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Roseana Sarney e a síndrome de Maria Bonita
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Os Bornhausen em Santa Catarina, os Magalhães na Bahia, os
Cunha Lima na Paraíba, os Sarney no Maranhão -a geografia
do mandonismo político no Brasil
passa por famílias instaladas há
várias gerações no poder. E com
mais sede de poder.
Roseana Sarney (PFL), governadora do Maranhão, um dos Estados mais miseráveis do país, é o
exemplo típico disso. Filha do ex-presidente e hoje senador José
Sarney e irmã de José Sarney Filho, ministro do Meio Ambiente,
ela resolveu marcar presença na
cena política da semana passada.
Foi persuadida pelo senador
Jorge Bornhausen (PFL- SC) a dar
um ar de dádiva dos céus e obra
da santa Roseana ao anúncio do
novo piso salarial dos servidores
do Maranhão (de US$ 100). Ela
teve uma rápida síndrome de Maria Bonita, a mulher de Lampião.
Há algumas semelhanças entre
Roseana Sarney e Maria Bonita:
ambas são mulheres nordestinas,
ambas são bonitas, ambas vivem
cercadas de homens de conduta e
moral duvidosa. A diferença é
que os homens de uma eram bandoleiros do cangaço; já os da outra são políticos do PFL.
O partido de Roseana Sarney é
desses aglomerados de políticos
velhos e meio intragáveis, marcados por uma história de fisiologismo, mandonismo e vícios políticos da pior espécie, quando não
suspeitos ou acusados de crimes e
falcatruas. Só para lembrar: os
ex-deputados Hildebrando Pascoal (PFL-AC) e Talvane Albuquerque (PFL-AL), cassados e
presos por suspeita de assassinatos e outros crimes, viviam até
pouco tempo sob a tutela do partido de Roseana Sarney.
Ainda para lembrar: o prefeito
de Recife, Roberto Magalhães
(PFL-PE), revólver na mão, invadiu a redação de um jornal daquela cidade no ano passado para acertar à bala a honra de sua
mulher, que teria sido "ferida"
por um jornalista. Já o deputado
Inocêncio de Oliveira (PFL-PE),
nascido em Serra Talhada (PE)
-mesma cidade onde, aliás, nasceu Virgulino Ferreira da Silva, o
Lampião, em 1900- não se constrangeu ao permitir que o Dnocs
(Departamento Nacional de
Obras Contra as Secas) instalasse
poços, a preços subsidiados, em
suas fazendas de Serra Talhada,
enquanto milhares de flagelados
morriam de fome e sede do lado
de fora de suas cercas.
O PFL de Roseana Sarney é isso
-esses coronéis dispostos a usar
a beleza e a candura dela para
dar ao partido uma outra face.
Roseana, na sua síndrome de
Maria Bonita, criou um factóide
(uma deturpação de fato) com o
anúncio do mínimo de US$ 100
para seus funcionários públicos.
Ficou parecendo que era ela a inventora do valor. Mas vários outros Estados já pagam mínimo
maior do que isso aos servidores.
Ficou parecendo também que
Roseana Sarney ia, com essa cartada, resolver os problemas não
só dos maranhenses como de todo
trabalhador brasileiro. Balela,
enganação típica do populismo
retrógrado do PFL. Quem viaja
pelo interior do Maranhão, onde
um professor da roça ganha R$ 50
por mês, vê as hordas de miseráveis que o clã dos Sarney governa
há décadas.
A diferença entre Roseana Sarney e Maria Bonita é que esta última virou mito por militar num
movimento que servia como único instrumento de justiça social e
alternativa de ascensão social para os sertanejos. O PFL de Roseana não serve para nada.
E-mail mfelinto@uol.com.br
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