UOL


São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Embalagens deverão informar a pena em caso de venda para menores; multa para quem desobedecer pode chegar a R$ 2 mi

Publicidade de cigarro tem nova restrição

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As embalagens de cigarro e derivados de tabaco comercializadas no Brasil deverão trazer, a partir de agora, a mensagem: "Venda proibida a menores de 18 anos [...". Pena: detenção de seis meses a dois anos e multa".
Antes, a legislação apenas determinava que o produto trouxesse a informação de que era destinado "somente para adultos" ou "para maiores de 18 anos".
Também será incluída na embalagem a informação de que o cigarro contém "mais de 4.700 substâncias tóxicas, inclusive a nicotina, que causa dependência física e psíquica".
Essas determinações estão na resolução 14 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), publicada no "Diário Oficial" da União de anteontem. A medida já está valendo, mas as empresas têm 12 meses para se adaptar. Depois desse período, os fabricantes que não cumprirem a regra podem ser multados.
A multa pode variar de R$ 10 mil a R$ 2 milhões, dependendo do tamanho da empresa.
"Percebemos que as frases que estavam sendo usadas nas embalagens não davam resultado. Dizer que a venda é proibida a menores até estimulava o jovem a fumar", disse o gerente de produtos derivados de tabaco da Anvisa, Moyses Diskin.
Os grupos antitabagistas criticam mensagens com a conotação única de que o cigarro é só para adultos, uma vez que isso pode aumentar o "apelo" do produto para o jovem.
Segundo Diskin, a divulgação do número de substâncias tóxicas no cigarro serve para reforçar que não existem níveis seguros de consumo. "Independentemente de fumar um cigarro com pouca ou muita nicotina, o efeito é o mesmo", afirmou Diskin.
Em uma outra resolução, a 15, também publicada anteontem, a Anvisa deixa claro que a publicidade de derivados de tabaco só pode ser feita na parte interna do local de venda e em uma área delimitada e destinada a esse tipo de produto.
Uma padaria, por exemplo, que colocava cartazes de cigarro em qualquer ponto interno do estabelecimento agora só poderá deixar a propaganda no local onde está o produto.
A lei 10.167, de 2000, proíbe a propaganda de cigarro em qualquer forma de divulgação, inclusive internet, e a distribuição de amostra. A única exceção para propaganda são os pontos-de-venda, onde pode haver cartazes.
De acordo com Diskin, alguns estabelecimentos comerciais, como supermercados, começaram a fazer propaganda de cigarro ao lado de chocolates, por exemplo.
"Era uma maneira de vincular o prazer do chocolate na infância ao do cigarro posteriormente. Agora fica delimitado o local."
Além disso, a resolução 15 deixa claro que cigarros não podem ser vendidos pela internet. Por não estar explícito na legislação, algumas empresas usavam a rede para vender o produto. As empresas têm 60 dias para se adequarem à resolução.
A Anvisa estima que no Brasil existam 27 milhões de adultos fumantes. A média de mortes relacionadas ao cigarro é de 200 mil por ano -no mundo, a estimativa é de 4 milhões.
Se a tendência de consumo não for revertida, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, a partir de 2020, a epidemia tabagística causará 10 milhões de mortes por ano, 70% delas em países em desenvolvimento.
A Souza Cruz (empresa da British American Tobacco) e a Philip Morris, que dominam o mercado de cigarros no país, não comentaram as novas resoluções.
A Souza Cruz informou que ainda está analisando as mudanças. "Temos várias dúvidas para serem clarificadas e esclarecidas por este órgão [a Anvisa"", diz a nota distribuída pela assessoria de imprensa da empresa.
O presidente da Federação das Associações de Comércio do Estado de São Paulo, Alencar Burti, diz apoiar a resolução que restringe ainda mais a propaganda do produtos em estabelecimentos.
Burti afirmou, no entanto, que os próprios fumantes são veículo de "propaganda". "O cigarro não precisa mais de publicidade."


Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local


Texto Anterior: Juiz federal dá 2 versões sobre o caso
Próximo Texto: Anvisa propõe parceria contra fumo passivo
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.