São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2000


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Roseana Sarney e a síndrome de Maria Bonita

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Os Bornhausen em Santa Catarina, os Magalhães na Bahia, os Cunha Lima na Paraíba, os Sarney no Maranhão -a geografia do mandonismo político no Brasil passa por famílias instaladas há várias gerações no poder. E com mais sede de poder.
Roseana Sarney (PFL), governadora do Maranhão, um dos Estados mais miseráveis do país, é o exemplo típico disso. Filha do ex-presidente e hoje senador José Sarney e irmã de José Sarney Filho, ministro do Meio Ambiente, ela resolveu marcar presença na cena política da semana passada.
Foi persuadida pelo senador Jorge Bornhausen (PFL- SC) a dar um ar de dádiva dos céus e obra da santa Roseana ao anúncio do novo piso salarial dos servidores do Maranhão (de US$ 100). Ela teve uma rápida síndrome de Maria Bonita, a mulher de Lampião.
Há algumas semelhanças entre Roseana Sarney e Maria Bonita: ambas são mulheres nordestinas, ambas são bonitas, ambas vivem cercadas de homens de conduta e moral duvidosa. A diferença é que os homens de uma eram bandoleiros do cangaço; já os da outra são políticos do PFL.
O partido de Roseana Sarney é desses aglomerados de políticos velhos e meio intragáveis, marcados por uma história de fisiologismo, mandonismo e vícios políticos da pior espécie, quando não suspeitos ou acusados de crimes e falcatruas. Só para lembrar: os ex-deputados Hildebrando Pascoal (PFL-AC) e Talvane Albuquerque (PFL-AL), cassados e presos por suspeita de assassinatos e outros crimes, viviam até pouco tempo sob a tutela do partido de Roseana Sarney.
Ainda para lembrar: o prefeito de Recife, Roberto Magalhães (PFL-PE), revólver na mão, invadiu a redação de um jornal daquela cidade no ano passado para acertar à bala a honra de sua mulher, que teria sido "ferida" por um jornalista. Já o deputado Inocêncio de Oliveira (PFL-PE), nascido em Serra Talhada (PE) -mesma cidade onde, aliás, nasceu Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em 1900- não se constrangeu ao permitir que o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) instalasse poços, a preços subsidiados, em suas fazendas de Serra Talhada, enquanto milhares de flagelados morriam de fome e sede do lado de fora de suas cercas.
O PFL de Roseana Sarney é isso -esses coronéis dispostos a usar a beleza e a candura dela para dar ao partido uma outra face.
Roseana, na sua síndrome de Maria Bonita, criou um factóide (uma deturpação de fato) com o anúncio do mínimo de US$ 100 para seus funcionários públicos. Ficou parecendo que era ela a inventora do valor. Mas vários outros Estados já pagam mínimo maior do que isso aos servidores.
Ficou parecendo também que Roseana Sarney ia, com essa cartada, resolver os problemas não só dos maranhenses como de todo trabalhador brasileiro. Balela, enganação típica do populismo retrógrado do PFL. Quem viaja pelo interior do Maranhão, onde um professor da roça ganha R$ 50 por mês, vê as hordas de miseráveis que o clã dos Sarney governa há décadas.
A diferença entre Roseana Sarney e Maria Bonita é que esta última virou mito por militar num movimento que servia como único instrumento de justiça social e alternativa de ascensão social para os sertanejos. O PFL de Roseana não serve para nada.


E-mail mfelinto@uol.com.br



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