TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

"Sei que minha saúde está em risco. Aqui temos muitos casos de aborto espontâneo, câncer e doenças neurológicas. As pessoas não querem sair porque não pagam para morar, aqui é área federal", sintetiza um morador da Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sobre a situação de 95% dos quase 1.400 habitantes que estão contaminados por substâncias tóxicas.
A Cidade dos Meninos é uma área de 2.000 hectares do governo federal, onde nos anos 50 funcionou uma fábrica do Instituto de Malariologia, que manipulava inseticidas organoclorados para controle dos vetores da malária, febre amarela e doença de Chagas. A fábrica foi desativada em 1965, e toneladas de resíduos químicos, abandonadas.
Estudos apontaram para a concentração de pelo menos 14 tipos de produtos tóxicos.
A contaminação pode provocar doenças do sistema digestivo, hematológico, neurológico, imunológico, abortos espontâneos e até alguns tipos de câncer. Essas substâncias se acumulam principalmente no tecido adiposo (nas gorduras), mas também podem acabar concentradas no cérebro, rins, músculos, tecidos endócrinos e no sangue.
Segundo o epidemiologista Sérgio Koifman, baseado no primeiro resultado clínico de toda a população da área, cerca de 30% dos moradores apresentam níveis muito elevados de DDE, um subproduto do DDT (diclorodifenilcloroetano), poderoso inseticida.


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