa escuridão, não se tem uma idéia da beleza do parque."
Na praça Roosevelt, os dois palcos do Espaço dos Satyros tiveram sessões lotadas. O diretor de teatro Rodolfo García Vázquez disse que, apesar de estar acostumado com "viradas" -como as 78 horas non-stop das Satyrianas, cuja última edição foi em setembro- e com as festas do lugar, que costumam adentrar a madrugada, o perfil do público havia mudado por causa do seu vizinho, o Mercado Mundo Mix. "Está a cara de São Paulo, com toda essa mistura de tribos", disse.
(EDUARDO SIMÕES, GUSTAVO FIORATTI E SILVANA ARANTES)

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